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sábado, 2 de maio de 2009

A QUEM INTERESSA QUE A VIDA SEJA ASSIM? - II.

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Cena do filme "Vida Maria".
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Um filme brasileiro de animação gráfica chamado “Vida Maria” (2006, pouco mais de 9 minutos de duração) realizado pelo cineasta cearense MÁRCIO RAMOS (veja uma pequena mostra em: http://www.youtube.com/user/marcioramose), mostra de forma brilhante, inteligente a vida de uma típica família do agreste nordestino.
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A meu ver, o filme retrata a repetição (não de uma mesma vida), geração após geração, das condições e determinações sociais, políticas, econômicas e culturais da vida de uma família. A história começa mostrando uma criança chamada MARIA, que é como se chamam todas as mulheres da família das gerações passadas até a atual (pois só se modificam porque são compostos: de LOURDES, JOSÉ...), de joelhos em cima de um banco de madeira encostado na parede que dá acesso a uma janela.
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A criança tenta sozinha, através de imitação, escrever seu nome, quando a mãe indignada, pois já havia chamado por ela lá do terreiro da casa, puxa toscamente o seu braço e diz pra ela parar de desenhar o nome e procurar o quê fazer ajudando-a nas atividades domésticas reservadas às mulheres da casa.
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A menina sai e vai fazer as tarefas. O filme sintetiza a rotina de gerações entremeando as mudanças biológicas e fisiológicas que ocorrem na menina até que ela aparece no lugar da mãe tomando o seu lugar na sucessão cíclica. Ela gera muitos filhos e a última cria é uma menina que dará garantia a continuidade da vida maria.
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Na cena final, que é uma forma de continuidade da primeira, dá a idéia da eterna repetição da vida maria. A mãe, depois de interromper a tentativa da filha de escrever o nome, diz: “Fica aí parada, fazendo nada, desenhando nome”. Depois a câmera mostra a mãe da garotinha se dirigindo ao velório de sua mãe. Aí temos a noção que uma geração se foi, mas que a próxima já teve continuidade garantida.
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O filme termina mostrando o mesmo velho caderno em cima da janela com o vento revirando as suas páginas e mostrando todas as tentativas anteriores de todas as marias da família de “desenhar” os seus nomes.
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O lugar em que a família vive é isolado e miserável, como aquelas clássicas cenas de nordestinos famintos mostradas em rede nacional de TV. A casa sem nenhum recurso, vivem exclusivamente da roça e de criar alguns poucos animais. É, enfim, o retrato da miséria a que estão submetidos milhões de interioranos nordestinos.
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Vivem ciclicamente a vida, mas não é esta a idéia de NIETZCHE. Ele propôs que imaginássemos isso individualmente, e se a pessoa constatar que não gostaria que a sua vida se repetisse indefinidamente da mesma maneira poderia agir conscientemente para modificá-la, e passar a agir de tal forma que desejasse a sua repetição indefinida. Para uns, se uma voz lhe dissesse isso (o Eterno Retorno) ela seria um demônio lhe falando, mas para outros seria um deus. Depende da vida de cada um e como a avalia.
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No caso da “Vida Maria” a completa alienação submerge qualquer possibilidade de análise crítica da situação em que estão inseridos. É como se tivessem arrancado deles uma das dimensões essenciais do ser humano, a sua capacidade de avaliar.
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As necessidades não cessam nunca para o ser humano. Quando ele sente, ou torna-se consciente de suas necessidades, é impulsionado a agir. Antes de agir, porém, faz opções (por uma ou outra coisa). Sem essa possibilidade de escolher ele não é livre. Se não é livre agirá sempre a partir dos mesmos condicionantes e determinantes. Vira um escravo da situação.
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