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Quando minha segunda filha, SOFIA, está na casa de meus pais apronta das suas. A última dela me levou a escrever este texto porque a cena que vi, já na nossa casa, me remeteu à postagem “Ele gostava de sofrimento”, sobre NIETZSCHE, que fiz outro dia.
Ocorreu o seguinte: Ela gosta de ir ao galinheiro da casa de meus pais. Ela sempre vai lá depois de cumprimentar a todos. Ontem ela conseguiu pegar um pombo com suas mãos. Levando-o para nos mostrar, na sala em que almoçávamos, disse que o tinha pegado porque ele estava onde as galinhas põem. “Foi fácil”, disse quando meu pai perguntou como tinha conseguido.
Imediatamente meu pai pediu que ela o entregasse. Sem saber o porquê ela o entregou. Meu pai começou a arrancar as penas das pontas das asas alegando que era para que ele não mais voasse. Ao ver o modo como ele fazia, ela ficou com pena. ”Não faz isso não, vô.” Ele explicou que era para o pombo não mais voar permitindo que ela pudesse brincar com ele. SOFIA ficou calada diante do argumento e da pena que sentia do pombo. Não soube conciliar os sentimentos e a euforia de poder brincar com ele.
Fomos para casa. Lá ela o pôs numa área de nossa casa meio reservada. SOFIA viajou ontem mesmo a Teresina e me deixou encarregado de cuidar do pombo. Hoje pela manhã observei o modo como ele se comportava. Estava encolhido num canto. Comendo e bebendo. Poucos passos (agora que sem asas, passos) de um canto a outro. Ficou dócil. Domesticado. Manso.
O pombo é um animal que, em seu estado natural, é arredio à aproximação de qualquer outro ser. Diante da menor possibilidade de ameaça foge voando. E rápido. E pra longe. É assim que é porque foi assim que a natureza, ao longo dos milhões de anos, o preparou para viver e a utilizar os mecanismos de ataque e defesa que a evolução o possibilitou.
Mas quando meu pai arrancou as penas de suas asas mudou tudo. Nós interferimos na condição original, natural dele e ele se domesticou. Ficou dócil. Um cordeirinho.
Vendo o pombo naquelas condições lembrei-me dos motivos que levaram NIETZSCHE a abandonar e odiar o cristianismo. A religião faz com o homem o que fizemos com o pombo. NIETZSCHE defendia os valores que fazem do homem um ser dotado de vontade de poder, de dominar, de ser impetuoso, valente, destemido, intenso. De - diante dos problemas, sofrimentos e percalços - ser capaz de utilizá-los como motivo para se superar. De ter a consciência que as dores, sofrimentos e fracassos são capazes de mostrar todas as armas que ele tem para ser quem ele é. “Torna-te quem tu és”.
Tudo o que é usado pelo homem para mascarar aquilo que ele é deve ser repudiado. Pois, se fugir daquilo que ele é será um covarde. Bebida com o objetivo de mascarar a realidade e a religião fazem exatamente isso. Pela religião o homem se torna um cordeiro, um covarde, conforme NIETZSCHE. Igual ao pombo da SOFIA.
Quando as penas do pombo voltarem ao que eram antes irei soltá-lo. Ele me sensibilizou. Para NIETZSCHE, quando o homem adotar a moral do além do homem (Aqui ele se refere ao homem como aquilo que ele é com a religião, e o além do homem seria aquilo que ele será quando transformar a moral que o faz ser como ele é. Ou seja, quando transvalorar os seus valores atuais e adotar os valores do além do homem, do super-homem) ele será quem realmente deve ser.
Pode ser que SOFIA não entenda ainda nada disso visto que ela tem nove anos, mas aos poucos irei mostrar o motivo que devemos devolver ao pombo as condições para que ele seja quem ele é naturalmente. E dizer que só nessas condições é que ele será feliz, que ele será pombo.
