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Olha o autor do texto, sério todo. PAULO GHIRALDELLI JR esteve recentemente em Teresina, na UFPI, fazendo palestra. A pouca divulgação do evento impossibilitou muita gente de comparecer, inclusive eu. Mas ele me disse, por e-mail, que pode vir a Floriano, desde que se organize um evento como o de Teresina. Ele está disponível para divulgar o seu pensamento (Pragmatismo) pelo Brasil e pelo mundo, pois o que ele faz na vida é FILOSOFAR. Vive dos direitos autorais de seus mais de trinta livros publicados. Boa leitura.
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O QUE É SER “PROGRESSISTA” NO CAMPO DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES?
O QUE É SER “PROGRESSISTA” NO CAMPO DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES?
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No campo da educação básica, o Brasil precisa de professores. Além disso, necessita de professores “mais bem formados” do que o que temos. Ninguém mais discorda dessas duas verdades.
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Os dois grandes partidos não conservadores de nosso país, PT e PSDB, concordam – ao menos em tese – que para se ter mais professores é necessário “tornar a carreira do magistério mais atraente”. E talvez divirjam pouco quanto a como ter melhores professores.
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Tenho escrito sobre o primeiro item, propondo formas de melhoria da carreira. Atenho-me aqui ao segundo ponto, o da formação do professorado.
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O porta-voz do PT em educação não é mais Paulo Freire ou Florestan Fernandes. Esse tempo se foi. Agora, quem fala pelo PT em educação é um ministro da Educação. Fernando Haddad, que ocupa o MEC neste segundo mandato presidencial de Lula, tem algo a dizer a respeito da formação de professores? Diz que o curso de Pedagogia – agora quase o único responsável pela formação de professores do Ensino Fundamental – precisa de uma “reforma curricular”. Todavia, ele não dá indicações do que pensa sobre o assunto, se é que tem algo formulado, a respeito das habilidades que uma pessoa deve ter ao sair do curso de Pedagogia com o diploma de professor.
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Atualmente, o porta-voz natural do PSDB no campo educacional parece ser Paulo Renato, ministro da Educação durante os oito anos em que Fernando Henrique Cardoso ocupou a presidência da República e, agora, em 2009, secretário de Educação do Estado de S. Paulo. Mantendo o discurso do grupo que batizei de PTE (o Partido Tecnocrático em Educação) (Ghiraldelli Jr., P.
Filosofia e história da educação brasileira. São Paulo/Baurueri: Editora Manole, 2009), Paulo Renato insiste em dizer que o curso de Pedagogia é “muito teórico”, e que não ensina os alunos a se transformarem em professores, uma vez que não os coloca “aptos para a prática” da alfabetização e não lhes dá outros elementos essenciais que um professor do Ensino Fundamental precisa saber.
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Ora, não é verdade que o curso de Pedagogia seja “teórico”. Ao contrário, o aluno desse curso é mal formado teoricamente. Não lê os clássicos nas disciplinas básicas, chamadas de “Fundamentos da Educação”, e quando lê, entende pouco. Logo se dirige para as disciplinas finais do curso que, agora, uma vez colocado a serviço do que antes era a “habilitação magistério”, aprende “metodologias” e, não raro, sem mesmo saber o conteúdo das matérias a que essas metodologias dizem respeito. O estudante de pedagogia estuda metodologia da matemática quando, ele próprio, veio para o curso de Pedagogia para fugir da matemática! É só um exemplo, mas serve para mostrar que o curso tem problemas, e que eles não são os que Paulo Renato aponta.
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Poderíamos imaginar que, diante disso, correto está Fernando Haddad, que diz que o curso de Pedagogia precisa de uma “reforma curricular”. No entanto, como Paulo Renato, ele erra na medida em que a questão da formação de mais e melhores professores no Brasil não pode ser resolvida por meio de uma operação no currículo do curso de Pedagogia.
