Os gregos antigos viviam
na Pólis, a cidade politicamente organizada com suas instituições. Aqueles que
podiam participar da vida da Pólis eram chamados de politikós. A prática dos
politikós era a política. Os cidadãos eram educados para participar das
decisões nas assembleias através de um processo educacional para o exercício
próprio dessa prática.
Espírito político era um
pressuposto fundamental, portanto. Na democracia grega o espírito político
democrático levava os politikós (políticos) à Ágora para exporem seus pontos de
vista, seus valores, objetivos com a finalidade de transformá-los em ações para
todos através dos discursos e votações.
Quero dizer com isso que
para viver numa democracia há de existir necessariamente o espírito
democrático. O jogo depende essencialmente da presença dele nas relações
políticas. Sem ele há o autoritarismo, despotismo, autocracia.
Os atores do jogo político
têm de saber, de antemão, que o poder será exercido pelo grupo que conseguiu
agregar mais força (aliados) em torno de um projeto em busca de realiza-lo no
exercício do poder. O grupo que venceu o jogo democrático irá exercer o poder,
e só ele. Os grupos envolvidos no jogo pelo poder que perderam se posicionarão
como oposição ao que ganhou. Isto é o lógico, o básico, o evidente.
Quem não possui o
necessário espírito democrático para participar do jogo de “dar e pedir razões”
na Ágora tende a não aceitar que o adversário tem mais força e também melhores
qualidades, argumentos, projetos, experiências, propostas e, portanto, não
reconhece o adversário como vencedor.
É a negação do espírito
democrático. É a inabilidade para conviver com os diferentes. É a prepotência
de querer impor-se para além do desejo da maioria sem se importar se o que
deseja particularmente não seja exatamente o que os outros querem.
Para isso utilizam de
todos os artifícios disponíveis para tentar desvalorizar a vitória do vencedor.
O derrotado, assim, se torna um zumbi que baila pelas vias das instituições em
busca de impor-se para além da escolha da maioria. É terrível, mas é isso o que
acontece. Não há espírito democrático nessa atitude. Ela, atitude, em si mesma é
a mais inequívoca, mais evidente demonstração da falta de educação para a
vivência democrática.
Não basta colocar no
discurso a existência do espírito democrático. É necessário ir além e mostrar
com atitudes democráticas a existência do mesmo ao desejar o poder, mas também ao
mesmo tempo estar preparado para perder o jogo de “dar e pedir razões”. Sem
isso há apenas um discurso oco e que não convencerá nunca os cidadãos.
Ficará para sempre a
indelével marca da falta de “esportividade” que em sentido amplo é a falta de
espírito democrático. Além da deselegância de não ser capaz de reconhecer que as
suas qualidades, argumentos, projetos, experiências, propostas que colocou para
a Pólis não eram as que os politikós desejavam. E sim as do adversário.
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