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O ser humano atual que convive quase plenamente com a razão não estabelece claramente entre superstição e razão uma divisão e uma preferência clara por esta. Não é o estágio que VICO (séc. XVIII) chamaria de Idade Divina, pois vivemos num tempo em que a razão reflexiva atingiu um nível de fundamentação muito alto e é imprescindível para a ciência e a Filosofia. Mas considero este tempo um paradoxo aparente.
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Mesmo tendo se desenvolvido tanto e sendo o fundamento para a ação de grande parte dos humanos e o restante se beneficiar de sua aplicação prática na construção de uma vida mais confortável e útil e também no desenvolvimento da própria racionalidade a razão tem sido desprezada pela ignorância do "Coletivo Social Subordinado" - (C.S.S.).
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Não por escolha consciente, mas porque não é capaz de optar livremente pela superstição ou pela razão. Estando preso ao mundo dos sentidos (puros) e da imaginação criadora de uma satisfação momentânea cria hábitos supersticiosos que servem de orientações para suas ações. Neste sentido essa prisão não possibilita a escolha livre da racionalidade. Eles agem, então, presos à ignorância da superstição, fábula, religião.
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Assim, é paradoxal porque criou-se um artefato tecnológico que nos informa sobre os limites de nossa galáxia e ao mesmo tempo pessoas estão limitadas ao mundo obscuro da superstição. É paradoxal porque ao mesmo tempo que assistem à TV via satélite são capazes de agir baseados no temor e a praticarem atos absurdos e ridículos.
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SPINOSA já dizia que a totalidade do real é congnoscível e que, portanto, pode ser plenamente conhecido por nós. Podemos entender, então, que não há espaço para superstição, coisas milagrosas, coisas misteriosas.
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Desse modo a mente supersticiosa é incapaz de compreender o mundo como ele é realmente. Detentora dessa incapacidade imagina a natureza como possuidora de uma vontade consciente para agir contra ou a nosso favor. Esse medo em muitos e pavor em alguns fazem-no criar rituais e sacrifícios para agradar e fazer a natureza a decidir a favor dos humanos.
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Na Antiguidade os Filósofos gregos (séc. VI a. C.) já buscavam a compreensão e explicação da natureza e das coisas "nas coisas mesmas". MAX WEBER disse que a forma de pensar dos modernos "desencantou o mundo". Ou seja, a razão conhece o real e o explica como é segundo a sua prórpia constituição e características, fugindo da fantasia, da superstição, da fábula, da religião. O mundo deixa de ser encantado para ser real. O mundo continua sendo o mundo. A postura diante do mundo é que e diferente. É racional, é real.
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Os meios de comunicação representando os interesses políticos, financeiros, técnico-tecnológico, social de uma classe social pretendem manter prisioneiros o C.S.S. de sua ignorância, superstição. Incentivam, divulgam como mérito simpaticamente os absurdos e ridículos do C.S.S. Reconhecendo-se naquelas práticas obscuras validadas fantasticamente até por quem estudou ciência (como diz MARILENA CHAUI, há intelectuais alienados e ricos também) o C.S.S. não se envergonha, ao contrário, se orgulha de ver seu modo de sentir, de pensar e de agir destacado solenemente de forma zombeteira.
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Na sexta-feira passada mais uma vez o Globo Repórter exibiu o absurdo e ridículo mundo das crendices, fantasias, imaginações das pessoas mais pobres deste país. Mostrando de maneira jocosa como sentem, pensam e agem (não necessariamente nesta ordem) as pessoas do C.S.S. O pior é que as pessoas riem delas mesmas sem perceber qual o verdadeiro propósito do programa.
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Quanto menos se sabe acerca do mundo em que vivem mais fácil de manipular são essas pessoas. Quanto mais se enaltece a superstição mais convicto vive o supersticioso. Mais certeza ele tem de suas "verdades", crendices, "opiniões". Mais enraizada fica a ignorância. Mais difícil fica, portanto, de convencê-los do contrário. Quem tenta alertá-los pode sofrer violências de todos os tipos. Ao tentar a conscientização de seus concidadãos SÓCRATES terminou sendo condenado à morte. Depois que ele morreu a mesma cidade que o condenou reconheceu seu erro e erigiu um busto em sua homenagem no panteão dos heróis.
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Acredito que cada um que aos poucos vai saindo da caverna (Mito da Caverna - PLATÃO) tem o dever de voltar e alertar aqueles que ainda continuam prisioneiros acorrentados ao mundo das sombras, da superstição, da imaginação, da fantasia, do encantamento. Eu procuro todo dia cumprir essa obrigação.
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