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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

ALEGORIA DO PALHAÇO.

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Estive outro dia assistindo ao noticiário da TV local e mostraram uma reportagem com um tal "Bloco das Virgens". Muito interessante. Muito revelador. Muito carnaval.
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Existe um brinquedo que se compra num pequeno recipiente redondo com uma tampa que prende uma mola com um pano pintado de palhaço. Quando se abre rapidamente a tampa o palhaço sai de dentro sorrindo como uma alegoria da liberdade e felicidade. Pois o sorriso é muito explícito. A pessoa surpreendida fica pasmada com o que se revelou.
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A embalagem não denota nada. Não demonstra o que há dentro nem dá pistas disso. Só se sabe que há algo lá. Não se sabe exatamente o quê. Mas como tradicionalmente os presentes sempre agradam, a pessoa fica esperando uma coisa boa, dentro do espírito da tradição.
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Mas eis a surpresa. Uma coisa que explode lá de dentro e se expõe. Não importa muito o que o presenteado achou da surpresa. Alegoricamente o palhaço quer é se libertar. Ser ele mesmo feliz. Não importa se alguém não se acha assim. Não importa o que se pensa. Importa que naquele momento, o momento da abertura, tudo se realiza. Não importa se só naquele momento.
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O que vi foi um monte de palhaços vestidos de mulher expor-se ao público naquele dia da abertura da caixa. Ou seja, o dia em que o Bloco sai. Não sou contra a manifestação pública da homosexualidade. Tanto que já exprimi o que penso aqui em algumas postagens. Cada um tem a liberdade de ser aquilo que é realmente. Gosto do aforismo do Filósofo alemão NIETZSCHE que diz: "Torna-te o que és".
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O que vejo com muito ceticismo é a postura de um indivíduo em negar-se ser quem realmente se é. O indivíduo, palhaço de minha alegoria, passa o ano todo encenando um papel que ele não é realmente. Finge ser homem, finge macho, finge até ser machista. Mas quando chega o dia, quando se abre a tampa em que aquilo que ele é realmente está preso, ele se realiza, se torna feliz. E só neste dia ele é realmente ele. Torna-se o que é.
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A mentira de um ano fica exposta naquele dia. As pessoas em volta ficam sorrindo com a felicidade do palhaço, mas aquele que foi presenteado se sente incomodado, pois a tradição não permite aquilo. Mas que nada. É carnaval. E só uma vez por ano. Então, o indivíduo tem a liberdade de, uma vez ao ano, ser realmente quem ele é. E daí?
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Em média o brasileiro vive 67 anos. Tirando uns doze anos dessa média, ficamos com 55. Então, o palhaço tem cinquenta e cinco dias em toda a sua vida para ser quem realmente é. É muito pouco para alguém se contentar ou se realizar. É muito pouco tempo para se livrar do tormento que é viver encenando uma fantasia: ser homem. Mas, que nada. É carnaval.
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Ontem, assitindo a uma reportagem da TV Globo sobre o carnaval da cidade do Rio de Janeiro, vi um repórter entrevistar uma pessoa que estava num local do desfile das escolas de samba que se chama 0800. Extamente porque é uma visão da concentração das escolas antes de entrar na avenida que não precisa se pagar.
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Essa pessoa começou dizendo que o carnaval era maravilhoso, que a cidade idem, e, para finalizar falou que sentia muito pela violência que toma conta da cidade. Aí o repórter interrompeu e disse: "Que é isso amigo, hoje é carnaval".
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E as pessoas que leem esta postagem podem dizer o mesmo: "Que é isso, JAIR, é carnaval". Pois é, é carnaval. Mas é por ser carnaval é que a verdade se revela, se expõe, se liberta, se torna feliz. Ao contrário do ano todo de infelicidade presa num rótulo de homem, macho, machista. E muitos com um tremendo bigode. Pois o carnaval é essa catarse tanto para o trabalhador quanto para as borboletas infelizes.
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Mas que é isso, JAIR, hoje é carnaval. É o carnaval das borboletas que eram tristes e presas e se tornaram livres e felizes. Tornaram-se o que são. Viva o carnaval que livra as borboletas do tormento infernal de fingirem que são homens o ano todo.
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