KASSIO COSTA MOREIRA, autor do texto abaixo, é aluno do IFPI - Campus Floriano e estuda o 4º ano no curso Técnico de Edificações Integrado ao Médio. Ele também é bolsistas do Programa de Iniciação Científica do IFPI
PIBIC/PIBICJR.
"Desde sua primeira aparição, a reserva de vagas para negros
em universidades públicas tem sido tema de muitas discussões. Mas essas
discussões tornaram-se ainda mais acirradas depois da sanção da lei Nº 12.711
de 29 de agosto de 2012 que obriga as universidades federais a reservarem certa
porcentagem de vagas para os negros. Mas para muitos fica a questão: reservar
vagas para estudantes em universidades vai denegrir o negro ou desnegrar o
denegrido? Ou seja, as cotas vão atacar a reputação dos negros, ou vão colocar
estes no mesmo patamar dos brancos?
Pois bem, meus amigos, com o advento das grandes navegações
foi possível o início de um fenômeno que continua até hoje, mas de maneira mais
acentuada, a globalização. Os povos europeus, dominantes das tecnologias
náuticas, foram pioneiros nas explorações oceânicas “descobrindo”, assim, novos
continentes, entre eles a África e a América. Mais tarde, por volta do século
XVI África e América passariam a ser unidas por um “nó cego” chamado tráfico
negreiro.
O tráfico negreiro terminou em 1850 com a lei Eusébio de
Queiroz. Ele serviu para alimentar um modelo trabalhista adotado no Brasil
desde o início da colonização pelos portugueses, a escravidão. Foram 388 anos
de trabalho escravo negro até que, sob pressão, em 1888 a princesa Isabel
assinou a Lei Áurea.
Os escravos brasileiros estavam libertos, mas sem nenhuma
perspectiva de futuro. Foram abandonados à própria sorte sem dinheiro, sem
terras, sem emprego, enfim, sem nada que lhes dessem condições para se
“inserirem na sociedade”. Em 1889 o Brasil torna-se república e essa mudança de
nada contribuiu para melhorar a vida dos ex-escravos.
Hoje, os negros são a maioria pobre do país, 63% destes e 69%
dos indigentes. Representam uma porcentagem ínfima dos estudantes de ensino
superior e quase não tem representatividade nos cargos administrativos das
empresas. É vergonhoso, mas 124 anos após a abolição da escravatura, nascer
negro ainda significa ter uma enorme possibilidade de viver pobre.
Para aqueles que utilizam o argumento de que qualquer negro,
pardo ou indígena terá direito às cotas eu rebato informando que a reserva de
vagas vai, obrigatoriamente, para os alunos que cursaram todo o seu ensino
médio em escola pública. Rebato também as críticas de que as cotas geram uma
concorrência desleal contra o branco, amarelo e/ou alunos de escolas
particulares. Concorrência desleal mesmo é igualar um aluno pobre, sem
perspectiva de futuro, com um aluno abastado que sempre teve um ensino de
excelência.
Mas felizmente, meus amigos, o governo não quer parar por aí.
Já se fala em cotas para negros nos concursos. Cogita-se que no dia 20 de
novembro, dia da consciência negra, a presidenta da república anuncie essa nova
política. Elogio essa atitude. Com isso o governo prova que quer incluir o
negro no mercado de trabalho. E para os que pensavam que essa política vai “dar
o peixe”, fica bem claro que o que governo está dando são condições pra pescar.
O Estado precisa dar assistência a quem precisa de
assistência. Não há lógica no fato de dar uma vaga numa universidade pública
para quem tem condições financeiras de pagar uma privada enquanto milhares de
pessoas deixam de estudar todos os anos por falta de dinheiro. Dar educação
pública de qualidade é caro, e dar educação pública de qualidade para quem não
precisa de educação pública é mais caro ainda.
Texto de autoria de : KASSIO COSTA MOREIRA
Um comentário:
Já tava com saudades de textos assim!
Abcs,
Chico Mário
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