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sábado, 4 de julho de 2009

A CRÔNICA DA PREVARICAÇÃO, DO ALIENADO E DA VIDA BOA.

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Gosto muito mais de escrever do que de falar quando estou com pessoas nas mais variadas circunstâncias fora da minha atividade profissional. Quando não totalmente calado, só ouvindo, digo uma ou outra coisa para participar e dá um rumo aos discursos. Muito raramente me envolvo em discussões acerba de qualquer tema. Só quando se trata de minha atividade profissional e seus debates, ou quando me envolvo completa e deliberadamente em causas pertinentes, aí minha postura é outra.
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Nas demais circunstâncias gosto mesmo é de ouvir, e como disse, dizendo uma ou outra coisa para dá novos rumos. Outro dia, numa dessas tantas circunstâncias em que nos inserimos em que se falava das divulgações dos atos dos senadores denunciados nacionalmente e das condições terríveis em que se encontra nossa cidade, alguém disse que não tinha nada que ver ou falar sobre isso porque graças ao seu próprio trabalho tinha uma vida boa. O “boa” aqui era uma referência exclusiva à posição econômica da pessoa.
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Imediatamente me perguntei: quem não entende, e por isso mesmo não conhece, a realidade pode ter uma vida boa?
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A pessoa que utilizo como exemplo “acha” que sim. Se ela tem um emprego que independe da esfera de influência do poder político, se sua condição financeira lhe permite ter aquilo que é necessário para uma vida digna, então não deve se importar com o que faz ou deixa de fazer o senador, ou prefeito, seja ele quem for.
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Essa postura não é exclusiva dessa pessoa e nem tampouco restrita à nossa cidade. Quantos no país todo pensam dessa maneira?
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Mas se um prefeito qualquer prevarica, e sem temor de ser punido porque está protegido de punições, as consequências podem aprofundar ainda mais as injustiças sociais. E sua função é também promover justiça social. Quando prevarica deixa os injustiçados socialmente em piores condições.
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Afogando-se num oceano de necessidades – moradia, emprego, educação, alimentação, saneamento básico, limpeza urbana, saúde... – essas pessoas tem que agir para saciar as necessidades mais básicas. Isto porque é próprio do ser humano buscar no ambiente em que se encontra aquilo que é vital para si. Ao agir dentro de um ambiente deserto daquilo que é essencial, não tem como se cobrar dessas pessoas comportamentos como se dirigisse a pessoas que têm tudo o que precisam, como se todos tivessem uma vida boa.
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E como se pode viver bem, ou ter uma vida boa numa realidade assim estabelecida? Basta colocar cerca elétrica, fechar os vidros do carro?
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Infelizmente a pessoa é cega, alienada, não ver que para a sua vida ser boa não basta apenas garantir as suas condições materiais. Enquanto a maioria estiver nadando contra a correnteza de um oceano de necessidades não existirá vida boa para ninguém, porque mais cedo ou mais tarde os nadadores serão arremessados contra os rochedos das residências dos “vida boa”.
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E enquanto um prefeito continuar fazendo a politicalha narcisista, enquanto estiver prevaricando estará colocando mais água nesse oceano. É uma pena que tenhamos que conviver com esse tipo de mentalidade torpe que tem a oportunidade de fazer políticas públicas equitativas e prevarica. E prevarica para entrar para a história apenas como nota de rodapé com aquelas letras miúdas, mas com a garantia de que terá doravante uma vida economicamente “boa”. Mesmo que não consiga explicar moralmente como isso se deu. Mesmo que tenho contribuído decisivamente para aumentar a miséria dos injustiçados.
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Mas que tolice estou dizendo, ele conseguiu nadar e chegou à praia da vida boa ajudado pelos outros do oceano de necessidades. Os outros pensavam que ele voltaria com um barco para resgatá-los. Que nada, ele os esqueceu e construiu um castelo de areia na praia de onde todo dia admira o pôr do sol, que como os alienados, fica ofuscado e não consegue ver o mar, apenas o reflexo do sol no mar, o que faz os necessitados desaparecer. Ô, vida boa.
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