LOCALIZAÇÃO DE LEITORES


web site estatísticas

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

"POR FAVOR: DR. JAIR."

.
Há dois anos escrevemos um texto sobre este tema que contém dez páginas. Obviamente que por este motivo não poderíamos lê-lo como Editorial. Então, resolvemos fazer uma síntese da idéia principal e encerrar o ano de 2006 com mais uma proposta para reflexão sobre os nossos costumes. Não pretendemos impor o que pensamos, até porque quando o ouvinte nota que alguém quer impor alguma coisa ele simplesmente desliga o rádio. Estamos propondo, e como toda proposta as pessoas aceitam ou recusam. Dizem sim ou não. Pretendemos levantar a cabeça do ouvinte para que possa olhar por cima do cotidiano.
.
Fazemos isso porque adquirimos o hábito salutar de tratar aquilo que é banal, comum, cotidiano, como algo que sempre necessita ser questionado. Fazer isso é exercer, também, a tarefa da Filosofia. Este tema surgiu de questionamentos de alunos sobre informações repassadas por nós em sala de aula, quando falávamos da necessidade constante que temos de atualização ininterrupta de nossos conhecimentos. Aquilo que se chama de formação continuada.
.
Todo ser humano, todo profissional deve conhecer novas técnicas, novas tecnologias, novas teorias sobre a sua maneira de ver as coisas e sobre sua área de atividade profissional. Este contato constante com novos conhecimentos nos faz ter a consciência de um mundo que se modifica rapidamente e que precisamos nos esforçar para não ficarmos presos somente àquilo que já sabemos. E nos faz perceber também que a maneira como exercemos as nossas atividades pode ser constantemente melhorada, pode evoluir, rompendo assim com uma possível arrogância que as vezes tenta nos dominar quando dizemos que já sabemos de tudo, que não precisamos aprender mais nada.
.
Dito o fundamento do texto, vamos agora ao tema propriamente. Dizíamos em sala de aula que nos informar e nos formar num curso superior é fundamental para uma preparação profissional. Mas que em nossos dias ter um curso universitário já não satisfaz as exigências das atividades profissionais como antes. Temos que investir em cursos de pós-graduação, tais como: especialização, mestrado, doutorado, pós-doutorado. Essa busca constante de conhecimento é o que nos traz credibilidade e segurança como ser humano e como profissional.
.
Esses cursos de pós-graduação foram normatizados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB – 9.394/96.) onde fica bem claro que a esses cursos terão acesso “candidatos diplomados em cursos de graduação”. Portanto, só faz pós-graduação quem já fez um curso universitário. Essas pós-graduações têm um tempo mínimo e máximo de duração que em média assim se distribui: especialização – 1 ano; mestrado – 2 anos; doutorado – 4 anos.
.
Um aluno nos provocou: “Professor quer dizer, então, que nossa cidade não está cheia de doutores?”. Respondi que não. E ele prosseguiu: “Mas onde a gente passa tem placas anunciando serviços prestados por Dr. ou Dra. Fulano(a) de tal”. Respondi que de acordo com a LDB não está correto. “Nesse caso basta ser graduado para ostentar o título de Dr.?”, completou o aluno.
.
Esse costume de querer ser Dr. sem ter feito um doutorado, segundo alguns estudiosos, faz parte de uma tradição bastante difundida. Dois aspectos justificam essa prática, basicamente. Um diz respeito às pessoas que desejam ser respeitadas e reverenciadas pelos outros, seja social ou profissionalmente. O outro aspecto diz respeito àquelas pessoas que são excluídas social, econômica e culturalmente e que de forma inconsciente tratam os ditos “doutores” para atender a uma exigência, reconhecendo a “superioridade” deles. É um dos marcos da consciência servil. Aquela consciência de que todo mundo bem vestido é “Doutor”.
.
Duas Resoluções, uma do COFEN – 256/2001 e outra do CREFITO-2 de 1992 pretendem marcar a diferença entre os profissionais desses conselhos e seus clientes. E isto não é feito pela qualificação do conhecimento profissional, mas pela exigência de se tratar o profissional como Dr. No caso dos advogados e médicos a tradição vem da época do Império. E pela tradição todo mundo quer ser Dr.
.
Não estamos afirmando que em Floriano não existam Doutores. É claro que sim. Uns três ou quatro. Esses fizeram doutoramento e curiosamente não exigem ser tratados pelo título. Mas quem não tem o título de Dr. exige ser tratado pelo que formalmente não o é. Isto gera uma confusão tremenda. Florianenses natos e doutores, pessoalmente, só conheço dois e não moram aqui. Os doutores que vivem em Floriano são de outras cidades, mas trabalham aqui.
.
Não estamos afirmando também que as pessoas devem deixar de exigir o tratamento de Dr. Aqueles que fazem questão devem fazer isso para poder adquirir prestígio, respeito e satisfação pessoal e profissional em virtude da importância do título formal de Dr. Não temos nada contra. Apenas, singelamente, abordamos um tema que pelo costume e tradição faz parte do nosso submerso modo de pensar.
.
Quanto a nós, aqueles que desejam ser tratados pelo título de Dr. não se incomodem de responder a uma pergunta que sempre faço: Qual a área de pesquisa que você desenvolveu o seu doutorado? Graduado por graduado todos devem, então, ser tratados por Dr. Assim, como professor licenciado, reivindico o direito de ser tratado também por Dr. JAIR. Alguns podem argumentar que são coisas diferentes. Mas qual a diferença? Ou então, vamos fazer a coisa certa. Doutor é quem fez doutorado. Tradições e costumes sempre são modificados, assim a sociedade evolui, se desenvolve, melhora.
.
  • .
    Texto escrito em: 28.12.2006. Produzido originalmente para ser lido como Editorial no Programa BOM DIA FLORIANO na Rádio Princesa FM, (Sábado: 30.12.2006. de 05:00h às 07:00h). Programa apresentado pelo radialista RIBAMAR DOS SANTOS.
    .
Como havia prometido o texto acima é só uma síntese da idéia principal abordada num texto de dez páginas. Mas por este resumo dá para se ter uma idéia do que queria dizer na postagem aqui do Blog sobre candidatos a vereador que se apresentam como doutores. É isso.
.

Nenhum comentário: