Imagem da Internet.
Semana passada assisti a uma reportagem de TV em que se
mostrou uma apreensão de produtos culturais pirateados na maior fábrica desses
produtos do país que fica em São Paulo. Na ocasião foi preso um dos chefes da
quadrilha.
Incomodado com o trabalho daqueles que são uma das formas de
constrangimento moral, uma reportagem de TV que exibiu o bandido em pleno ato
de delinquência, ele, tentando se livrar da repórter que perguntava sobre a
situação e as consequências de seu ato, agiu de forma arrogante, prepotente e
cínica.
O bandido disse, revelando o que pensa sobre os mecanismos
que os outros homens que seguem a via da busca constante da elevação de sua
condição de humano, ao ser perguntado se se incomodava com as algemas: “Você já
viu algum cachorro ser preso?”
A modernidade criou um novo significado para as prisões,
segundo li num trabalho acadêmico que está escrevendo minha filha Ingridy para
a faculdade de Direito em que estuda, que é a aplicação da pena para punir
pelos erros do delinquente. Nesse novo conceito está implícito que a prisão é
um fim em si mesmo. Posto que defendem que os presos devem ser reeducados para
ser devolvidos ao meio social. Antes disso se prendia para aguardar a execução
da pena. Assim entendi, grosso modo.
Essa foi uma luta que começou a ser empreendida com o
objetivo de se ter uma nova abordagem da prisão a partir dos pensadores
iluministas e humanistas em contraposição a outra forma de punição exemplar e
capital: a pena de morte.
Na atualidade a pena de morte está com o seu objetivo em
franco declínio de credibilidade na maioria dos países desenvolvidos, posto que
as pessoas mais civilizadas enxergam no martírio do delinquente uma forma de
degradação moral de todos os outros que deveriam receber a mensagem da execução
como um alerta. Pois a brutalidade ultrapassa o objetivo da pena: punir o
condenado e alertar os outros inclinados ao delito.
A extinção da pena de morte não é apenas para evitar erros de
acusações que se tornam irreparáveis, mas pelo apelo do humanismo e pela tese
da necessidade de se recuperar o delinquente através do castigo aliado a um
processo de reeducação moral e cultural, e não tão somente extingui-lo como
forma de punição.
Então, não é pelo deboche do delinquente em relação à prisão,
como no exemplo do bandido que pirateia os produtos culturais, que se modificam
as penalidades, mas pela preservação dos princípios humanitários.
O bandido pirata, no exemplo aqui citado, também é autêntico,
visto que possui trejeitos, estética e arrogância particulares assim como os
delinquentes que atuam na política.
Seu deboche em relação à prisão, do mesmo modo que políticos
expulsos do poder em Floriano, suscita mais uma questão: Eles são prepotentes
porque apostam que serão salvos por seus pares que agirão para tentar corromper
os encarregados pela punição.
E por que apostam nisso? Porque já são escravos e dependentes
da corrupção. Abandonaram qualquer chance de seguir pela via dos outros homens
e não têm mais como voltar atrás, posto que não temem qualquer consequência dos
atos delinquentes praticados. Apostam na impunidade.
E sorriem cinicamente entre os outros homens em festas e
outras circunstâncias, pois apostam na sua autenticidade e impunidade.
Para finalizar cito um exemplo local para mostrar como o
modus operandi dos corruptos autênticos são parecidos, porém, nunca são iguais.
Um sujeito que até bem pouco tempo atrás andava numa velha
bicicleta vermelha buscando encontrar um meio de comprar a comida do dia. Em
menos de seis meses se tornou um “empresário” milionário (relevem o emprego
inadequado aqui do termo ‘empresário’). Hoje a ascensão econômica, pensa ele,
lhe deu o direito de massacrar a moral dos outros homens que seguem a via da
elevação da condição humana. Pois vai às tribunas públicas vomitar um passado
inventado para justificar, aparentemente, a sua presença entre os outros
homens. O pior é que esse falso discurso vomitado é ecoado por um portal de
notícias local que é pago para ajudar a montar a farsa.
Aqui parece haver uma contradição no modus operandi dos
corruptos locais em relação à sua prepotência íntima em ser corrupto. Mas é
apenas uma aparente contradição. O seu jogo de autenticidade permanece íntegro.
O que muda é o sentido da justificação do “sucesso” para os outros homens. Ele
mesmo, o corrupto, sabe que o seu “sucesso” é decorrente tão somente dos atos
corruptos, mas necessita ser aceito.
Se não consegue a aceitação pela via da prepotência corrupta,
pois os outros homens se mantêm irredutíveis na sua via, então ele, corrupto,
busca uma aparente justificação moral do resultado da corrupção. É só isso. No
mais, ele se mantem autêntico.