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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

VINICIUS E SCHOPENHAUER.

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VINICIUS DE MORAES (1913-1980) poeta, músico, compositor, cantor, boêmio, intelectual, embaixador brasileiro. Que proximidade há entre a sua maneira de perceber o que é a felicidade e o pensamento do Filósofo abaixo? Não encontrei nada (texto) que os relacionasse. Pode ser que exista, sim. Mas não vi.
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ARTHUR SCHOPENHAUER (1788-1860).
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Domingo passado estava assistindo pela TV Assembleia um documentário em homenagem aos noventa anos de nascimento de VINICIUS DE MORAES. Coincidentemente, meu sogro, ARI CHAGAS, havia me emprestado há poucos dias o CD duplo com encarte da mesma comemoração. É fascinante, sensacional. Lá a gente pode ouvir a música "A felicidade" onde ele, com seu parceiro, expressam uma percepção da tristeza que nos remete a um grande Filósofo do século XIX. Os versos iniciais (e também refrão) da música de VINICIUS nos fazem lembrar um dos aspectos do pensamento desse pensador.
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A seguir tentarei mostrar porque fiz essa ligação entre ambos. Primeiro a letra da música, em seguida um pequeno resumo do pensamento do Filósofo sobre o tema abordado na música.
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A FELICIDADE
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Vinicius de Moraes / Antonio Carlos Jobim
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Tristeza não tem fim
Felicidade sim
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A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar
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A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
Pra tudo se acabar na quarta-feira
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Tristeza não tem fim
Felicidade sim
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A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranqüila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor
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A felicidade é uma coisa boa
E tão delicada também
Tem flores e amores
De todas as cores
Tem ninhos de passarinhos
Tudo de bom ela tem
E é por ela ser assim tão delicada
Que eu trato dela sempre muito bem
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Tristeza não tem fim
Felicidade sim
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A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite, passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Pra que ela acorde alegre com o dia
Oferecendo beijos de amor
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ARTHUR SCHOPENHAUER (1788-1860), alemão de nascimento, é um fascinante Filósofo e deliciosamente pessimista. Em 1818 lançou um livro aos trinta anos de idade chamado “O mundo como vontade e representação” onde ele expõe toda a sua percepção da infelicidade da vida. “Viver é sofrer”. Por quê? Grosso modo, ele responderia assim (o farei baseado em “História dos filósofos ilustrada pelos textos” de ANDRÉ VERGEZ e DENIS HUISMAN): Ao refletir sobre quem sou profundamente, descubro intuitivamente que sou uma vontade. Esta vontade é um querer-viver essencial. Mas esse querer-viver não pertence a mim exclusivamente, mas antes a todos os seres.
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Também não é um poder de escolha entre possibilidades, mas se assemelha aos SPINOZA chamou de ‘tendência de todo ser em querer permanecer como ser’ e ao que NIETZSCHE chamará mais tarde de “Vontade de poder”. É um poder cego, é o poder da vida universal, mas que não tem nenhuma intenção, nenhuma finalidade. A individualidade gera o egoísmo que faz apegar-nos ao querer-viver, o que nos torna escravo dele e que é percebido ilusoriamente como uma vontade individual.
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“Lutamos cegamente uns contra os outros para conquistar riquezas e honras que a morte logo nos arrancará. Somos escravos do desejo, desse desejo que é sempre sofrimento – sofrimento da necessidade enquanto não satisfeita, sofrimento também do tédio quando pudemos obter tudo o que desejamos. A vida oscila como um pêndulo: do sofrimento ao tédio”, disse ele. E a necessidade não cessa de renascer das suas cinzas e a satisfação é apenas uma esmola que nos mantém vivo até a vontade (o desejo) voltar de novo. O desejo surge de uma necessidade? Nesse sentido ele (desejo) causa dor, sofrimento ao ser humano. A dor de não ter aquilo que deseja.
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O budismo chama o momento de satisfação da falta, da necessidade de ‘bem’, felicidade – o Filósofo foi bastante influenciado por esse misticismo asiático - mas SCHOPENHAUER chama de tédio.
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E como se resolve isso? Pelo suicídio? Qual o papel do Nirvana na solução desse desespero humano? Perguntem, leiam SCHOPENHAUER. Na internet há bons textos sobre o pensamento dele. Vale a pena. Teremos um feriado na segunda-feira (07/09). Os feriados servem mesmo para quê?
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Um comentário:

umbelarte disse...

Também assisti ao documentário.
Interessante é que aas pessoas não gostam de usar as palavras corretas quando falam de um famoso genial. Disseram que o poeta era desligado com dinheiro, esbanjava, vivia fazendo papagaios... Não se daria outro nome para isso?
Bom feriado.