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Quando o sujeito põe na boca o discurso que diz que “o
passado é passado e não interessa mais” como algo que não pode mais ser
resgatado e denunciado como um apelo didático e simbólico de aprendizado sobre
aquilo que poderia nos transformar em “versões melhores de nós mesmos” sinto um
tremendo cheiro de cumplicidade no ar.
Talvez por medo de que com o aprendizado sobre as lições que
o passado tem a nos ensinar e também sobre o que não se deve fazer ou sobre os
erros que tornaram o passado um auxiliar determinante das consequências
irresponsáveis que angustiam no presente, o sujeito, assim, quer que ele,
passado, finalmente seja esquecido e que não seja mais evocado para que
explique as angústias do presente e ajude as pessoas a se tornarem melhores
aprendendo com as lições deixadas.
O discurso que deseja enterrar desesperadamente o passado pensa
em se livrar logo dele porque está colado na origem das mazelas e não quer se
reconhecer como coautor. Tal discurso quer ser atual e aberto ao novo que surge
como negação do passado. Na verdade a base desse discurso é uma esquizofrenia
latente.
A esquizofrenia aí citada resulta da inconsistência entre
quem ele é e não quer ser e do desejo de adquirir uma nova identidade sem se
identificar com a nova realidade. Quer
esquecer o passado como autor das mazelas, mas não quer aceitar o novo como
aquele que pode nos ensinar a sermos “versões melhores de nós mesmos”.
Aqui se estabelece a questão da identidade. E essa identidade
é calcada no apelo moral que a denúncia das mazelas nos revela. A esquizofrenia
revela a imoralidade posto que o sujeito não deseja se tornar uma versão melhor
de si mesmo. Deseja é continuar como agente causador de mazelas.
Se o sujeito não deseja mais se reconhecer como tendo sua
identidade ligada ao passado gerador de irresponsabilidades, como foi que ele
se transmutou no que é agora? É que ele não quer uma realidade nova que seja
uma negação do passado. Ao invés de se transformar o sujeito se transmuta, ou
seja, veste uma máscara. Ele não segue a marcha histórica, ele quer mesmo é
ficar vigiando de lado aquilo que vem transformando a realidade. Desejando
ardorosamente que nada se modifique, que tudo permaneça, que nada dê certo.
A história é contínua. Se levarmos essa proposição ao limite
aceitaremos que não se entenderá o que existe no presente sem conhecermos, ou
lembrarmos o que precedeu o presente.
Floriano está vivendo momentos que o discurso que diz que “o
passado é passado e não interessa mais” está chamando de enigmáticos. A
incompreensão dos momentos atuais é uma forma de acalentar o passado, é uma
forma de negar o que vem sendo feito como forma de ensinar o que não se deve
fazer na administração pública e o que uma administração irresponsável e
perdulária pode deixar como consequência.
O prefeito de Floriano, Gilberto Junior, sempre que instado a
falar dos problemas herdados e que estão dificultando a concretização de seus
objetivos administrativos propostos na campanha sempre faz referência às
mazelas do passado, inclusive as que gerarão denúncias criminais contra os
malfeitores.
Gilberto Junior não pode assumir para si um passado irresponsável
e perdulário para explicar que as consequências terríveis herdadas pela sua
administração não tiveram causas no passado. Seria uma atitude, no mínimo,
temerária.
O passado tem sim de ser referenciado sempre. Ou então se
coloque na conta do presente aquilo que teve a sua origem na irresponsabilidade
do passado.
Que Gilberto Junior assuma a culpa das consequências
irresponsáveis do passado é isso o que deseja o discurso que apressada e
desesperadamente quer enterrar esse passado.
O discurso que diz que “o passado é passado e não interessa
mais” só cabe bem na boca de quem é representante da irresponsabilidade e,
sendo assim, nunca vai se tornar um sujeito melhor.
Vai permanecer sempre colado ao passado irresponsável que defende por meios tortuosos. Até mesmo sem saber.
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