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sexta-feira, 30 de abril de 2010

CRÔNICA DE UM VIRA-LATA - I.

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“Não sou escravo de ninguém/ Ninguém é senhor do meu domínio/ Sei o que devo defender/ E por valor eu tenho/ E temo o que agora se desfaz...” (1)
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Em primeiro lugar diremos que somos convictos que o conjunto de normas, regras, leis e convenções necessárias são fundamentais para que exista vida em sociedade (socius = sócio, companheiro, parceiro). Sem elas nos resta a barbárie.
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Em segundo lugar, que muitas normas, regras, leis e convenções tornaram-se impedimentos para o exercício das liberdades individuais nestes tempos de exageros do “politicamente correto”. Entendemos que caminhamos rumo a uma padronização generalizada de comportamentos, preferências, escolhas, costumes. Isto é péssimo, pois estamos próximos, nestas posturas que refletem os gostos, escolhas, costumes, de extinguir as diferenças.
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Não vamos, entretanto, falar de normas, regras, leis e identidades pessoais. Não é nossa pretensão. Mas falar de um tipo de convenção (esdrúxula) porque ninguém conseguiu nos convencer de sua racionalidade. Tentaram, mas com argumentos inconvincentes: “É assim porque todo mundo diz isso”; “Vem de muito tempo”; “É uma convenção social”; “É higiênico”... Nada além do estabelecido vulgarmente. Estamos nos referindo à “proibição”, pela convenção, de se usar uma mesma roupa (calça ou camisa) várias vezes seguidas.
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Trabalhei durante dez longos anos numa empresa particular. Foram anos de luta contra os meus gostos e preferências estéticas. Todo dia levantava, fazia a barba, vestia camisa com mangas longas, calça social, sapatos e gravata. E me tornava um ser que não sou por causa de uma convenção conveniente aos valores da empresa. Neste aspecto, foram dez longuíssimos anos sendo outro, ou representando outra personalidade. Por isso é que, em muitos aspectos, é inelutável a força, a pressão e a influência da sociedade sobre nós.
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Nesta época eu trabalhava e estudava. Com mulher e filha dependendo do meu esforço para aturar a tortura, resisti até a minha insatisfação se tornar um entrave na realização do trabalho que executava, e que também detestava. Então resolveram me libertar, quer dizer, me mandar embora. Estava completamente desmotivado.
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Pensei que o mundo tinha se acabado, por causa das necessidades que tinha de suprir. Mas resolvi trabalhar na minha área de conhecimento profissional, Licenciatura em Filosofia. Perdi dez anos de minha vida, hoje eu sei. Enquanto me sustentava e era infeliz deixei de fazer o que hoje faço completo, sem reservas, com alegria. E o que corrobora para o meu bem estar é ter o visual que tenho, que alguns criticam com a intenção de me enquadrar na padronização, mas que é sendo como sou que me sinto bem: com barba por fazer e roupa despojada, muito despojada. Dez anos foram suficientes para eu saber que detesto ser de outro jeito. Só muito ocasionalmente cedo às convenções sociais, no mais zombo delas como os Cínicos ensinaram.
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Minha esposa parece que desistiu de reclamar quando vou trabalhar alguns dias seguidos com a mesma calça ou camisa: “As pessoas vão falar”. Contudo, quando vou trabalhar com farda a semana toda ninguém diz nada. Quando é farda pode. Quando não é, não pode. Mesmo que a não-farda esteja ainda em condições de uso e a farda suja, os convencionais preferem a farda? E o argumento da higiene? E a racionalidade?
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2 comentários:

Edenise disse...

Nunca percebi que tu vai trabalhar sempre com a mesma roupa.Mas agora vou começara a notar(KKKKKK)...

Edenise disse...

Nunca percebi que tu vai trabalhar sempre com a mesma roupa.Mas agora vou começara a notar(KKKKKK)...