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Mas o nome da Escola faz referência também ao modo de vida dos cachorros que desprezam completamente as convenções sociais, e como eles (cães) os Cínicos andavam seminus, comiam e viviam nas ruas e até fornicavam em público (1).
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Desprezavam e zombavam das convenções sociais. Afirmavam que “... a virtude reside tão-somente na vontade que permite ao homem, como Hércules, triunfar sobre si mesmo e sempre assegurar sua independência desdenhosa” (2). Zombavam “... daquele que se acha integrado nos usos e costumes de sua cidade, ou de sua pátria, cujas leis cumpre por hábito...” (3). A negação de tudo, até dos prazeres sensíveis, tornaria o homem virtuoso. Não sendo apegado a nada, “... nada lhe falta, pois tornou-se senhor de si mesmo” (4).
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O mais conhecido dos Cínicos é DIÓGENES (404-323 a. C.). Foi expulso de sua cidade natal (phratria) por ter, junto a seu pai, o banqueiro IKÉSIOS, falsificado dinheiro. Exilado em Atenas escreveu a um amigo solicitando que lhe emprestasse uma casa para morar. Como o amigo demorou a responder foi morar num barril de madeira. Alguns atenienses caçoavam dele por ter sido exilado por seus compatriotas, mas sempre respondia: “E eu os condenei a viver na cidade” (5).
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ANTÍSTENES era chamado de o “verdadeiro cachorro”. DIÓGENES se dizia “o cachorro”. Numa de suas viagens, não se sabe o motivo, ele teria sido vendido como escravo “... a um cidadão chamado XENÍADES que, impressionado com a resposta de DIÓEGENES no mercado sobre o que sabia fazer: “Comandar! Quem quer comprar um senhor?”, o fez preceptor de seus filhos” (6).
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Selecionamos as passagens que demonstram zombaria e despojamento às convenções sociais porque desejamos mostrar que os Cínicos abusavam “... das regras dos cidadãos [e] era uma forma de mostrar a eles que viviam por convenções e eram escravos delas” (7).
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O total auto-domínio sobre as paixões, prazeres, desejos, temores levaria o homem a ser senhor de si mesmo. E assim ele se tornaria sábio e feliz. Sem se prender a nada os Cínicos andavam com seus andrajos, bordões e alforjes e comiam o que lhes ofereciam. DIÓGENES era querido e sempre que suas vestes se tornavam imprestáveis e ficava nu recebia vestes novas.
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O que admiro nos Cínicos é a coragem e autenticidade de zombetear de certas convenções sociais e viver da maneira que se sentiam felizes. Certamente não quero mais chegar à conclusão de que fiz coisas nas quais não acredito. Por isso, presas a certas convenções esdrúxulas, algumas pessoas podem zombar dos meus andrajos, enquanto eu as condenarei a viver escravas de suas convenções até o fim de suas vidas, ou da mudança de tais convenções. E sigo sorrindo cinicamente feito um cão zombando das privações a que muitos se submetem para poder se vestir de acordo com as convenções. Au, au, au...
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P.S.: As informações históricas e filosóficas foram consultadas nas seguintes referências bibliográficas:
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· ANDRE VERGEZ e DENIS HUISMAN – História dos filósofos
· PAULO GHIRALDELLI JR: “O cão e a Filosofia no lar” - 17/04/2010
· ROLAND CORBISIER – Introdução à Filosofia
· TIAGO ADÃO LARA – Caminhos da razão no ocidente: a Filosofia nas suas origens gregas.
(1)- Música: Metal Contra as Nuvens. Autores: DADO VILLA-LOBOS/ RENATO RUSSO/ MARCELO BONFÁ).
(2)- ROLAND CORBISIER – Introdução à Filosofia
(3)- ANDRE VERGEZ e DENIS HUISMAN – História dos filósofos
(4)- Idem (2)
(5)- TIAGO ADÃO LARA – Caminhos da razão no ocidente: a Filosofia nas suas origens gregas.
(6)- Idem (2)
(7)- Idem (2)
(8)- PAULO GHIRALDELLI JR: “O cão e a Filosofia no lar” - 17/04/2010