Para a grande mídia e a elite isso
não é mais suportável, “isso já ultrapassou os limites”, como diria editorial
de O Globo.
Quando eu disse no Facebook que o cardápio de reivindicações
estava muito extenso e que isso levaria as manifestações de junho ao desgaste
antes mesmo de chegar ao objetivo, eu quis dizer que as razões que levaram
parte da classe média às ruas para lutar por melhorias em sua qualidade de vida
terminaria por incluir reivindicações que bateriam de frente com os interesses
da classe que domina este país e aí as manifestações entrariam num campo onde
não devem tocar.
A grande mídia, a quem chamo de Partido da Mídia Brasileira
(PMB) – Globo, Veja, Folha, Estadão, Band, SBT - que controla e monopoliza as
opiniões e as verbas publicitárias do país, especialmente as Organizações Globo
que detém cerca de 60% destes dois itens, só daria abrigo, vez e voz aos manifestantes
até que nesse cardápio não contivesse protestos contra os interesses, valores e
objetivos da classe a que o PMB pertence.
Bastou os manifestantes empunharem novos cartazes nas últimas
manifestações reivindicando reforma agrária, reforma urbana, justiça social e
fim das desigualdades econômicas, fim do capitalismo para que o PMB dissesse
basta. Já estão ultrapassando os limites. Já deu. Leia um comentário sobre o editorial do jornal O
Globo mostrando isso clicando AQUI.
O PMB já tinha chegado ao seu objetivo que era, através do
legítimo e democrático direito do povo de lutar para que suas necessidades,
interesses e objetivos fossem garantidos por meio das manifestações, desgastar
a imagem do governo federal a quem o PMB faz ininterrupta oposição. Quando as
manifestações tinham esse cenário “controlado” pelo PMB o povo foi incitado a
ir às ruas e lutar
.
Nesse cenário não havia bandeiras que diziam respeito ao PMB.
O PMB não dá ponto sem nó. A classe social que o PMB representa não utiliza
transportes coletivos urbanos, não utiliza hospitais públicos, escolas
públicas, moradias populares, nada disso lhe diz respeito. Então, por que o PMB
estava dando vez e voz às manifestações?
Certamente para garantir um princípio basilar do tipo de
democracia criado pelos que compõe essa classe social, ou seja, a democracia
burguesa. E também para fazer o que faz diariamente: oposição ao governo
federal.
Liberdade individual, propriedade privada, livre comércio,
acúmulo de riqueza, estado mínimo são valores caros a esta classe social. E
quando o povo quis usar do princípio da liberdade de se manifestar o PMB não
poderia negar-lhe. Não poderia e não pode dizer que vale primacialmente para
ela (elite).
Entra aí uma das características do jogo ideológico: a
generalização. Os princípios que interessam à elite são colocados através do PMB
para o povo como se fossem do interesse dele também. Isto é feito de tal forma
insistente que o povo termina aceitando e defendendo como se dissesse respeito
a ele também.
Mas voltemos às manifestações.
Não interessa ao PMB defender bandeiras contrárias a si
mesmo, e por isso já está desestimulando a continuidade das manifestações
focalizando exponencialmente os atos de vandalismo e violência. Além, é claro,
de estar, com isso, defendendo o direito à propriedade privada, um de seus
princípios basilares. Não se fala mais em “maioria pacífica e apartidária”. O
discurso está mudando aos poucos.
Quando os manifestantes começaram a falar de reformas
estruturais, as citadas acima, o interesse do PMB pelas manifestações
arrefeceu. A Rede Globo na última quinta-feira, 20.06.2013., transmitiu 4 horas
sem interrupções as manifestações pelo país em horário nobre.
Isto nunca acontece. Para manter a programação do horário
nobre ela marca os jogos para as dez da noite. Hoje, a cobertura das
manifestações não passa de alguns poucos minutos, e aborda principalmente os
atos de violência, vandalismo e roubos.
Mas não dá para divulgar no meio de uma massa que não foi
politicamente bem educada as bandeiras da justiça social e do fim das
desigualdades econômicas. Se essas duas bandeiras forem empunhadas
prioritariamente pelos manifestantes o PMB estará em risco como membro da
elite, e a própria elite inclusive.
É que as massas têm o poder de fazer pelo voto uma reforma
estruturante. Quando a presidente Dilma sugeriu na segunda-feira, 24.06.2013.,
a realização de um plebiscito para discutir a reforma política. A Globo e o
PSDB são contra hoje, mas já defenderam o mesmo instrumento no passado (clique AQUI). Isto daria ao povo o direito de decidir
sobre o que a Globo e o PSDB querem restringir ao máximo a participação popular
para resguardar seus direitos elitistas.
