ESPORTE REDENTOR.

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Assisti a uma reportagem na TV local sobre capoeira e o que me chamou a atenção foi a declaração de uma das pessoas envolvidas na atividade enfocada.Não foi inédita porque tenho ouvido cada vez mais a afirmação que, pela repetição, vem se consolidando numa verdade indiscutível na totalidade e completude do argumento e que passo a anlisar nesta postagem.
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“O esporte tira as crianças e os jovens das ruas e das drogas.” Até que ponto isso é uma verdade completa? Existe em educação uma tendência que interpreta o papel da educação como redentora da sociedade. Os adeptos dessa tendência entendem, divulgam e acreditam que o papel da educação na sua relação com a sociedade é de redentora.
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A educação teria o poder e o papel de corrigir os desvios, desarmonia e erros que possam ocorrer no funcionamento da sociedade. A educação tem o poder de, sozinha, redimir a sociedade.
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Segundo LUCKESI é uma postura otimista e ingênua. Otimista porque imagina que a educação tenha esse poder. Ingênua porque atribui uma postura de corretora dos desvios e desarmonia social.
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Não interessa o que provocou a desarmonia, interessa é que a educação corrigirá tudo. JOÃO AMÓS COMÊNIO é o mais ilustre representante dessa postura educacional.
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Hoje sabemos que essa pretensão foi superada e outras posturas explicam mais adequadamente o papel da educação na sua relação com a sociedade.
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Uma postura crítica desenvolvida também no Brasil pelo professor SAVIANI interpreta essa relação, educação e sociedade, partindo da compreensão dos condicionantes e determinantes que fazem os problemas surgirem, por isso crítica, e otimista no sentido que admite que a educação ao lado de outras instituições pode levar a sociedade a trilhar os rumos que ela desejar.
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Com o esporte acontece o mesmo. A postura diante do potencial do esporte que incitou esta postagem leva à concepção otimista e ingênua. Otimista porque acredita que as atividades esportivas ajudam as crianças e adolescentes a saírem das ruas e os afastar das drogas.
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Ingênua porque não analisa quais os reais motivos que levam as crianças e adolescentes às ruas e às drogas. Em nenhum discurso as pessoas colocam essa questão. Apenas dizem que os esportes têm esse poder.
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Mas como ação que objetiva atingir essas metas não pode, não. Sozinhos, os esportes não podem fazer isso. Sem identificar as verdadeiras causas desses problemas. Sem analisar as reais circunstâncias que levam as crianças e adolescentes às ruas e às drogas se resolverão esses problemas verdadeiramente.

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Desse modo os esportes apenas maquiarão os problemas ao invés de se procurar as causas dos mesmos e resolvê-los procuramos soluções fáceis para eles. Inconscientemente preguiçosos e alienados se busca soluções onde há apensa uma ajuda.

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Nos países onde não existem esses problemas os esportes são apenas atividades complementares na formação e educação das crianças e adolescentes. Esses problemas sociais foram solucionados e ninguém usa esse discurso.

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Numa sociedade onde há famílias estruturadas, educadas, empregadas, onde há moradias dignas, economia crescente, ciência criativa, tecnologia avançada, educação de qualidade, alimentação saudável, ninguém usará o discurso fácil que coloca os esportes como atividade redentora dos problemas sociais.

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Mas, e enquanto a sociedade não resolve os problemas sociais? Mesmo assim o discurso do esporte redentor não se afirma completamente. Apenas parcialmente. Por quê?

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Quem acompanha as crônicas esportivas em todas as modalidades sabe que muitos usam drogas. Mesmo entre os profissionais. Olimpíadas, panamenricanos, ligas de futebol, boxe... Em todas essas práticas esportivas são denunciados usuários dos mais diversos tipos de drogas.
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Então penso que esporte e educação, economia, cultura, tecnologia, afeto, progresso, determinação, consciência, solidariedade, política juntos resolverão esses problemas sociais, sim.
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O discurso que receita o esporte sozinho como solução de problemas sociais é apenas um reflexo de inconsciência social. Só.

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