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Já na Modernidade a moral do trabalho é transmutada para atender aos interesses da classe que passa a ser dominante, a burguesia. Então, a moral do trabalho é uma moral burguesa. Vivendo no olho do furacão da Revolução Francesa JOHANN GOTTLIEB FICHTE (1762-1814) captou, como nenhum outro com igual mestria, que o trabalho é um projeto. E tendo consciência desse projeto o homem busca, através da atividade, do trabalho, concretizar aquilo que planejou.
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O homem não é um ser totalmente predeterminado a ser isso ou aquilo, mesmo, como diária MARX, que ele não possa tudo, pois a vida em sociedade também o condiciona. Não existe uma essência anterior a sua existência. Isto é, o homem não é limitado por uma definição anterior ao seu nascimento dizendo o que ele será até morrer.
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Por ser um ser ativo e possuidor de um espírito (que é consciência e liberdade criadora), e aqui me reporto especificamente ao homem trabalhador, ele tem de se construir, pois se não há um passado definindo o que vai ser por toda a sua vida, como ocorre com a nobreza, ele tem de se construir. Construir seus sonhos, sua vida. Em outras palavras, por não ter berço de ouro tem de construir a sua cama, ou seja, trabalhar para ser aquilo que deseja ser.
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É nessa autoconstrução que adquire dignidade e autoestima. Por isso o desemprego impede o homem do povo de ser o que deseja ser. O desemprego o relega ao âmbito da indignidade, retira o seu espírito e o iguala aos animais, penso eu.
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Tenho, porém, de esclarecer que FICHTE (em quem busquei fundamentação para escrever) põe em análise o homem burguês em contraposição ao nobre. Sendo filho de pai humilde, artesão, se empolgou com a possibilidade de - ao se identificar com a classe burguesa que já tinha se estruturado através do poder econômico, e sendo um deles - participar da estruturação da nova classe como dominante.
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Assim a nova moral do trabalho surge no âmbito de sua luta pela dignidade, reconhecimento e poder. Os intelectuais defensores da burguesia, de seu futuro e objetivos, desenvolveram a nova condição daqueles que trabalham. É pelo trabalho que o burguês vai acumular riqueza para se transformar em alguém com prestígio e poder. Não há alternativa para ele.
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Não tendo passado, como diz CORBISIER, porque só tem futuro o burguês terá de se construir e essa construção se dá pelo trabalho, já que seu passado é “obscuro e inconfessável”, complementa ele. Daí surge a ideia de progresso que é desconhecida ou rejeitada pela nobreza. CORBISIER explica que o nobre gosta da tradição, do passado, pois foi aí que ele se fez o que é e deseja permanecer. “O burguês não tendo passado, que poderá ter senão futuro?”
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O trabalho, desse modo, passa a ser valorizado no mundo burguês, no nosso mundo. O burguês nega a tradição que relega o trabalho ao âmbito das ações degradantes e o coloca como fundamento central da nova organização social, a sociedade burguesa.
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P. S. desta parte do texto:
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Assim dá para entender melhor, partindo desses pressupostos é claro, algumas políticas públicas do presidente LULA. Nascido pobre e tendo vivido na indignidade conseguiu construir-se e chegou aonde desejou e planejou. Consciente de que todos (como ele no início) não conseguirão, em vista dos determinantes e condicionantes sociais, chegar por si sós aonde desejam necessitam por isso ser preparados para empreender o processo de humanização. Processo sim, que como FICHTE disse, porque tem de criar continuamente as condições de dignidade, pois não nasceu em berço de ouro. Sabendo disso LULA desenvolveu políticas que resultaram, nos oito anos de governo, num número impressionante: cerca de 15 milhões de empregos formais.
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FHC, com suas políticas econômicas visando o bem-estar da elite brasileira relegou o povo à indignidade por oito anos. Um de seus principais ministros, JOSÉ SERRA (desculpem), comandou esse processo por cerca de dois anos. E nesta campanha eleitoral para presidente tentou, através do discurso, ludibriar o povo dizendo que ia governar para o povo. Seu partido, PSDB, não sabe governar para os pobres. Sabe governar para os ricos, motivo de sua existência.
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SERRA (desculpem de novo) não sabe o que LULA sabe porque vivenciou – a indignidade, o sofrimento da miséria – e seus interesses e objetivos não contemplam o povo, mas relegá-lo à dimensão animal.
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Por não entender isso é que papagaios raivosos de pouca plumagem enchiam a boca, durante a campanha, de palavras insultantes contra as políticas públicas e aos seus beneficiários dizendo que o povo é burro e se contenta com esmola. A maioria desses papagaios é descendente de pais, ou avós, que viveram na indignidade, na miséria.
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Construíram as condições de uma vida minimamente digna, através, não esqueçamos, do trabalho duro e legaram aos seus uma base econômica de onde partiram para onde hoje se encontram. Os hoje papagaios raivosos de pouca plumagem talvez esquecidos do quanto é duro viver na miséria fazem ataques preconceituosos contra os que ainda se encontram na situação de seus antecedentes. .
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Quando não eles mesmos, papagaios raivosos de pouca plumagem, que não se dão conta de que vivem em condições meramente remediadas economicamente. E como me disse hoje uma amiga, ROSÁLIA ATTEM, a classe média morre de medo de voltar a ser pobre e almeja ser rica. Só que os ricos não a querem por lá. Aí ficam com o esnobismo característico de superioridade em relação aos pobres e miseráveis. Parodiando CORBISIER, mas seu passado é “obscuro e inconfessável”.
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Criando as condições para o trabalho, ou processo de autoconstrução humana, LULA possibilitou a cerca de 25 milhões de pessoas o pontapé inicial da autoconstrução dessas pessoas. E isso parece pouco na boca dos papagaios raivosos de pouca plumagem porque não sabem o que é viver na dimensão dos animais, ou talvez tenham esquecido.
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