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sábado, 7 de novembro de 2009

QUEIMA.

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Nós vivemos de tal modo cercados de normas, regras, leis que controlam o nosso agir ininterruptamente – “isto pode, aquilo não”; “isto é certo, aquilo é errado”; “isto é justo, aquilo é injusto” – que o homem, assim, não dá conta de seguir todas as normas, regras, leis. Não suportando viver desse modo criou um ser a quem atribuiu a existência de tudo o que existe, inclusive das normas, regras, leis.
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Tendo, um ser extra-natural, criado tudo e imposto tudo ao homem, então, ele (homem) tem, por consequência, como se eximir, de vez em quando, do cumprimento das normas, regras, leis. É como se ele precisasse de um feriado para descansar de tudo que ele mesmo criou e que agora o sufoca.
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“Não pode correr, tem de ficar quieto”. A liberdade necessita do corpo, e o corpo necessita de liberdade para construí-la. Com meu corpo eu experimento, eu crio, construo, torno as coisas criadas práticas e úteis. Isto tudo que faço com meu corpo é o Além do Natural (*), que depende do meu corpo, da minha liberdade, da minha ação para existir.
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Normas, regras, leis em demasia impedem a existência do Além do Natural que faz a nossa vida ser prática e útil. Assim o homem precisa de uns feriados, não para agir contra a moral e a ética, mas para criar um mundo melhor para todos, impedido que está pela demasia restritiva.
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Outra coisa inventada pelo homem para não assumir as normas, regras, leis e as suas consequências impeditivas, castradoras, foi o Diabo. O Diabo simboliza, na maioria dos casos, tudo o que a moral e a ética impedem de sentir, pensar, fazer. O Diabo muitas vezes é uma tentação contra o moral e o eticamente estabelecido que vai contra os desejos e as opiniões, as vontades e os desejos e aí se procura os caminhos, ou descaminhos do estabelecido e, então, diz-se que “está com o Diabo no corpo”.
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“Está com o Diabo no corpo" é, em primeira instância, uma condenação moral. Em segunda instância pode-se estar tomado de algum mau que é condenado por ter retirado a saude de alguém. E neste segundo sentido estou com o Diabo no corpo.
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Até criar vergonha na cara, sou sedentário e glutão. E isto todos os médicos a quem recorri, quando das crises, foram unânimes em garantir que enquanto eu estiver com sobrepeso de 20 kg e não fizer exercícios físicos as malditas crises sempre hão de ocorrer. No meu caso, ao menos uma vez ao ano me encontro impedido de me locomover, de me levantar da cama por causa de lombalgia. É uma dor diabólica mesmo, porque insuportável. No começo da crise respirar mais profundamente é demasiado esforço de suportar a dor. É o Diabo mesmo.
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Por isso estive afastado do trabalho e do Blogue. Estive impedido, castrado de exercer as atividades que mais me fazem sentir livre. Não posso, quando estou com o Diabo no corpo, me locomover para tomar conhecimento das coisas, não posso ter experiências novas e interajo muito limitadamente com o mundo prático-utilitário. Não sou livre porque sem o uso pleno do meu corpo não posso construir a minha liberdade. Eu imagino, crio e me expresso quando estou completo, todo, e o meu corpo é minha expressão da imaginação, da criação da liberdade.
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Preciso expulsar o Diabo do meu corpo, não para ir aos céus porque não tenho mais jeito, mas para ser eu sem o Diabo para limitar, me enquadrar em padrões castradores da liberdade e da justiça, e me livrar também do inferno da condenação daquilo que nós mesmos nos proibimos. Preciso voltar à minha “loucura”. Sai Diabo. Sai desse corpo que não te pertence.
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(*) O Além do Natural foi um conceito que criei para representar tudo aquilo que é resultado do trabalho humano como ação transformadora da natureza simples e da realidade mais complexa.
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