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Paulo Renato tem dito, e com razão, que o curso de Pedagogia não possui tradição no campo da formação de professores. O curso quase sempre esteve bem mais preocupado com a formação dos chamados “especialistas” (diretor, supervisor, orientador etc.). Ele diz também que o correto seria ter levado adiante a idéia posta na LDB, de centrar a formação de professores do Ensino Básico nos Instituto de Educação Superior. Mas, como é sabido, isso não vingou, e hoje o que temos é, de fato, o curso de Pedagogia arcando legalmente com a formação de professores do Ensino Fundamental em nosso país. Ele também afirma que o local tradicional de formação do professor era o Curso Normal de nível médio. No entanto, ele parece ver como retrocesso retomar a vitalidade desse curso.
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Não vejo assim. O curso Normal de nível médio não desapareceu de todo. Há ainda duzentos mil alunos nesses cursos. E a população brasileira ainda não se esqueceu de que esse curso forma, de fato, o professor, e que tal professor foi o que nos educou. A população também não se esquece que esse curso, um dos poucos cursos profissionalizante em nível médio que realmente funcionou no Brasil, durante décadas, era uma forma clara e natural de encaminhamento das jovens. Além disso, não é verdade que quatro anos de magistério ou de curso Normal, que agrupa alunos que vão dos 15 anos aos 18 ou 19 (às vezes 20 e 21), não seja capaz de formar um professor. O curso foi capaz e ainda é capaz, sim, principalmente quanto à tarefa de habilitar o professor a lecionar até a quarta série do Ensino Fundamental. Aliás, é nesse curso que se pode fazer o que Paulo Renato insiste dizer que se tem de fazer: que é dar ao professor uma formação “mais prática”. Sempre foi assim no Brasil. Foi assim na maior parte dos países que desenvolveram bem sua educação.
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O curso Normal em nível médio, feito na escola pública, mesmo os existentes e desprestigiados (pelo governo, mas não pela população), continuam dando aos alunos as atividades necessárias para eles poderem “manejar classe” e “alfabetizar”. Inclusive, nessa idade em que fazem tal curso, as jovens possuem mais paciência com as crianças, se atendo mais carinhosamente com o trabalho de estágio. Elas ainda não formaram famílias, e estão com mais energia para o trabalho prático que, de fato, envolve esforço não só mental, mas físico. Aliás, nessa idade, as jovens adoram as crianças, e não se sentem mal ao ter de participar de atividades em conjunto com as crianças. Não temos razão para não retomarmos a formação do professor brasileiro de primeira a quarta série no âmbito do Ensino Médio. A não ser que tenhamos chegado à conclusão que a nossa escola média pública está completamente falida, e que não vamos fazer nada para recuperá-la. Ora, mas se for esta a conclusão, então de fato tudo fica invalidado.
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Penso que a própria manutenção do curso Normal de nível médio e sua melhoria fariam a escola média recuperar boa parte de sua vitalidade. Faz muita diferença ter, na escola média, ainda como alunas, moças com 17, 18 e 19 anos. Aliás, o chamado “quarto Normal” costuma ser uma liderança positiva na Escola Média, ajudando a direção, os professores e se tornando um bom elo entre a escola e a comunidade. Ninguém possui má lembrança do “quarto Normal”. Nele, as meninas se tornam moças, mulheres, mas ainda possuem a energia das meninas. Algumas podem pensar em fazer o curso de Pedagogia e seguir para a pós-graduação. Outras podem começar a procurar a escola em que irão trabalhar. Em geral, pegam gosto pelas práticas necessárias para se formar professor, e ao mesmo tempo exercem profundo papel pedagógico de amadurecimento do restante dos alunos da escola como um todo. Foi assim no passado, mas não deixa de ser assim, ainda, no presente. Quem tem vivência escolar real sabe bem do que estou falando, e me apóia.
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Não vejo razão para o Brasil querer mostrar para os organismos internacionais que nosso professorado possui diploma universitário se isso não representa nada em termos da melhoria do nosso ensino – e é neste impasse que estamos atualmente. Seria mais correto retomarmos nossa tradição. Nesse caso específico, só é progressista quem colaborar para o fim de uma tradição que ainda é útil, que não morreu, e que pode nos salvar do impasse que geramos ao não ler corretamente a LDB de 1996. Pois a LDB de 1996 não dizia que deveríamos fechar o curso Normal de nível médio. Quem leu assim, que deveríamos fechar tal curso, ou errou por não saber ler a legislação ou agiu de má fé. Não foram poucos os que agiram de má fé.
