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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

MODELO DE ALGUMA COISA.

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Há cerca de quatro anos eu trabalhava numa escola do Estado. Era concursado e tinha uma rotina comum de trabalho nos turno da manhã e tarde. Certo dia a Diretora me propôs ministrar aulas numa turma da noite porque a professora havia entrado de licença.

Fui, então, cumprir minha carga horária do modo como aprendi a trabalhar. Depois que entro em sala não permito que alunos do nível médio ingressem depois de mim. Isto fica claro para todos no primeiro dia de aula. A não ser em casos de necessidade ou fato plenamente justificável.

Nessa nova turma havia estabelecido o pacto. Mas como os alunos do turno noturno possuem características diferenciadoras fui convencido (de modo pleno) que, pelo fato de a maioria trabalhar durante o dia, podem entrar após o início da primeira aula. Isto porque levam algum tempo para chegar em casa, tomar banho, jantar e ir à escola. Bom senso, não é?

Certo dia restavam aproximadamente 15 minutos para terminar a segunda aula, quando surgiu na porta da sala um aluno que mais parecia a porta. Alto e largo como a própria. Perguntou se podia entrar. Eu disse que não. Que ele aguardasse o início da terceira aula com o próximo professor porque as minhas já estavam se esgotando.

Ele ficou indignado. Mas perguntei se não havíamos feito um pacto sobre isso. Ele disse que sim, mas insistiu. E fiquei firme na decisão. Tentei convencê-lo de que eu não estava fazendo avaliação e todo aluno tem 25% das aulas para faltar sem justificativa.

Se dirigindo a mim, disse: “Você está bom de levar umas balas na cabeça”. Por não ter mais dado bolas ao que ele falava, perguntei o que ele tinha dito. Ele repetiu com mais ênfase. Olhei para a turma, que estava estupefata, e para ele.

Os olhares de reprovação da turma à sua atitude o fez desistir de suas pretensões. Terminada a aula me dirigi à Secretaria e pedi nome e endereço completos. Quando terminou o horário das aulas fui direto ao 2º Distrito Policial registrar a ameaça de morte. O delegado me garantiu que haveria um encontro entre nós três na tarde do dia seguinte.

No horário marcado eu me encontrava lá. Logo em seguida o acusado chegou acompanhado do pai. Um cara maior de idade acompanhado do pai para resolver situações criadas por ele mesmo. Senti algo diferente. O pai suplicou para que relevasse o erro dele. E depois de expor a situação ocorrida o delegado me perguntou se podia enviar a ocorrência para a Justiça. O pai suplicou de novo enquanto o acusado chorava.

A alternativa proposta pelo delegado seria registrar a queixa crime e alertar que qualquer coisa que ocorresse comigo a polícia iria direto a ele. Por mim encerraria ali mesmo a questão. Pelo acusado também. Quando cheguei à escola relatei aos colegas e todos apoiaram minha decisão de denunciá-lo à polícia para que outros engraçadinhos não viessem a tornar praxe esse tipo de crime em suas relações com os professores.

Hoje ele passa por mim e me cumprimenta. Mas o mais interessante disso foi vê-lo eleito Rei Momo de nosso carnaval. Fiquei estupefato. Não acreditei nos princípios dos responsáveis por este tipo de evento público. Eleito a modelo de alguma coisa um cara que há pouco havia me ameaçado de morte. Só em Floriano, nos dias atuais, podem eleger esse tipo de exemplo.

Falei disso hoje porque ontem soube de um aluno que matou um professor dentro da faculdade em que ambos frequentavam. Leia AQUI. Enquanto tratarmos esse tipo de crime como algo banal, desimportante, mais casos ocorrerão. Enquanto não se fizer denúncias de atitudes violentas elas poderão evoluir para crimes mais sérios.

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9 comentários:

Antonio José Rodrigues disse...

Há muito tempo, Jair, vc já tinha me reportado este caso. Como bater/matar professor dá mídia, a galera tá empolgada. O intrigante é que os casos mais excentricos estão acontecendo dentro das universidades. O que estará acontecendo, então? Abraços

JAIR FEITOSA disse...

Olá AJRS.

Pois é, cara. Alguns estudiosos da ética afirmam que estamos vivendo uma crise em nossos valores. Talvez tenhamos mesmo de levar isso a sério.

Se olharmos ao nosso redor veremos que os valores estão sendo postos à prova diante dos modelos de comportamento que estamos presenciando. Será que os valores não estão dando conta das novas ideias, novas tecnologias, novas atitudes, novos desejos, novas maneiras de consumir?

