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Não sou estudioso nem muito menos leitor interessado pela questão que envolve judeus e palestinos. Mas o óbvio qualquer um é capaz de ver: há crime de guerra em Gaza. Quem está acompanhando pode notar a desproporção de forças nesta dita "guerra". No meu entendimento um genocídio. Talvez os alemães estejam calados até agora para apreciar a imagem de aniquiladores que será emplacada aos judeus.
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Não tenho paixão por nenhum dos dois povos. Não sou partidário de fundamentalistas religiosos. Não tenho simpatia por imbecis que se extinguem em nome de uma ficção (na versão mais evidente). É claro que vou não abordar os motivos econômicos, geopolíticos, culturais que permeiam essa burrice toda. Mas posso dizer que é o meio mais primitivo de controle de natalidade. Religião só serve para duas coisas: para entorpercer e para gerar violência.
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Então, o que fiz para ajudar àqueles que desejam ter uma visão sobre as atitudes da imprensa escrita e os jornais televisivos? Recebi um artigo do Filósofo PAULO GHIRALDELLI JR. e resolvi dispor a todos os interessados. Àqueles que gostam de lê.
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GAZA OU "PEQUENO ENSAIO SOBRE A BURRICE E SOBRE A INTELIGÊNCIA".
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14/01/2009.
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O que é um homem estúpido? O que é ser um perfeito burro? O que é ser uma pessoa inteligente? O que é ser alguém verdadeiramente perspicaz? Perguntas como essas ainda são as que mais entusiasmam os psicólogos, filósofos e historiadores americanos inteligentes. Uma vez bem respondidas, são as que fazem as companhias inteligentes de produção de marketing – comercial ou político – faturar seus milhões. Confundir um público estúpido com um público inteligente é um erro imperdoável – uma estupidez cujo preço é alto.
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Na maioria das pesquisas sobre a estupidez e a inteligência, independentemente das sofisticações acadêmicas, o resultado popular aplicável ainda se mantém o mesmo dos anos cinqüenta. Foi quando a nova noção de inteligência, vinda do Movimento da Escola Nova, ultrapassou as fronteiras dos Estados Unidos e as fronteiras das estantes acadêmicas para se integrar na vida comum. Foi quando uma outra semântica a respeito do assunto entrou em jogo a ponto de dirigir o vocabulário dos jornais. Pois só no pós-guerra é que realmente a noção de inteligência, que no começo do século John Dewey havia aliado à capacidade de formular hipóteses e equacionar e resolver problemas, passou a ser assim vista nos meios de comunicação de massa.
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As décadas de 1960 e 1970 foram períodos de dura luta entre a noção de inteligência, montada a partir dessa nova ótica, e a noção de inteligência tradicional baseada na erudição (vazia) e na capacidade de memorização e coisas do gênero. Os programas de “Quiz”, que se tornaram populares na TV americana (aliás, eis um filme ótimo sobre o assunto: Quiz Show, 1994, dirigido por Robert Redeford), e que atingiram o Brasil dado a evolução precoce da TV entre nós, eram uma maneira nova de fazer a apologia do velho. Eles perderam o interesse bem depois, é claro, uma vez que a noção tradicional de inteligência venceu a guerra semântica.
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Um homem burro, estúpido, hoje em dia, às vezes é até mesmo associado à grande memória. Em um prazo de meio século houve uma quase inversão da semântica. Qualquer um hoje sabe que uma memória gigantesca pode ser sinônima de estupidez. Cada vez mais as pessoas qualificam o burro como o que fixa coisas, e o inteligente como o que muda coisas e que é capaz de se locomover em situações novas, isso quando não é ele que ajuda na criação do novo.
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Inteligência tem a ver com mudança, rapidez, capacidade de pensar diferente do estabelecido, habilidade de levantar novas hipóteses para velhos problemas e de equacionar novos problemas segundo novas perspectivas. O burro cumpre sua função literal: empaca. O inteligente se movimenta.
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Quando aplicamos essa semântica aos que se posicionam na grande imprensa ou na pequena imprensa, no meio virtual ou não, na TV ou no rádio, nas cátedras universitárias ou nas classes do ensino fundamental, sobre o assunto “Gaza”, fica fácil perceber um dos problemas mais graves da leitura das informações. Mudamos a noção de inteligência, mas nem por isso há mais inteligência para ler as coisas. Pois a maior parte das interpretações que vemos é burra, ou seja, quer a todo custo não enfrentar o que vê segundo olhos novos que a nova situação exige. O que se quer fazer é a estupidez: fixa-se algo na cabeça, por uma exacerbação da memória (que é confortável), e há a recusa de enfrentar os problemas segundo novas óticas.
