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"Professor, diante das definições e distinções sobre conhecimento e sabedoria... Os pensadores de a.C. tinham só conhecimento, só sabedoria, ou os dois? Fiquei pensando nisso porque ontem estava num culto em ação de graças (formatura da minha irmã) e o pregador falou que muitos são cultos (intelectuais), mas só tem sabedoria aquele que conhece a palavra de Deus (a Bíblia). Essa foi uma parte da pregação dele, na qual ele fazia a distinção entre conhecimento e sabedoria. Bom fim de semana, valeu."
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Recebi este e-mail de um ex-aluno, THALYSSON FERRAZ - IFET, um dos melhores alunos que tive, e pretendo respondê-lo nesta postagem. É claro que o que vou dizer não esgota a questão e nem é a única postura. Outros poderão ver a mesma questão de outro ângulo e defender outra postura. Mas tenho a minha e vou tentar esclarecê-la.
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Não há uma concodância unânime quanto à existência do mesmo significado para as palavras conhecimento e sabedoria (não é meu propósito discorrer sobre a questão etimológica das palavras). Alguns definem as duas palavras como tendo o mesmo significado. Outros optam por diferenciá-las. Me identifico com aqueles que a diferenciam.
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"PITÁGORAS teria sido o primeiro a chamar-se FILÓSOFO, amigo da sabedoria e não sábio propriamente dito. Pois o sábio é aquele que vive praticamente a sabedoria. Dispensando-se inclusive de falar, ao passo que o Filósofo, precisamente porque não a tem, discorre sobre a sabedoria e a procura." Como disse o filósofo brasileiro ROLAND CORBISIER.
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Escolhi essa citação para tentar justificar a minha posição porque nela PITÁGORAS propõe não só o nome FILOSOFIA ao conhecimento que havia nascido na Grécia Antiga, mas uma nova postura epistemológica. Ele defendia que "a sabedoria plena e completa pertence aos deuses" (CHAUI). Portanto a uma categoria de seres diferentes dos mortais homens reservando a estes apenas a possibilidade de desejá-la e amá-la.
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Naquele momento histórico (século VI e V a.C.) surge um grupo de pessoas que deseja conhecer e explicar a realidade baseado num critério não utilizado e ignorado pelas autoridades e pelos sábios. Esse critério é o logos, a razão. A busca da verdade, para os Filósofos, passa a ser fundamentada na razão e não mais na imaginação, fantasia, superstição, religião e na autoridade dos escolhidos, os sábios.
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No mito religioso grego algumas pessoas seriam escolhidas pelos deuses a quem era depositada a confiança do conhecimento. Portanto, estes seres especiais detinham o monopólio do saber e da verdade. A eles acorriam todos aqueles que necessitavam de instrução para viver. Não é preciso dizer, aliás como o fez CRÍTIAS - um dos Trinta Tiranos - quando disse que "Os deuses são astutas invenções dos homens de estado para obter o respeito à leis.", que era através dos sábios que as autoridades mantinham a ordem instituída. Tudo baseado na imaginação, no mágico, na fantasia da religião.
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Esses sábios não eram questionados, avaliados. Eram obedecidos. A outra concepção que já podemos identificar com o conhecimento (épistêmê) não busca a sabedoria religiosa dos videntes (os sábios escolhidos), mas uma sabedoria que pudesse ser demonstrada, questionada, avaliada, testada porque baseada na razão, a sabedoria dos Filósofos.
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"As poucas notícas históricas que temos a respeito dos sábios revelam-nos diversos, quanto à personalidade e à maneira externa de se comportar. Houve um EPIMÊNIDES, tipo de mago e de asceta. Mas houve também um SÓLON, poeta elegíaco e legislador. E houve um TALES, matemático, Filósofo, e homem de estado. Como ainda um PERIANDRO, tirano de Corinto.
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Com frases pequenas, incisivas e lapidares, os sábios emitiam sentenças (gnómai) que calavam profundamente no ânimo dos seus coetâneos, levavam à reflexão e convidavam à tomada de decisão. Eis algumas delas: Conhece-te a ti mesmo; olha o fim; conhece o tempo oportuno; no meio está a virtude; honra aos deuses; modesto na prosperidade, forte na adversidade; escuta muito e fala pouco." Citação de outro Filósofo brasileiro TIAGO DE ADÃO LARA.
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Estes sábios trabalhavam os seus preceitos baseados numa ordem que é transcendente aos desejos humanos. Ou seja, não importam os caprichos, desejos e súplicas dos homens o que existe, existe por determinação divina.
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Já os Filósofos trabalha(va)m os seus conceitos e definições baseados na noção de conhecimento como "um saber teoricamente organizado e racionalmente crítico" (LARA). O conhecimento nascendo como ciência (só nascendo). Os ditos sábios, por oposição, possuíam um saber "esparços, ou amontoados acriticamente" (LARA), como podemos ver nas frases acima citadas.
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Com os amigos da sabedoria o saber e a verdade deixaram de ser monopólios dos sábios. "O pensamento é comum a todos", disse HERÁCLITO no fragmento 113. Com isso quis dizer que todos, ao participarem do logos, podem buscar a sabedoria e a verdade sem precisar de intermediários. - Só uma perguntinha sem propósito: se os reformistas da igreja (LUTERO e cia.) disseram que não haveria necessidade de intermediários (os padres) entre os humanos e Deus por que eles fundaram igrejas e executam o mesmo papel dos padres?
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Aqueles que são empregados de Deus requisitam para si o monopólio da sabedoria destacando esta como um comportamento puramente moral. Isto porque quem conhece e pratica os preceitos religiosos estariam agindo como Deus determina. Sábio neste sentido, portanto, é o cordeirinho que segue o pastor.
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Mas o pastor é um homem. Mas as religiões foram criadas por homens. E eles exercem o poder porque os cordeirinhos fazem o que eles dizem, e isto porque assim seria melhor para todos. Para os que mandam e para os cordeirinhos que obedecem. Me lembrei agora de CRÍTIAS.
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Aqueles que não rezam em suas cartilhas perderiam a oportunidade de ter acesso à sabedoria e devem se contentar com a "subalternidade" do conhecimento cultural, em ser culto.
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Para entender melhor a relação dos sábios com as autoridades e o poder é indicado assitir ao filme "300". Lá estão bem claras essas relações e suas consequências. A religião como meio de exercer o poder de forma direta ou indireta. Que saudade que a igreja tem dos tempos malfadados da Idade Média. Que inveja têm os evangélicos das teocracias do Oriente Médio. Ainda bem que vivemos num país laico, porque senão eu teria amanhã que ir depor num tribunal inquisidor correndo o risco de morrer queimado (outra dica de filme: "As sombras de GOYA").
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