Quando fazemos esta pergunta ela se põe exclusivamente como do âmbito da ética. É o que a ética faz, questionar os valores morais. Se nossa conclusão for a de que os valores já estão ultrapassados por não darem mais conta da nova realidade, então temos de criar outros que deem conta da regulação dos comportamentos.

O que não pode é ficarmos à mercê do pode tudo. Se assim for viveremos no mundo do relativismo absoluto. Cada um fará o que quiser, pois dentro de sua cabeça o correto é o que pensa que é. E, nesse caso, tome facadas e mais facadas em professores.

Trabalhamos, eu e você, numa instituição diferenciada das demais públicas onde não há registro desse tipo de ocorrência. Mas já estou pensando em "botar um negócio pra mim". Estou pensando em vender roupas à prova de bala e faca para professores. Também só poderá comprar quem for professor. Será um serviço exclusivo.

Ganhando dinheiro com a crise, AJRS, é essa mentalidade “porralouca" do tal do empreendedorismo. Mas, já que estamos em crise, vamos colocar tudo no balaio e avaliar o que estamos fazendo, como estamos fazendo e para quê estamos fazendo.

Um abraço e até a sua vinda.

Jair Feitosa.

Flávio Cavalcanti disse...

Professor Jair,

Com certeza, a sua história conduz milhares de Professores neste país a fazerem uma reflexão sobre as suas vidas diante da profissão que abraçaram. Mas, um fato deve ser mantido como referencial: não se pode recuar mesmo diante de vitupérios como o que foi narrado aqui.

Diante de tal comportamento social vem uma pergunta que inquieta a todos: Por que as crianças de hoje passaram a não obedecerem nem mesmo aos seus pais e, tampouco, aos seus professores?

É possível, então, perceber que muito dos alunos de hoje parecem terem sido criados sem limites. Pois, ao se observar um cotidiano escolar, será possível constatar reclamações e relatos com um forte destaque para a questão disciplinar como uma das dificuldades fundamentais para o bom desenvolvimento do trabalho escolar. Pois, um dos obstáculos centrais seria a conduta desordenada dos alunos, tais como: querer entra na sala de aula após o início da aula, ou mesmo, no seu final, bagunça, tumulto, falta de limites, mau comportamento, desrespeito, dentre outros.

Neste contexto, conquistar a disciplina na sala de aula tornou-se um verdadeiro desafio para o ensino de hoje, seja na instituição pública ou privada.

E a quem atribui a culpa? Muitos vinculam ao comportamento indisciplinado do aluno à educação recebida na família, assim como, à dissolução do modelo nuclear familiar. Muitos pais acabam dando liberdade excessiva a seus filhos, criando-os de forma indisciplinada, cheios de dengos, que não conseguem conviver com obrigações rotineiras e sentem-se frustrados quando não são o centro das atenções como foi o caso ocorrido com você. Por que para a Delegacia ele levou o pai? Por que ele não conduzia o pai, também, para a sala de aula? Indivíduos desta natureza precisam ser tratados na mesma moeda. Mas, em terra de tiranete indivíduos assim são tratados como rei!

Contudo, vê-se, desta forma, que as escolas precisam desenvolver políticas internas para lidar de forma preventiva com a indisciplina, bem com, a implementação de programas de formação dos seus professores voltados para a discussão de problemas vivenciados nas suas rotinas com o fim de idealizarem as soluções necessárias na tratativa de tais desvios de comportamento.

Portanto, não podemos deixar de ter como foco, em qualquer área do nosso trabalho, o ser humano. Todos nós precisamos valorizar as pessoas. Lá se vem a minha memória de novo com uma frase de Walt Disney que bem ilustra essa idéia: “Você pode sonhar, criar, desenhar e construir o lugar mais maravilhoso do mundo... Mas é necessário ter pessoas para transformar seu sonho em realidade”. Assim, estamos todos nós envolvidos com pessoas em nosso cotidiano: alunos, professores, pais, coordenadores, orientadores e diretores e, por isso, precisamos aprender a trabalhar em equipe para construirmos uma instituição forte, competente e coesa. A qualidade é obtida através do esforço de todos os seus integrantes, onde cada pai, professor é importante e cada aluno também. A escola é mais que uma organização humana onde as pessoas somam esforços para um propósito educativo comum.

Flávio Cavalcanti

Flávio Cavalcanti disse...

Professor Jair,

Com certeza, a sua história conduz milhares de Professores neste país a fazerem uma reflexão sobre as suas vidas diante da profissão que abraçaram. Mas, um fato deve ser mantido como referencial: não se pode recuar mesmo diante de vitupérios como o que foi narrado aqui.