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Um dos problemas de burrice que mais assusta é o fato de vários lerem o que ocorre hoje em Gaza segundo a ótica fixada pela Guerra Fria. Ou seja, antes a geopolítica que a ideologia é que determinava o que era ser de esquerda e o que era ser de direita. As ideologias foram dispensadas, embora muito se falasse delas, e o alinhamento geopolítico passou a contar de fato. Nesse caso, Israel aliou-se ao Ocidente e, em especial, aos Estados Unidos. Israel nasceu de líderes socialistas, mas não comunistas, mas isso foi dispensado pela geopolítica e pela mentalidade gerada na Guerra Fria. Os palestinos não tinham nenhuma simpatia pelo comunismo, ao contrário, eram adeptos de sistemas de vida arcaicos, mais próximos do regime feudal que do capitalismo ou do socialismo. No entanto, na geopolítica, caíram para o lado de Moscou. Não tendo o que fazer diante de gigantes, acabaram cedendo. A maior parte da esquerda e da direita oficial nos países ocidentais, que também seguia a geopolítica, assim tomou as coisas.
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Tudo isso acabou. Mas o burro é o que não muda. O estúpido é o que quer ver o mundo como apenas repetindo a história. A concepção da história como roda, onde nada ocorre, tudo se repete, é a concepção da história típica do estúpido.
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Acabou a URSS e o comunismo defendido por aquele império desapareceu. Por sua vez, desde os anos 70 os Estados Unidos estão se transformando, tentando com idas e vindas ampliar e aprofundar sua democracia. Uma tarefa dura: Lindon Johnson foi o homem que mais fez pela criança pobre e negra nos Estados Unidos, ao mesmo tempo foi no governo dele que mais bombas foram jogadas, indiscriminadamente, no Vietnã. Isso é só um exemplo do drama da Nova Roma.
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Os Estados Unidos possuem uma democracia velha, sólida, mas que tem dificuldades imensas em se reconhecer como centro do Império, como uma Nova Roma que precisa antes cuidar bem das províncias que tratar todas, sem clareza, como amantes dos bárbaros. Muitas vezes os Estados Unidos querem levar a democracia à força para lugares em que ela só vingaria por outros métodos. Afinal, é uma atitude pouco interessante levar a democracia à força para algum lugar! O Paradoxo Figueiredo (“prendo e arrebento quem for contra a democracia que vamos instaurar”) nunca foi algo a ser aconselhado. Mas foi obedecido tanto por Democratas quanto por Republicanos, em várias ocasiões; e parece agora que Hilary Clinton quer mudar isso. Tomara que consiga. Mas, enfim, o fato é que os Estados Unidos que aí estão não são mais os Estados Unidos que apóiam qualquer regime contra a URSS, pois esta não existe mais. E ser de esquerda, nos Estados Unidos, já não é mais pecado. Os Clinton, por exemplo, puderam se declarar “de esquerda”, já velhos, como de fato foram na juventude. A idéia de esquerda e direita, onde ela ainda vinga, está mudando.
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A esquerda e a direita, hoje, não podem mais ser tomadas a partir da geopolítica. Mas os estúpidos, os que não conseguem mudar, ainda olham para palestinos e israelenses como quem olha para aliados do que seria a esquerda e aliados do que seria a direita. E assim fazendo, se posicionam e saem às ruas para manifestações pró um lado ou pró outro.
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Os mais envergonhados saem pedindo a paz. Uns poucos possuem de fato planos para a paz. Outros são burros, que não pedem de fato a paz, pedem apenas o cessar fogo. Ora, como aplicar o “cessar fogo” quando os dois lados já estão nas trincheiras? Uma guerra se evita não deixando que os soldados se encaminhem para o conflito. Um cessar fogo só se aplica quando o conflito corpo-a-corpo, como o que ocorre no momento em que escrevo, ainda não ocorreu. No momento em que escrevo o cessar fogo é um grito inócuo, as coisas já não tem mais volta. Tudo que há de esperança para o Hamas se divide em dois tópicos: 1) eles terão algum lucro se tiverem algum líder vivo capaz de retomar o controle do grupo após as próximas horas; 2) e para tal devem torcer para que o dinheiro gasto na guerra, pelos israelenses, comece a pesar no bolso judeu – para quem, de fato, as coisas no bolso fazem diferença –, e comece também a dar indicações que as eleições podem não dar certo para os partidos situacionistas, como no primeiro momento poderia parecer. Fora disso, o Hamas será dizimado. E uma parte da população palestina, inocente ou não, irá junto. Os palestinos a favor ou contra o Hamas ampliarão seu ódio aos isralenses. Os israelenses que quiserem ajudar o povo palestino, após a guerra, irão ser tomados como traidores. Mas uma boa parte dos israelenses estão decididos a darem combate “definitivo” a qualquer grupo que os atacarem. E já faz algum tempo que Israel não obedece nenhum comando dos Estados Unidos. Não são os Estados Unidos que são aliados de Israel, os Estados Unidos se tornaram refém de Israel. E há uma nítida vontade de Israel que Obama já tome posse nessa condição de refém.
