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Ontem, 16/01/2009., quando ia à cidade de Picos para mais um dia de trabalho, por volta das cinco e quinze da manhã eu já saia do perímetro urbano da cidade de Nazaré do Piauí. Percorri uns dois quilômetros e me deparei com uma cena que jamais tinha visto. Viajava com luz alta e comecei a perceber alguma coisa estranha no meu lado da pista. Quando me aproximei o suficiente para perceber realmente do que se tratava, me surpreendi.
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Uma mulher sentada de frente para o carro. Com as mãos postadas no chão me olhava com um olhar desafiador. Um olhar mais que desafiador. Um olhar suplicante.
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Diminuí a velocidade e desviei para a esquerda. Acelerei quando a ultrapassava. Não quis saber qual seria a sua reação ao ter desviado o carro e seguido sem ter acontecido nada.
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Olhei pelo retrovisor e ela permaneceu imóvel. Não parei porque não sei qual era a sua intenção. Se era doida. Depressiva. Bêbada. Ladra.
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Poderia ter ficado lá. Mas tinha um compromisso com hora marcada com os alunos no período das férias. Poderia tê-la retirado de lá. Mas as várias experiências que envolvem fatos nas estradas geram um ceticismo desalentador e pertubador.
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Certa vez voltava de Aracaju, SE, com meu irmão, sua esposa e filhos. Quando já chegávamos a Paulo Afonso, BA, um caminhão passou por nós, em sentido contrário, em alta velocidade. Naquele momento uma pedra veio em direção ao parabrisa (mas como todos os vidros estavam fechados a pedra bateu e resvalou para cima do carro) e o quebrou.
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A minha reação imediata foi parar. Meu irmão gritou para eu continuar na mesma velocidade. Com toda a dificuldade, pelo parabrisa quebrado, continuei. Uns dez quilômetros depois, paramos. Ele me contou que naquela região era muito comum ladrões jogarem pedras nos carros e aproveitarem o susto e o gesto automático dos motoristas de pararem, para assaltarem os mesmos.
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Esta e mais outras tantas situações geram um ceticismo exagerado e egoísta. Não parei. Não tive coragem de procurar saber qual(is) motivo(s) a teriam levado a tomar aquela atitude. Mas fiz um gesto que pelo menos alertou os motoristas que vinham em sentido contrário a tomarem cuidado com o trajeto. Pisquei as luzes e fiz gestos manuais. Os motoristas agradeciam e seguiam.
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Não sei no que resultou a atitude de extrema loucura daquela mulher. Quando voltei à tarde não encontrei nenhum indício de que algo trágico tivesse acontecido. Parei e perguntei a um passante próximo ao local se ele teria ouvido falar de algum "acidente". Ele disse que não era de seu conhecimento tal fato. Voltei mais tranquilo. Mais leve.
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Mas o que restou daquele episódio foi a interrogação: o que teria levado aquela mulher a tomar tal atitude? Talvez eu nunca venha a saber. Mas que construí várias possibilidades, isso eu fiz.
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Ainda bem que essa foi minha despedida dessas viagens a Picos. Nesse quase um ano de viagens não houve um mês que eu não tivesse visto um acidente. De várias formas e consequências, mas acidentes.
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Vou ficar mais tranquilo trabalhando no campus de Floriano do IFET.
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Um comentário:
Meu Caro Irmão,
Às vezes nos deparamos com cenários de decisões iminentes. Pode ter certeza que a sua experiência foi mais um em nossas vidas. Às vezes queremos ajudar. Às vezes somos pegos de surpresa. Nos tornamos vítimas da ajuda.
Nas estradas por onde passamos temos que estar atentos à todas às paisagens sejam móveis ou imóveis.
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