Fazer reforma agrária é dividir terras produtivas. Os
senhores feudais do capitalismo não querem ouvir falar disso. Quanto mais
concentrada a terra produtiva mais riqueza acumulada e concentrada haverá.
Reforma urbana? Dividir os espaços sem uso da cidade para dar
oportunidade ao povo de ter moradia minimamente digna e próxima ao local de
trabalho? O PMB responde: que vá morar na mais longínqua periferia (aquilo
que fica no entorno, ao redor do centro) só desse jeito os empresários de empresa de
ônibus coletivos urbanos poderão acumular e concentrar a riqueza.
Justiça social? Que bandeira mais sem sentido. Diria o PMB.
Pois os trabalhadores devem morar bem longe dos donos da cidade, lá na
periferia. Quem já viu fazer sentido, todas as pessoas serem tratadas como
iguais nas instituições políticas, econômicas, judiciais, culturais? As pessoas
são diferentes e, por isso, devem ter tratamento diferente em tudo, diria de
novo o PMB. Pois somos uma sociedade de poucos privilegiados.
Luiz Felipe Pondé, filósofo da elite brasileira, disse em tom de chacota
no programa “De Frente com Gabi” que não tolerava ter de viajar de avião nos
dias de hoje porque os aeroportos estavam lotados de pessoas da classe média e
trabalhadora com seus hábitos e costumes esquisitos e mal educados e que temia
que alguém lhe pisasse o sapato.
Para que justiça social? É cada um na sua. Povo na rodoviária
e a elite no aeroporto. Povo na escola pública bem afastada e a elite nas
melhores escolas privadas no centro. Povo nos longínquos conjuntos
habitacionais e a elite nas suas casas espetaculares e bem protegidas no centro
da cidade. É assim que pensa o PMB.
Fim das desigualdades econômicas? O que o povo tá querendo
com essa bandeira nas manifestações? Igualdade econômica significa o fim do
capitalismo. Se pobre tivesse muito dinheiro quem iria ser trabalhador para produzir,
acumular e concentrar a riqueza para a elite? Quem iria ser explorado?
Não dá certo, diria o PMB. O nosso sistema social e econômico
foi criado e desenvolvido para privilegiar os que concentram a riqueza. Não há
espaço para todos. Igualdade econômica é um sonho ilusório.
Se todos os 7 bilhões de habitantes de nosso planeta
passassem a ter as mesmas condições e nível de consumo e bem-estar dos ricos a
terra não teria condições de fornecer matéria prima e alimento para esse
contingente. Seria necessário que o planeta fosse sete vezes maior do que é
para suportar essa ilusória igualdade. Ah, não é permitido atualmente a cerca
de um terço desse contingente se alimentar correta e minimamente.
Quando as pessoas começaram a pôr em pauta essa discussão o
interesse pelas manifestações se arrefeceu, pois o PMB não quer saber
seriamente de discutir as necessidades urgentes do povo. O que se queria mesmo
era fazer proselitismo político pegando carona nos novos desejos e necessidades
das classes média e pobre.
Antes as pessoas tinham muito pouca moradia, hospitais,
escolas, transportes.
Até 2003, cujo orçamento é de 2002 (FHC), já incluídos os
dois governos do PSDB (partido que representa os interesses da elite e do PMB),
os investimentos em educação eram de 32 bilhões de reais. A partir de 2004 no
governo Lula esse valor foi sendo elevado substancialmente ano após ano até
chegar ao valor de 90 bilhões em 2012 no governo Dilma.
Fernando Henrique Cardoso (FHC) governou este país por dois
mandatos consecutivos e pôs em prática todo o receituário econômico que o PMB
diz que o governo Dilma deveria seguir para levar o país aonde deveria estar.
Pois bem, seguindo esse mesmo receituário (neoliberal), já que FHC é um filhote
ideológico da elite e seu defensor, o Brasil quebrou três vezes.
Por três vezes FHC foi se ajoelhar perante o FMI para
endividar ainda mais o Brasil e tirá-lo da insolvência que ele mesmo causou
(clique AQUI). Com Lula e Dilma, e assim já se passaram 10 anos, alguém já
ouviu falar de FMI, de crise econômica?
As crises são insistentemente criadas pelo PMB. Já houve a
crise midiática dos estádios da copa, a crise sem fundamento de apagão que não
haverá, a crise da inflação que, afinal, está dentro da meta, segundo o IBGE.