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Analisar a guerra fora dos parâmetros do quanto é gasto ali por dia e não prestar a atenção sobre como que poderia ou não ser feita a intervenção contra o Hamas sem matar crianças, é ser estúpido. É não querer pensar. Ao mesmo tempo, não lembrar que o Hamas é, sim, um grupo terrorista e totalitário (portanto, sem nenhuma conotação socialista que valha a pena enaltecer), e que está longe de Arafat, é se manter avesso ao uso da inteligência. Analisar a guerra fora da consideração dos parâmetros eleitoreiros de Israel, e do quanto o governo israelita está tentando trazer para o conflito os Estados Unidos (a partir de Clinton, os Estados Unidos haviam deixado de dar prioridade à sobrevivência de Israel) também é uma atitude de fixação do raciocínio, de não querer pensar com parâmetros mudancistas. Novamente é o empacar do raciocínio. E quem empaca é o burro. É a função dele: empacar.
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Espero que no próximo conflito (conseguiremos ser inteligentes mesmos, e evita-lo?) as pessoas parem de se posicionar automaticamente de um lado ou de outro, uns gritando por ditadores e outros gritando por democratas militarizados.
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Quando Bin Laden atacou os Estados Unidos, no meio daquela confusão toda, com mortes horríveis, o Diretório Estudantil da Unesp de Marília, e vários outros diretórios estudantis daquela Universidade, junto com professores de ciências sociais e filosofia, deram festas. Eu vi e fiquei pasmo! Inclusive houve participação dos professores por meio de seus sindicatos. As pessoas bebiam e comemoraram (com o nosso dinheiro, o do contribuinte) o ato de Bin Laden. Essas mesmas pessoas, no outro dia, estavam em sala de aula, acreditando que eram educadores e educandos. É esse tipo de coisa que é a burrice. Os garotos e os professores se achavam “de esquerda” fazendo isso. Por causa da incapacidade de usar a inteligência, de ver o novo e pensar diferente, ficaram estúpidos, e com isso, cruéis. Você não precisa ser burro.
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Paulo Ghiraldelli Jr.
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14/01/2009.
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O que é um homem estúpido? O que é ser um perfeito burro? O que é ser uma pessoa inteligente? O que é ser alguém verdadeiramente perspicaz? Perguntas como essas ainda são as que mais entusiasmam os psicólogos, filósofos e historiadores americanos inteligentes. Uma vez bem respondidas, são as que fazem as companhias inteligentes de produção de marketing – comercial ou político – faturar seus milhões. Confundir um público estúpido com um público inteligente é um erro imperdoável – uma estupidez cujo preço é alto.
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Na maioria das pesquisas sobre a estupidez e a inteligência, independentemente das sofisticações acadêmicas, o resultado popular aplicável ainda se mantém o mesmo dos anos cinqüenta. Foi quando a nova noção de inteligência, vinda do Movimento da Escola Nova, ultrapassou as fronteiras dos Estados Unidos e as fronteiras das estantes acadêmicas para se integrar na vida comum. Foi quando uma outra semântica a respeito do assunto entrou em jogo a ponto de dirigir o vocabulário dos jornais. Pois só no pós-guerra é que realmente a noção de inteligência, que no começo do século John Dewey havia aliado à capacidade de formular hipóteses e equacionar e resolver problemas, passou a ser assim vista nos meios de comunicação de massa.
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As décadas de 1960 e 1970 foram períodos de dura luta entre a noção de inteligência, montada a partir dessa nova ótica, e a noção de inteligência tradicional baseada na erudição (vazia) e na capacidade de memorização e coisas do gênero. Os programas de “Quiz”, que se tornaram populares na TV americana (aliás, eis um filme ótimo sobre o assunto: Quiz Show, 1994, dirigido por Robert Redeford), e que atingiram o Brasil dado a evolução precoce da TV entre nós, eram uma maneira nova de fazer a apologia do velho. Eles perderam o interesse bem depois, é claro, uma vez que a noção tradicional de inteligência venceu a guerra semântica.
