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quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A BELA MORTE DE PLATÃO DE BRASÍLIA - III.

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Uma outra maneira de não ter uma bela morte é morrendo velho. Pela velhice se morre sem ter enfrentado bravamente, heroicamente a morte quando jovem. Morrer jovem, então, é garantia de fama, nome, honra e a ida ao Hades. Veja no filme “300” como os espartanos correm rumo à morte certa com garra e valentia que nós, com outros valores (quase acovardados) achamos loucura. Mas é apenas um modo de viver muito diferente do nosso.
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O nome é fundamental porque o nome significa pertencimento a um lugar como uma pessoa livre – que não é escravo. O escravo não possui nome porque ele foi retirado do seu lugar de origem e nesse processo a sua identidade se desfez. Portanto chama-se o escravo de escravo porque ele não é ninguém, arcaicamente falando.
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Quando PLATÃO veio de Brasília lhe dei um nome, uma casa, comida, trabalho. Tinha, então, areté. Não era um qualquer retirado de sua phratría e sem rumo. Morreu digno porque, segundo A. SMITH, o trabalho é a verdadeira fonte de riqueza de uma nação. Com isso podemos inferir que a honra, a dignidade, a memória, são os artífices de um grande ser decorrentes do seu trabalho.
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Trabalhar é ter honra, dignidade, areté – nos últimos trezentos anos, que fique bem claro. Porque trabalhar na antiguidade era desonra, coisa de escravo. Houve portanto uma guinada, como diria Carla Perez, de 360 graus.
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PLATÃO amanheceu o dia 06/11/2008 já morto. Não tenho idéia do que ocorreu. Só sei que foi lentamente definhando. Não queria mais comer como fazia sempre. Já não latia com tanto ímpeto. Não corria mais, mas manteve até o último dia de vida uma característica que o tornava amável e amado. Que era correr para junto de mim todas as vezes, sem exceção, quando eu saia de dentro de casa. Ficava se roçando em mim e virava as pernas para cima querendo que eu o alisasse.
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Quando alguém ameaçava vir para cima de mim ele me defendia bravamente. Por uma característica inata ele era um exímio caçador e cavador. Cavava buracos surpreendentes, certa vez tive que tirá-lo de dentro de um bem grande. As lagartixas não tinham sossego. Ele as caçava, ininterruptamente, impulsionado, chegava a atingir mais de um metro e meio de altura nos muros e paredes.
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Quando alguém chegava ao portão ele corria imediatamente para alardear. Latindo alto e forte. Suspeito que quem não tenha se acostumado tenha abreviado a sua morte. Temo que seja isso. Se eu vier a saber agirei como ele agiria em relação a mim. Só instinto. Só.
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