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sábado, 15 de janeiro de 2011

MEU AMIGO E A FILHA DO PORTEIRO.

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Certa vez estava no apartamento em que fui morar em Fortaleza com meu irmão e um amigo. Havia chegado recentemente de Floriano. Tinha, então, 15 anos e estava sem fazer nada. Esse amigo veio e falou sobre a possibilidade de vermos uma garota tomando banho.
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Seria fácil. Bastaria irmos até o outro corredor de apartamentos e nos abaixarmos no andar de cima para vermos a garota através da janela do banheiro que ficava no térreo. Fiquei interessadíssimo e saímos rumo ao tal corredor. Chegando lá nos posicionamos e começamos a apreciar todo o espetáculo que ela dava ao se ensaboar.
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Que maravilha, pensei na hora. Hoje não tenho a menor ideia se ela era bonita ou não. Não me lembro se ela tinha um corpo bonito ou não. Mas naquela hora não houve qualquer dúvida sobre olhar ou não para ela. Tinha de acompanhar meu amigo no entusiasmo, pois a cada segundo ele pedia que eu confirmasse que ela era um colosso.
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Esse amigo é uns cinco ou seis anos mais velho que eu. Então, com tanta testosterona nos nossos corpos e com uma mesada restrita tínhamos que seguir a lógica do cantor BELCHIOR e amar as mulheres com as mãos. Desse modo, todo dia tinha de amá-las três vezes ao dia. Em dias mais ocupados eu as amava duas vezes.
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Assim tínhamos de inventar e criar as mais diversas situações e fantasias para tanta testosterona. Assistir àquela garota tomando banho era uma situação com todas as possibilidades de ela se transformar em mais uma amante minha. Eu amava todas as mulheres que me interessavam. E aí estavam incluídas as que moravam no mesmo prédio.
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Esse amigo já tinha, em relação à garota, intenções mais concretas. Quando ela terminou o banho corremos até o apartamento e ficamos por alguns minutos. Foi então que ele me convidou para irmos até o lugar em que ela morava.
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Era a filha do porteiro. Era a casa do porteiro. O cara trabalhava e tinha a comodidade de morar com a mulher e filhos no mesmo local. Homem de sorte, pensei. Mas o lugar tinha um odor terrível.
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Não era um apartamento propriamente. No térreo, entre os pilares de sustentação do prédio, tinham construído um local com dois quartos e uma sala que também era cozinha. Por ser ladeado pelas paredes do prédio não havia janelas. Só duas portas. Uma na frente e outra na parte de trás.
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Sem circulação de ar o cheiro do local era uma mistura terrível de mofo e sujo. Não suportei com a mesma desenvoltura que esse amigo demonstrava sentado ao lado da garota e da mãe dela. Fez elogios aos enfeites de parede e fotos de familiares expostas numa pequena estante.
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Eu estava doido para sair dali. Não estava aguentando mais aquele odor. Principalmente porque percebi que ela não tinha irmã, só irmãos. Mas fiquei por força dos apelos que esse amigo me fazia com seus olhares. Tinha de colaborar na sua empreitada.
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Quando ele terminou com toda a encenação saímos e fomos de volta ao apartamento. Chegando lá reclamei daquele odor terrível. Perguntei se ele não havia notado. Ele disse que sim, mas tinha de ficar mais um pouco para impressionar e tentar conquistar a garota e deixar de amá-la apenas com as mãos.
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Como pode alguém viver num ambiente daquele e não notar que fede tanto? Perguntei. Esse amigo respondeu que por terem se acostumados eles nem percebiam. Duvidei, mas ele confirmou perguntando se eu sentia o cheiro do meu sabonete alguns minutos após o uso.
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Nosso olfato se acostuma. É assim mesmo. Disse ele. E como ela praticamente havia nascido lá não tinha a menor noção que aquilo fedia feito merda. Tudo aquilo era normal, comum e único. Era a realidade dela e suas circunstâncias. Era a sua realidade e sua verdade.
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Nada poderia ser melhor que sua casa. Lá é que era bom. Não entendi naquele momento por que ao nos acostumarmos com certas coisas, principalmente quando apresentadas a nós como verdadeiras ou únicas, passamos a aceitá-las e defendê-las com todas as nossas forças e argumentos.
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Quem já leu o livro “A República” do Filósofo grego PLATÃO pôde entender, na sua Alegoria da Caverna, o diálogo criado entre SÓCRATES e o irmão mais novo do autor, GLAUCO.
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Como pode alguém não enxergar a realidade exterior ao que esse alguém imagina ser a realidade? Como pode aquela garota não sentir o odor terrível do local em que morava? Como pode um fanático religioso acreditar em tudo o que um religioso sedento por dinheiro e poder lhe põe na cabeça?
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Leia a Alegoria da Caverna e veja como o mundo pode ser bem diferente daquilo que imaginamos ou temos certeza de que ele é.
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Quanto à garota? Esse amigo conseguiu alguma coisa com ela, pois após o encontro na casa dela só vivia me condenando por continuar amando as mulheres com as mãos. Mas o que poderia eu fazer? Com uma mesada restrita e com poucos meses numa cidade imensa como aquela, não tinha como ser diferente.
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Poderia continuar arranjando situações novas para dar conta de tanta testosterona, ou voltar para Floriano e continuar indo quase diariamente ao “Pau Não Cessa”.
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4 comentários:

Antonio José Rodrigues disse...

Época, Jair, que até as revistas com nus femininos cheiram a feromônios. O "Pau Não Cessa" foi a escola de muita gente, onde a professora Pereirão atuava com desenvoltura. Abraços

JAIR FEITOSA disse...

Olá AJRS.

Qual é mesmo o nome certo do hormônio que faz surgir em nós(?) homens essa força sexual? Você falou de feromônio, eu falei de testosterona. Como fui escrevendo o texto direto no Blogue não tive tempo de pesquisar, era madrugada e eu só queria terminar.

Quanto a Pereirão não tive a honra de estudar na escola dela. Talvez porque ela fosse tradicional e eu desejasse ir além dos fundamentos da escola dela. Mas a respeito como professora.

Um abraço e obrigado por comentar.

Jair Feitosa.

Chico Mário Feitosa disse...

Olá Jair,
Pensei que o "Pau não cessa" fosse uma lenda, relatada inclusive pela Dadá no programa do Jô rsrs...
Já entrando de gaiato na história dos feromônios, sabe-se que várias espécies utilizam-se de compostos químicos para atrair o sexo oposto. Mas vc ta certo, o hormmônio da virilidade masculina humana é mesmo a testosterona...
abcs!

JAIR FEITOSA disse...

Olá Chico Mário.

Pois é, vindo de você então fico mais tranquilo quanto ao hormônio. AJRS deve ter a explicação dele.

Foi bom "vê-lo" aqui de novo.

Ah, fui muito lá quando estava de férias por aqui.

Um abraço e obrigado por comentar.

Jair Feitosa.