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Um homem burro, estúpido, hoje em dia, às vezes é até mesmo associado à grande memória. Em um prazo de meio século houve uma quase inversão da semântica. Qualquer um hoje sabe que uma memória gigantesca pode ser sinônima de estupidez. Cada vez mais as pessoas qualificam o burro como o que fixa coisas, e o inteligente como o que muda coisas e que é capaz de se locomover em situações novas, isso quando não é ele que ajuda na criação do novo.
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Inteligência tem a ver com mudança, rapidez, capacidade de pensar diferente do estabelecido, habilidade de levantar novas hipóteses para velhos problemas e de equacionar novos problemas segundo novas perspectivas. O burro cumpre sua função literal: empaca. O inteligente se movimenta.
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Quando aplicamos essa semântica aos que se posicionam na grande imprensa ou na pequena imprensa, no meio virtual ou não, na TV ou no rádio, nas cátedras universitárias ou nas classes do ensino fundamental, sobre o assunto “Gaza”, fica fácil perceber um dos problemas mais graves da leitura das informações. Mudamos a noção de inteligência, mas nem por isso há mais inteligência para ler as coisas. Pois a maior parte das interpretações que vemos é burra, ou seja, quer a todo custo não enfrentar o que vê segundo olhos novos que a nova situação exige. O que se quer fazer é a estupidez: fixa-se algo na cabeça, por uma exacerbação da memória (que é confortável), e há a recusa de enfrentar os problemas segundo novas óticas.
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Um dos problemas de burrice que mais assusta é o fato de vários lerem o que ocorre hoje em Gaza segundo a ótica fixada pela Guerra Fria. Ou seja, antes a geopolítica que a ideologia é que determinava o que era ser de esquerda e o que era ser de direita. As ideologias foram dispensadas, embora muito se falasse delas, e o alinhamento geopolítico passou a contar de fato. Nesse caso, Israel aliou-se ao Ocidente e, em especial, aos Estados Unidos. Israel nasceu de líderes socialistas, mas não comunistas, mas isso foi dispensado pela geopolítica e pela mentalidade gerada na Guerra Fria. Os palestinos não tinham nenhuma simpatia pelo comunismo, ao contrário, eram adeptos de sistemas de vida arcaicos, mais próximos do regime feudal que do capitalismo ou do socialismo. No entanto, na geopolítica, caíram para o lado de Moscou. Não tendo o que fazer diante de gigantes, acabaram cedendo. A maior parte da esquerda e da direita oficial nos países ocidentais, que também seguia a geopolítica, assim tomou as coisas.
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Tudo isso acabou. Mas o burro é o que não muda. O estúpido é o que quer ver o mundo como apenas repetindo a história. A concepção da história como roda, onde nada ocorre, tudo se repete, é a concepção da história típica do estúpido.
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Acabou a URSS e o comunismo defendido por aquele império desapareceu. Por sua vez, desde os anos 70 os Estados Unidos estão se transformando, tentando com idas e vindas ampliar e aprofundar sua democracia. Uma tarefa dura: Lindon Johnson foi o homem que mais fez pela criança pobre e negra nos Estados Unidos, ao mesmo tempo foi no governo dele que mais bombas foram jogadas, indiscriminadamente, no Vietnã. Isso é só um exemplo do drama da Nova Roma.
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Os Estados Unidos possuem uma democracia velha, sólida, mas que tem dificuldades imensas em se reconhecer como centro do Império, como uma Nova Roma que precisa antes cuidar bem das províncias que tratar todas, sem clareza, como amantes dos bárbaros. Muitas vezes os Estados Unidos querem levar a democracia à força para lugares em que ela só vingaria por outros métodos. Afinal, é uma atitude pouco interessante levar a democracia à força para algum lugar! O Paradoxo Figueiredo (“prendo e arrebento quem for contra a democracia que vamos instaurar”) nunca foi algo a ser aconselhado. Mas foi obedecido tanto por Democratas quanto por Republicanos, em várias ocasiões; e parece agora que Hilary Clinton quer mudar isso. Tomara que consiga. Mas, enfim, o fato é que os Estados Unidos que aí estão não são mais os Estados Unidos que apóiam qualquer regime contra a URSS, pois esta não existe mais. E ser de esquerda, nos Estados Unidos, já não é mais pecado. Os Clinton, por exemplo, puderam se declarar “de esquerda”, já velhos, como de fato foram na juventude. A idéia de esquerda e direita, onde ela ainda vinga, está mudando.
