“Para adquirir o bem que querem, os audaciosos não temem o perigo, os avisados não rejeitam a dor; os covardes e embotados não sabem suportar o mal nem recobrar o bem, limitam-se a aspirá-los e a virtude de sua pretensão lhe é tirada por sua covardia; por natureza fica [só] o desejo de obtê-lo.”
É o entendimento sobre a atitude dos que querem ser subalternos, proposto por LA BOÉTIE (1530-1563). Ou seja, o servil perde a sua vida e dignidade servindo-se à subalternidade. E estes assim agem cegamente porque combóiam, sem perceber, certos padrões de conduta que se impõem na perspectiva da manipulação dos ditos “humildes”.
Ontem ocorreu Audiência de Instrução e Julgamento do processo que move contra mim o prefeito de Floriano. Não houve conciliação. Por quê? A possibilidade de acordo, por parte do prefeito, está baseada no que ele acha que lhe é conveniente. Nada de errado aí. No entanto, nada do que ele entende como sendo vantajoso para ele é do meu interesse.
Qual a proposta que ele fez para que o processo cessasse? Que eu fizesse uma retratação. Ou seja, que eu viesse a público pedir desculpas por tudo o que já escrevi sobre a sua administração. O que significa a tal retratação na prática? Que tudo o que eu disse não é verdadeiro, que nada de errado foi praticado pelo gestor, que as denúncias que a imprensa local e do estado divulgam sobre seus atos não são válidas, que ele é competente. Pois é sobre isso que eu falo aqui no Blogue.
Retratar significa: retirar o que disse, desdizer, confessar que errou. Eu nunca fiz qualquer comentário sobre atos que não tenham ocorrido ou tenham sido denunciados publicamente. Desdizer o que eu disse significa dizer que nada aconteceu. Ora, dizer isso é negar a verdade, é negar os fatos. É ser conivente com o descaso administrativo. É ser covarde, embotado. E esses adjetivos certamente não se juntam para formar a minha identidade, o meu caráter.
Então, o que acontecerá a seguir? Decorrerão os prazos estabelecidos para a apresentação dos “memoriais derradeiros” e em seguida haverá o julgamento do processo. Dependendo do resultado, recorrerei à Segunda Instância. E assim a vida segue.
Mas gostaria de manifestar como irá, daqui para frente, ser a minha postura em relação aos atos praticados pelo prefeito de Floriano. Depois de ouvir um número significativo de pessoas do meu círculo mais íntimo, familiares e amigos, sobre a forma acerba com que trato os fatos resolvi fazer uma reflexão. Mas desde já ressalto que continuarei seguindo uma máxima do cantor e compositor cearense BELCHIOR: “... palavras são navalhas e eu não posso cantar como convém / sem querer ferir ninguém...”. Todavia, me perguntei: será que todas as pessoas citadas acima estão enganadas e só eu estou com a razão?
Dessa reflexão cheguei a um ponto inequívoco, mas que de tão normal no meu jeito de ser deixei de percebê-lo na sua inteireza, ou seja, eu o banalizei. É que as vezes sou inflexível (e em alguns aspectos tenho de continuar sendo). Mas isso termina, como me disse um amigo leitor, mesmerizando e contaminando as ideias.
Detesto ser o mesmo, sempre. Tenho necessidade de ser e pensar de modo diferente de tempo em tempo. Pois a cada etapa dessa caminhada os objetivos vão se concretizando e isto consiste em dizer que o que deveria ser dito para mostrar que “o Rei está nu” já foi dito. E sigo algo em que acredito: “tudo muda, nada permanece”. Por isso vou tentar reaprender a falar dos fatos, mas sem eufemismos e com mais objetividade ainda.
Pois continuar do mesmo jeito pode acabar arrastando os fatos do âmbito da objetividade, que é onde eles devem ser analisados como fatos pelos leitores, e trazendo-os para o âmbito da minha subjetividade, o que nunca foi o meu objetivo. E também nem sempre é bom para os fatos. Então, intuí que é tempo de experimentar um modo diferente de falar sobre essas coisas.
Nunca me calarei, mas meu lógos será, daqui para frente, mais comunicativo, menos o ‘eu’ acerbo e mais objetivo. Contudo, nada de amorzinho, benzinho, Jairzinho “paz e amor”. Será um lógos afirmativo, macho. Não haverá transformação essencial, apenas uma mudança cerimonial. A essência continuará sendo aquela que diz quem sou de tempo em tempo e aparelhada com o espírito crítico, denunciador, analítico, satírico, audacioso, corajoso, consciente.
Tomara que não me façam voltar atrás, pois bastará um bajulador torpe vir a público falar coisas que não sabe de mim, e...
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P. S. (1): Não fiz acordo porque quem se dispõe a fazê-lo quase sempre está sem razão ou não acredita nas atitudes ou anda muito apressado. Acredito e confio em mim e no que faço e tenho algum tempo de vida para esperar o fim dessa pantomina.
P. S. (2): Na audiência o prefeito continuou mostrando-se confuso acerca das dimensões da consciência dos “bípedes sem penas” (a que fiz referência na postagem anterior). Ele continua preso ao desconhecimento e ao conceito pré-estabelecido com base no desconhecimento. Não arreda pé disso. Disse que faço críticas pessoais e a seus familiares. Desafio, como disse na audiência, a qualquer pessoa a encontrar no meu Blogue qualquer referência à vida pessoal do prefeito e de seus familiares. Mas quando eles se tornam públicos, ou assumindo funções públicas, todos podem encontrar várias postagens a respeito de suas atuações. Isto só é estranho para quem não aprendeu que a ‘modernidade’ estabeleceu claramente distinções entre essas dimensões. Ele disse também que sou muito agressivo. Fazer críticas não é ser agressivo. Se a pessoa coloca as coisas nesses termos tenta, então, invalidar qualquer manifestação crítica, pois elas, críticas, estariam na conta das atitudes agressivas. Ora bolas, o que se quer é calar a crítica ou estabelecer que só os puxa-sacos podem vir a público manifestarem-se sobre a sua administração. É só ligar os aparelhos nos meios de comunicação da cidade para se ouvir, desde o amanhecer do dia, os escárnios das bajulações torpes apresentarem os fatos de ponta cabeça incentivados que são por uma raçãozinha de pouco mais de um salário mínimo. Com a ressalva de raríssimas exceções iguais ao RIBAMAR DOS SANTOS do Programa “Bom dia Floriano”, Rádio Princesa FM, que têm a dignidade de falar dos fatos como eles são e quando tem de se falar.
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