Diante de tal comportamento social vem uma pergunta que inquieta a todos: Por que as crianças de hoje passaram a não obedecerem nem mesmo aos seus pais e, tampouco, aos seus professores?

É possível, então, perceber que muito dos alunos de hoje parecem terem sido criados sem limites. Pois, ao se observar um cotidiano escolar, será possível constatar reclamações e relatos com um forte destaque para a questão disciplinar como uma das dificuldades fundamentais para o bom desenvolvimento do trabalho escolar. Pois, um dos obstáculos centrais seria a conduta desordenada dos alunos, tais como: querer entra na sala de aula após o início da aula, ou mesmo, no seu final, bagunça, tumulto, falta de limites, mau comportamento, desrespeito, dentre outros.

Neste contexto, conquistar a disciplina na sala de aula tornou-se um verdadeiro desafio para o ensino de hoje, seja na instituição pública ou privada.

E a quem atribui a culpa? Muitos vinculam ao comportamento indisciplinado do aluno à educação recebida na família, assim como, à dissolução do modelo nuclear familiar. Muitos pais acabam dando liberdade excessiva a seus filhos, criando-os de forma indisciplinada, cheios de dengos, que não conseguem conviver com obrigações rotineiras e sentem-se frustrados quando não são o centro das atenções como foi o caso ocorrido com você. Por que para a Delegacia ele levou o pai? Por que ele não conduzia o pai, também, para a sala de aula? Indivíduos desta natureza precisam ser tratados na mesma moeda. Mas, em terra de tiranete indivíduos assim são tratados como rei!

Contudo, vê-se, desta forma, que as escolas precisam desenvolver políticas internas para lidar de forma preventiva com a indisciplina, bem com, a implementação de programas de formação dos seus professores voltados para a discussão de problemas vivenciados nas suas rotinas com o fim de idealizarem as soluções necessárias na tratativa de tais desvios de comportamento.

Portanto, não podemos deixar de ter como foco, em qualquer área do nosso trabalho, o ser humano. Todos nós precisamos valorizar as pessoas. Lá se vem a minha memória de novo com uma frase de Walt Disney que bem ilustra essa idéia: “Você pode sonhar, criar, desenhar e construir o lugar mais maravilhoso do mundo... Mas é necessário ter pessoas para transformar seu sonho em realidade”. Assim, estamos todos nós envolvidos com pessoas em nosso cotidiano: alunos, professores, pais, coordenadores, orientadores e diretores e, por isso, precisamos aprender a trabalhar em equipe para construirmos uma instituição forte, competente e coesa. A qualidade é obtida através do esforço de todos os seus integrantes, onde cada pai, professor é importante e cada aluno também. A escola é mais que uma organização humana onde as pessoas somam esforços para um propósito educativo comum.

Flávio Cavalcanti

Anônimo disse...

a biblia sagrada tem a unica mensagem que pode mudar a vida de homem de uma familia e de uma nação, a mensagem do evangelho de Jesus.Só a palavra de Deus tem poder pra mudar, se criarmos nossos filhos no caminho dos ensinamentos de Deus o mundo será outro, caso contrário continuaremos ouvindo casos e mais casos iguais a estes,pelo fato do homem viver afastado de Deus o mundo se tornou o que é, dominado por um inimigo chamado satanás, a biblia diz que este mundo jaz do maligno,lucifer é um ser desencarnado e que procura um corpo pra se alojar e cometer atrocidades, a missão dele é destruir o homem que é a coroa da criação de Deus.

JAIR FEITOSA disse...

Olá Flávio.

Concordo com você e aproveito para perguntar se você autoriza que eu faça uma postagem com essa sua opinião.

Um abraço.

Jair Feitosa.

JAIR FEITOSA disse...

Olá Anônimo.

Quanto a sua posição não vou comentar porque está fora do campo da "razão prática". Ela está restrita à moral religiosa o que não dá conta de explicar, do modo como foi feita a postagem, o problema exposto.

Se eu tivesse entrado pela via da religião, então sim, comentaria a sua posição. Não entendo nada de religião, por isso prefiro ficar por fora.

Um abraço.

Jair Feitosa.

Flávio Cavalcanti disse...

Professor Jair,

Quanto à sua pergunta a reposta é claro que sim. Pode divulgar o que você achar conveniente sobre as minhas ideias aqui apresentadas.

Flávio Cavalcanti

JAIR FEITOSA disse...

Olá Flávio.

Então, vou fazê-lo.

Um abraço.

Jair Feitosa.