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No campo da educação básica, o Brasil precisa de professores. Além disso, necessita de professores “mais bem formados” do que o que temos. Ninguém mais discorda dessas duas verdades.
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Os dois grandes partidos não conservadores de nosso país, PT e PSDB, concordam – ao menos em tese – que para se ter mais professores é necessário “tornar a carreira do magistério mais atraente”. E talvez divirjam pouco quanto a como ter melhores professores.
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Tenho escrito sobre o primeiro item, propondo formas de melhoria da carreira. Atenho-me aqui ao segundo ponto, o da formação do professorado.
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O porta-voz do PT em educação não é mais Paulo Freire ou Florestan Fernandes. Esse tempo se foi. Agora, quem fala pelo PT em educação é um ministro da Educação. Fernando Haddad, que ocupa o MEC neste segundo mandato presidencial de Lula, tem algo a dizer a respeito da formação de professores? Diz que o curso de Pedagogia – agora quase o único responsável pela formação de professores do Ensino Fundamental – precisa de uma “reforma curricular”. Todavia, ele não dá indicações do que pensa sobre o assunto, se é que tem algo formulado, a respeito das habilidades que uma pessoa deve ter ao sair do curso de Pedagogia com o diploma de professor.
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Atualmente, o porta-voz natural do PSDB no campo educacional parece ser Paulo Renato, ministro da Educação durante os oito anos em que Fernando Henrique Cardoso ocupou a presidência da República e, agora, em 2009, secretário de Educação do Estado de S. Paulo. Mantendo o discurso do grupo que batizei de PTE (o Partido Tecnocrático em Educação) (Ghiraldelli Jr., P.
Filosofia e história da educação brasileira. São Paulo/Baurueri: Editora Manole, 2009), Paulo Renato insiste em dizer que o curso de Pedagogia é “muito teórico”, e que não ensina os alunos a se transformarem em professores, uma vez que não os coloca “aptos para a prática” da alfabetização e não lhes dá outros elementos essenciais que um professor do Ensino Fundamental precisa saber.
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Ora, não é verdade que o curso de Pedagogia seja “teórico”. Ao contrário, o aluno desse curso é mal formado teoricamente. Não lê os clássicos nas disciplinas básicas, chamadas de “Fundamentos da Educação”, e quando lê, entende pouco. Logo se dirige para as disciplinas finais do curso que, agora, uma vez colocado a serviço do que antes era a “habilitação magistério”, aprende “metodologias” e, não raro, sem mesmo saber o conteúdo das matérias a que essas metodologias dizem respeito. O estudante de pedagogia estuda metodologia da matemática quando, ele próprio, veio para o curso de Pedagogia para fugir da matemática! É só um exemplo, mas serve para mostrar que o curso tem problemas, e que eles não são os que Paulo Renato aponta.
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Poderíamos imaginar que, diante disso, correto está Fernando Haddad, que diz que o curso de Pedagogia precisa de uma “reforma curricular”. No entanto, como Paulo Renato, ele erra na medida em que a questão da formação de mais e melhores professores no Brasil não pode ser resolvida por meio de uma operação no currículo do curso de Pedagogia.
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Paulo Renato tem dito, e com razão, que o curso de Pedagogia não possui tradição no campo da formação de professores. O curso quase sempre esteve bem mais preocupado com a formação dos chamados “especialistas” (diretor, supervisor, orientador etc.). Ele diz também que o correto seria ter levado adiante a idéia posta na LDB, de centrar a formação de professores do Ensino Básico nos Instituto de Educação Superior. Mas, como é sabido, isso não vingou, e hoje o que temos é, de fato, o curso de Pedagogia arcando legalmente com a formação de professores do Ensino Fundamental em nosso país. Ele também afirma que o local tradicional de formação do professor era o Curso Normal de nível médio. No entanto, ele parece ver como retrocesso retomar a vitalidade desse curso.