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A esquerda e a direita, hoje, não podem mais ser tomadas a partir da geopolítica. Mas os estúpidos, os que não conseguem mudar, ainda olham para palestinos e israelenses como quem olha para aliados do que seria a esquerda e aliados do que seria a direita. E assim fazendo, se posicionam e saem às ruas para manifestações pró um lado ou pró outro.
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Os mais envergonhados saem pedindo a paz. Uns poucos possuem de fato planos para a paz. Outros são burros, que não pedem de fato a paz, pedem apenas o cessar fogo. Ora, como aplicar o “cessar fogo” quando os dois lados já estão nas trincheiras? Uma guerra se evita não deixando que os soldados se encaminhem para o conflito. Um cessar fogo só se aplica quando o conflito corpo-a-corpo, como o que ocorre no momento em que escrevo, ainda não ocorreu. No momento em que escrevo o cessar fogo é um grito inócuo, as coisas já não tem mais volta. Tudo que há de esperança para o Hamas se divide em dois tópicos: 1) eles terão algum lucro se tiverem algum líder vivo capaz de retomar o controle do grupo após as próximas horas; 2) e para tal devem torcer para que o dinheiro gasto na guerra, pelos israelenses, comece a pesar no bolso judeu – para quem, de fato, as coisas no bolso fazem diferença –, e comece também a dar indicações que as eleições podem não dar certo para os partidos situacionistas, como no primeiro momento poderia parecer. Fora disso, o Hamas será dizimado. E uma parte da população palestina, inocente ou não, irá junto. Os palestinos a favor ou contra o Hamas ampliarão seu ódio aos isralenses. Os israelenses que quiserem ajudar o povo palestino, após a guerra, irão ser tomados como traidores. Mas uma boa parte dos israelenses estão decididos a darem combate “definitivo” a qualquer grupo que os atacarem. E já faz algum tempo que Israel não obedece nenhum comando dos Estados Unidos. Não são os Estados Unidos que são aliados de Israel, os Estados Unidos se tornaram refém de Israel. E há uma nítida vontade de Israel que Obama já tome posse nessa condição de refém.
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Analisar a guerra fora dos parâmetros do quanto é gasto ali por dia e não prestar a atenção sobre como que poderia ou não ser feita a intervenção contra o Hamas sem matar crianças, é ser estúpido. É não querer pensar. Ao mesmo tempo, não lembrar que o Hamas é, sim, um grupo terrorista e totalitário (portanto, sem nenhuma conotação socialista que valha a pena enaltecer), e que está longe de Arafat, é se manter avesso ao uso da inteligência. Analisar a guerra fora da consideração dos parâmetros eleitoreiros de Israel, e do quanto o governo israelita está tentando trazer para o conflito os Estados Unidos (a partir de Clinton, os Estados Unidos haviam deixado de dar prioridade à sobrevivência de Israel) também é uma atitude de fixação do raciocínio, de não querer pensar com parâmetros mudancistas. Novamente é o empacar do raciocínio. E quem empaca é o burro. É a função dele: empacar.
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Espero que no próximo conflito (conseguiremos ser inteligentes mesmos, e evita-lo?) as pessoas parem de se posicionar automaticamente de um lado ou de outro, uns gritando por ditadores e outros gritando por democratas militarizados.
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Quando Bin Laden atacou os Estados Unidos, no meio daquela confusão toda, com mortes horríveis, o Diretório Estudantil da Unesp de Marília, e vários outros diretórios estudantis daquela Universidade, junto com professores de ciências sociais e filosofia, deram festas. Eu vi e fiquei pasmo! Inclusive houve participação dos professores por meio de seus sindicatos. As pessoas bebiam e comemoraram (com o nosso dinheiro, o do contribuinte) o ato de Bin Laden. Essas mesmas pessoas, no outro dia, estavam em sala de aula, acreditando que eram educadores e educandos. É esse tipo de coisa que é a burrice. Os garotos e os professores se achavam “de esquerda” fazendo isso. Por causa da incapacidade de usar a inteligência, de ver o novo e pensar diferente, ficaram estúpidos, e com isso, cruéis. Você não precisa ser burro.
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Paulo Ghiraldelli Jr.
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Filósofo
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