As crises que existem são criadas ideologicamente para desgastar o governo que
não reage de forma dura e direta. Fica titubeando e deixando o PMB deitar e
rolar.
O país continua seguindo em frente apesar de as grandes
economias do mundo estarem em crise econômica profunda desde 2008.
FHC em oito anos construiu 8 escolas técnicas, e por força de
lei, pois cada estado deve ter pelo menos uma. Como alguns estados foram
divididos e se tornaram dois, então, forçado pela lei, ele teve de construí-las.
Lula e Dilma, de 2003 até 2012, construíram juntos 259. Desde
D. Pedro II até FHC foram construídas apenas 140 escolas técnicas federais, ou
atualmente Institutos Federais.
Em consequência dessa política educacional, no período de
2003 a 2012 mais de 2 milhões de brasileiros de baixa renda conseguiram chegar
à universidade através dos programas de acesso criados pelo governo federal. Muita
gente está numa universidade devido às políticas educacionais e econômicas dos
governos Lula e Dilma.
Quem valorizou a educação pública, a elite, o PMB ou os dois
governos trabalhistas? Eu seria muito injusto e ingrato, dois horríveis
defeitos, se não reconhecesse.
Reconhecer não significa ser devedor. Tanto é verdade que as
pessoas querem mais, muito mais. A classe trabalhadora passou 500 anos atolada
em miséria, morando em condições às vezes desumanas, com salário de 100 dólares
(cerca de R$ 220,00) na era FHC, sem escola pública de qualidade suficiente
para que 2 milhões de pobres se preparassem para a universidade.
Esse povo quer mais, necessita de mais e foi às ruas
manifestar democraticamente esse grito de cobrança. Já deveria ter feito isso
há mais tempo.
Durante os dois governos do PSDB (FHC) nenhuma universidade
nova foi construída. De 2003 até 2012 foram construídas 63. Os pobres que estão
nas universidades conseguiram o acesso devido às mudanças nos rumos da
aplicação do dinheiro público. Na era FHC o dinheiro público ia quase que
completamente para os bancos, ou seja, para a elite.
Uma das principais bandeiras das manifestações pede pelo fim
da corrupção. A presidente Dilma propôs que a corrupção fosse tratada como
crime hediondo. Com isso ela foi além do grito das ruas e bateu de frente com
os interesses do PMB.
A bandeira pelo fim da corrupção não contempla, incompreensivelmente,
o apelo pela punição aos corruptores. A palavra corrupção está sempre associada
exclusivamente, nos discursos das manifestações, aos agentes públicos
(funcionários públicos e políticos). Nunca às pessoas das empresas que são a outra
ponta do crime.
Essa bandeira empunhada do jeito que está não é apartidária
coisa nenhuma. Tem um partido sim, o partido da falta de conhecimento e
compreensão da realidade de forma completa e justa.
Quando uma empresa não entrega o objeto que o cliente
comprou, é corrupção. Uma empresa que anuncia um produto por um preço e vende
por outro, é corrupção. Uma empresa que entrega um produto com defeito, é
corrupção. Uma empresa que sonega impostos, é corrupção.
Uma empresa que emite uma nota fiscal atestando que prestou
um serviço a um agente público e coloca um preço muito maior do que o real para
que o agente justifique o roubo, é corrupção. Uma empresa que sonega impostos,
é corrupção (leia na segunda foto desta postagem como a Globo pode falar de honestidade quando ela é
acusada de sonegar impostos: 2,1 dois bilhões e cem milhões de reais).
Quem se prejudica com isso? A sociedade, pois os péssimos
serviços e a sonegação a atinge de cheio. Tanto direto quanto indiretamente.
Lutar por mais recursos para a educação e a saúde é uma luta indissociada da
luta contra a corrupção. O dinheiro sonegado deveria ser investido para
solucionar as necessidades reivindicadas.
Quem é contra o endurecimento e a tipificação da corrupção
como crime hediondo é porque deseja, pensa ou já pratica atos corruptos, ou
porque alguém muito querido se encontra nessa mesma situação. Alguém acredita
no fato de que o PMB não tenha ninguém assim sob a sua proteção?
O ex-senador Demóstenes Torres era o símbolo da honestidade e
eficiência política e profissional apresentado pelo PMB. Ele era sempre exposto
quase que diariamente como o ícone do moralidade midiático. Deu no que deu, né?