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Não vejo assim. O curso Normal de nível médio não desapareceu de todo. Há ainda duzentos mil alunos nesses cursos. E a população brasileira ainda não se esqueceu de que esse curso forma, de fato, o professor, e que tal professor foi o que nos educou. A população também não se esquece que esse curso, um dos poucos cursos profissionalizante em nível médio que realmente funcionou no Brasil, durante décadas, era uma forma clara e natural de encaminhamento das jovens. Além disso, não é verdade que quatro anos de magistério ou de curso Normal, que agrupa alunos que vão dos 15 anos aos 18 ou 19 (às vezes 20 e 21), não seja capaz de formar um professor. O curso foi capaz e ainda é capaz, sim, principalmente quanto à tarefa de habilitar o professor a lecionar até a quarta série do Ensino Fundamental. Aliás, é nesse curso que se pode fazer o que Paulo Renato insiste dizer que se tem de fazer: que é dar ao professor uma formação “mais prática”. Sempre foi assim no Brasil. Foi assim na maior parte dos países que desenvolveram bem sua educação.
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O curso Normal em nível médio, feito na escola pública, mesmo os existentes e desprestigiados (pelo governo, mas não pela população), continuam dando aos alunos as atividades necessárias para eles poderem “manejar classe” e “alfabetizar”. Inclusive, nessa idade em que fazem tal curso, as jovens possuem mais paciência com as crianças, se atendo mais carinhosamente com o trabalho de estágio. Elas ainda não formaram famílias, e estão com mais energia para o trabalho prático que, de fato, envolve esforço não só mental, mas físico. Aliás, nessa idade, as jovens adoram as crianças, e não se sentem mal ao ter de participar de atividades em conjunto com as crianças. Não temos razão para não retomarmos a formação do professor brasileiro de primeira a quarta série no âmbito do Ensino Médio. A não ser que tenhamos chegado à conclusão que a nossa escola média pública está completamente falida, e que não vamos fazer nada para recuperá-la. Ora, mas se for esta a conclusão, então de fato tudo fica invalidado.
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Penso que a própria manutenção do curso Normal de nível médio e sua melhoria fariam a escola média recuperar boa parte de sua vitalidade. Faz muita diferença ter, na escola média, ainda como alunas, moças com 17, 18 e 19 anos. Aliás, o chamado “quarto Normal” costuma ser uma liderança positiva na Escola Média, ajudando a direção, os professores e se tornando um bom elo entre a escola e a comunidade. Ninguém possui má lembrança do “quarto Normal”. Nele, as meninas se tornam moças, mulheres, mas ainda possuem a energia das meninas. Algumas podem pensar em fazer o curso de Pedagogia e seguir para a pós-graduação. Outras podem começar a procurar a escola em que irão trabalhar. Em geral, pegam gosto pelas práticas necessárias para se formar professor, e ao mesmo tempo exercem profundo papel pedagógico de amadurecimento do restante dos alunos da escola como um todo. Foi assim no passado, mas não deixa de ser assim, ainda, no presente. Quem tem vivência escolar real sabe bem do que estou falando, e me apóia.
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Não vejo razão para o Brasil querer mostrar para os organismos internacionais que nosso professorado possui diploma universitário se isso não representa nada em termos da melhoria do nosso ensino – e é neste impasse que estamos atualmente. Seria mais correto retomarmos nossa tradição. Nesse caso específico, só é progressista quem colaborar para o fim de uma tradição que ainda é útil, que não morreu, e que pode nos salvar do impasse que geramos ao não ler corretamente a LDB de 1996. Pois a LDB de 1996 não dizia que deveríamos fechar o curso Normal de nível médio. Quem leu assim, que deveríamos fechar tal curso, ou errou por não saber ler a legislação ou agiu de má fé. Não foram poucos os que agiram de má fé.
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Por: PAULO GHIRALDELLI JR.
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