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quarta-feira, 29 de maio de 2013

O AUTÊNTICO CORRUPTO E SUA AUTODETERMINAÇÃO- II.



Imagem da Internet.


Semana passada assisti a uma reportagem de TV em que se mostrou uma apreensão de produtos culturais pirateados na maior fábrica desses produtos do país que fica em São Paulo. Na ocasião foi preso um dos chefes da quadrilha.

Incomodado com o trabalho daqueles que são uma das formas de constrangimento moral, uma reportagem de TV que exibiu o bandido em pleno ato de delinquência, ele, tentando se livrar da repórter que perguntava sobre a situação e as consequências de seu ato, agiu de forma arrogante, prepotente e cínica.

O bandido disse, revelando o que pensa sobre os mecanismos que os outros homens que seguem a via da busca constante da elevação de sua condição de humano, ao ser perguntado se se incomodava com as algemas: “Você já viu algum cachorro ser preso?”

A modernidade criou um novo significado para as prisões, segundo li num trabalho acadêmico que está escrevendo minha filha Ingridy para a faculdade de Direito em que estuda, que é a aplicação da pena para punir pelos erros do delinquente. Nesse novo conceito está implícito que a prisão é um fim em si mesmo. Posto que defendem que os presos devem ser reeducados para ser devolvidos ao meio social. Antes disso se prendia para aguardar a execução da pena. Assim entendi, grosso modo.

Essa foi uma luta que começou a ser empreendida com o objetivo de se ter uma nova abordagem da prisão a partir dos pensadores iluministas e humanistas em contraposição a outra forma de punição exemplar e capital: a pena de morte.

Na atualidade a pena de morte está com o seu objetivo em franco declínio de credibilidade na maioria dos países desenvolvidos, posto que as pessoas mais civilizadas enxergam no martírio do delinquente uma forma de degradação moral de todos os outros que deveriam receber a mensagem da execução como um alerta. Pois a brutalidade ultrapassa o objetivo da pena: punir o condenado e alertar os outros inclinados ao delito.

A extinção da pena de morte não é apenas para evitar erros de acusações que se tornam irreparáveis, mas pelo apelo do humanismo e pela tese da necessidade de se recuperar o delinquente através do castigo aliado a um processo de reeducação moral e cultural, e não tão somente extingui-lo como forma de punição.

Então, não é pelo deboche do delinquente em relação à prisão, como no exemplo do bandido que pirateia os produtos culturais, que se modificam as penalidades, mas pela preservação dos princípios humanitários.

O bandido pirata, no exemplo aqui citado, também é autêntico, visto que possui trejeitos, estética e arrogância particulares assim como os delinquentes que atuam na política.

Seu deboche em relação à prisão, do mesmo modo que políticos expulsos do poder em Floriano, suscita mais uma questão: Eles são prepotentes porque apostam que serão salvos por seus pares que agirão para tentar corromper os encarregados pela punição.

E por que apostam nisso? Porque já são escravos e dependentes da corrupção. Abandonaram qualquer chance de seguir pela via dos outros homens e não têm mais como voltar atrás, posto que não temem qualquer consequência dos atos delinquentes praticados. Apostam na impunidade.

E sorriem cinicamente entre os outros homens em festas e outras circunstâncias, pois apostam na sua autenticidade e impunidade.

Para finalizar cito um exemplo local para mostrar como o modus operandi dos corruptos autênticos são parecidos, porém, nunca são iguais.

Um sujeito que até bem pouco tempo atrás andava numa velha bicicleta vermelha buscando encontrar um meio de comprar a comida do dia. Em menos de seis meses se tornou um “empresário” milionário (relevem o emprego inadequado aqui do termo ‘empresário’). Hoje a ascensão econômica, pensa ele, lhe deu o direito de massacrar a moral dos outros homens que seguem a via da elevação da condição humana. Pois vai às tribunas públicas vomitar um passado inventado para justificar, aparentemente, a sua presença entre os outros homens. O pior é que esse falso discurso vomitado é ecoado por um portal de notícias local que é pago para ajudar a montar a farsa.

Aqui parece haver uma contradição no modus operandi dos corruptos locais em relação à sua prepotência íntima em ser corrupto. Mas é apenas uma aparente contradição. O seu jogo de autenticidade permanece íntegro. O que muda é o sentido da justificação do “sucesso” para os outros homens. Ele mesmo, o corrupto, sabe que o seu “sucesso” é decorrente tão somente dos atos corruptos, mas necessita ser aceito.

Se não consegue a aceitação pela via da prepotência corrupta, pois os outros homens se mantêm irredutíveis na sua via, então ele, corrupto, busca uma aparente justificação moral do resultado da corrupção. É só isso. No mais, ele se mantem autêntico.     


  

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