Jose Serra (PSDB), eterno candidato a presidente, foi denunciado no livro “A
privataria tucana” (denúncias documentadas) como um dos líderes do maior caso
de corrupção que já houve neste país.
Corrupção ser crime hediondo, aí já foram longe demais. Não é
para tanto, diria o PMB.
Outra bandeira ausente nas manifestações e que joga luz sobre
a falta de investimento em educação, moradia, saúde, transporte... é a bandeira
do monopólio midiático.
De 2000 a 2012 os três últimos governantes, FHC, Lula e
Dilma, aplicaram R$ 10.716.883.603,20 (Dez bilhões). Só as Organizações Globo
ficaram com 54,7% desse total, ou seja, R$ 5.863.488.865,02 (cinco bilhões). Todos
os outros meios de comunicação do país ficam com menos da metade de todo o
recurso.
Quantos hospitais, escolas, casas, creches, estradas...
dariam para ser construídos com esse dinheiro? Cadê a indignação com esse
disparate também? Cadê os pedidos de CPI da Mídia?
Alguém viu algum canal de TV mostrando alguma bandeira com
esse pedido? Alguém viu uma bandeira com essa cobrança?
Isso mostra uma coisa, a meu ver. A falta de conhecimento
verdadeiro e o mais completo possível da realidade como fundamento essencial
para se fazer manifestações livres e democráticas. Pois a meu ver faltou muito
de ambos.
A falta de conhecimento limita as opções e as põem restritas
às que o PMB deseja. Como aconteceu. Os manifestantes só empunharam para as
câmeras as bandeiras que o PMB queria que empunhassem.
A falta de democracia ampla se mostrou quando o cardápio de
reivindicações foi estendido até chegar nos confrontos ideológicos apontados
acima. Só pode falar daquilo que pode ser falado.
A longa lista de reivindicações é como um texto de internet,
não pode ser longo porque as pessoas, em geral, perdem o interesse. Fiz este de
propósito para demonstrar.
Por que não buscar fazer fóruns de discussões com especialistas
nas principais áreas de interesse dos manifestantes para que as manifestações
tivessem credibilidade suficiente para convencer de que tudo não passa de um
jogo midiático?
Quantos manifestantes discutiram em assembleias as pautas?
Quantos foram orientados com dados exatos por especialistas sobre as principais
deficiências? Quantos sabiam exata e verdadeiramente o que estavam
reivindicando? Vi faixas que diziam “Queremos ciclovias”, “Queremos ter
direitos”.
Bom, deu no que deu. Vamos aguardar as respostas às
reivindicações. Se o legislativo, o judiciário e o executivo não se mexerem
satisfatoriamente que voltem as manifestações. Mas tomara que, ao voltarem,
sejam pontuais e unificadas. Todo o país deve fechar acordo em torno das mais
urgentes e inescapáveis.
Se voltarem pautados pelo PMB, como foi agora, servirão
apenas como proselitismo político. Se voltarem com o mesmo extenso cardápio
perderão a credibilidade. E nesse caso é o próprio PMB que pedirá à polícia
para descer o cassetete. Aliás, como ela fez (em editorial a Folha de São Paulo
sugeriu vigor na repressão, clique AQUI) no início quando a polícia de São
Paulo (do PSDB) reprimiu violentamente as manifestações e causou indignação e
revolta o que incendiou o país.
Sou plena e completamente a favor das manifestações. Mas que
elas devem ter uma pauta unificada, discutida e centrada nas urgências
prementes. Depois de atendidas e resolvidas deve-se reiniciar todo o processo
com outras pautas. Democracia é isso. Democracia burguesa não suporta cardápio
extenso demais.
Um exemplo que posso citar é a greve unificada dos
professores das universidades federais e dos Institutos Federais. Quando fomos
às ruas a pauta restrita às necessidades mais urgentes já tinha sido discutida
com dados exatos e corretos. Definimos tudo antes e enviamos ao governo. Como
não fomos atendidos partimos para a greve. Só assim conseguimos a maior parte
dos objetivos.
É a democracia burguesa numa sociedade de poucos
privilegiados. É assim. O resto é sonho irreal.
P. S.: Sobre a postagem anterior recebi um comentário raivoso de um leitor que assume uma postura niilista paralisante. Não gosta de política, não confia em políticos e não tem postura ideológica, enfim, é um desses Zés Ruela para quem nada presta e só ele tem a solução para tudo que afinal não é solução nenhuma. Estou cheio desses energúmenos que não sabem ler, são mal escolarizados e querem tirar onda de aniquiladores do mundo. Não servem para nada, não têm solução para nada.
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