Quanto ao homem, que não nasceu para “viver de joelhos diante da humanidade”, só será feliz quando for quem ele é e não aquilo em que foi transformado pela moral cristã. Pois sendo assim, cristão, não será feliz nas condições que escolheu para viver. Desse modo o homem será sempre o pombo da SOFIA, triste e calado no seu canto, só comendo, rezando e bebendo.
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11 comentários:
passando para deixar meu alô
Estás com saudades de Sofia hein?
Bom fim de semana
Olá Umbelina.
Sim, ela é uma referência para mim. Assim como também o é a Ingridy. Amo muito as duas. Com a Ingridy, de certa forma, já me acostumei porque estuda em Teresina. Mas pretendo ir lá também agora nas férias.
Obrigado pela passagem por aqui.
Um abraço.
Jair Feitosa.
Ah, conhece a Ingridy. Estudamos juntos!
Uma menina de uma inteligênia surpreendente!
Como diz, Jair, o provérbio: "Podem cortar as nossas asas, mas não a nossa vontade de voar" o pombo, coitado, assim como o homem/refém dogmático, sonha em voar um dia. Abraços
Nossa! É por isso que sou seguidor deste MESTRE! É uma postagem melhor que a outra.
Sabe de uma coisa? Lembro que quando pedimo-lhe que nos prestasse uma entrevista, você não quis aceitar que nos referissemos a ti como filósofo, mas diante de um texto como esse... não há como não ser!
Só espero, um dia eu ter capacidade intelectual pra elevar o meu blog a tal nível!
FELIZ NATAL E PROPERIDADES EM 2011
Ronilson DuMont
Olá Aristócrates.
Bom, obrigado pelo comentário. E agradeço pelo elogio que fez à Ingridy.
Um abraço.
Jair Feitosa.
Olá AJRS.
Lembro que esse provérbio está na placa de formatura de sua turma de Matemática.
É por aí mesmo. Graças a cabeças como a sua é que podemos contar sempre com o ser humano para poder transformar as coisas. Fazer com que as coisas deixem de ser o que são em vista do que queremos que elas sejam.
Um abraço e obrigado pelo comentário.
Jair Feitosa.
Olá BioLoukos (Ronilson).
Pois é, sou apenas um professor de Filosofia. Filósofo, como alguns historiadores fazem questão de frisar, é aquele que é capaz de constituir um Sistema Filosófico. Infelizmente eu não sou capaz.
Fico com o título que me cabe: Professor de Filosofia.
Um abraço e obrigado por comentar a postagem.
Jair Feitosa.
O apostolo Paulo escrevendo uma carta aos Colossesses ele deu um alerta ao povo de Deus: Tende cuidado, para que ninguem, vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas,segundo os rudimentos deste mundo.
Caro Anônimo.
É certo que Paulo foi um homem muito sagaz. Já tive a oportunidade de ler algumas de suas cartas. Por isso digo que ele era sagaz.
Sabendo de sua tarefa e de seu compromisso com a sua religião, e sabendo muito claramente que religião é o que é tratou de proteger a sua dos inevitáveis confrontos com outras formas de pensar. Ou seja, atacou para se defender antes do ataque do outro. Muito esperto, muito sagaz.
Ele sabia que viriam alertas sobre o que ele pregava. Ele sabia muito claramente o que fazia. E as críticas seriam inevitáveis. Então, tratou de dizer o que disse.
Não que o que disse seria uma verdade inquestionável, mas porque sabia que prevendo os fiéis dos alertas e críticas que viriam daquilo que chamavam de "pagãos" ele manteria mais facilmente seus fiéis. (Um parêntese: Eu não sou batizado, sou, então, pagão?) Ele sabia que todos aceitariam seu argumento e o utilizariam junto aos demais para fortalecer a sua religião. Sagaz, muito sagaz.
Vejo a questão toda por aqui. Você a vê de outro modo. Você não me convencerá dos seus argumentos e talvez eu também não conveça dos meus. Mas devemos expô-los. Faz bem pra gente. Assim temos a "sensação da missão cumprida".
Obrigado pelo comentário e um abraço.
Jair Feitosa.
tomara que o teu castigo seja a morte, que Deus não tenha pena de você
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