Fantoche é um rábula que, por ser fantoche, disse, como
tantos outros, que tenho instintos bestiais. Impossível não prestar atenção e
buscar entender o objetivo intencional e significativamente sagrado empregado
nesse epíteto que ele estupidamente tentou colar em mim.
Logo ele que cultiva organicamente uma relação imbricada com
Satanás. Tanto é assim que já foi ver com ele por três vezes, até onde sei,
atendendo ao chamado do Coisa Ruim. Pois, até onde informa o sagrado, Lúcifer
envia recados àqueles com os quais mantém uma relação de confiança,
privacidade, intimidades de todas as ordens. E o Medonho já o chamou para
conversar alertando do acordo que ambos mantêm. O chamado é feito pelo risco de
morte do elemento.
Pois bem, nas conversas eles fizeram um acordo para cooptar
mais gente para a ordem do Cramulhão. Pelo indicativo desse tipo de relação e
buscando entender os aspectos mais idiossincráticos que podem justificar essa
união me ocorreu o discurso de Aristófanes no banquete na casa de Agatão,
relatado por Platão.
Disse o dramaturgo grego sobre a origem do amor erótico: “É
então de há tanto tempo que o amor de um pelo outro está implantado nos homens,
restaurador da nossa antiga natureza, em sua tentativa de fazer um só de dois e
de curar a natureza humana. Cada um de nós portando uma téssera complementar de
um homem, porque cortado com os linguados, de um só em dois; e procura cada um
o seu próprio complemento.”
Desse modo, ele explica que “no início os seres eram duplos e
esféricos, e os sexos eram três, um deles constituído por duas metades
masculinas, outro por duas metades femininas e o terceiro, andrógino, metade
masculino, metade feminino”. Zeus os teriam castigado por terem o desafiado.
Daí a justificativa de busca e
aproximação entre as partes divididas formando os casais eróticos que
conhecemos: homem com mulher, mulher com mulher e homem com homem.
De tão próximos que são (o Fantoche e o Tinhoso) depreende-se
que as partes masculinas originais estão se buscando constantemente mesmo que o
fantoche não queira ir definitivamente dessa dimensão para a dimensão de Satã,
pois há uma outra parte masculina, na dimensão em que está vivendo o Fantoche
burro, que o atraiu e estão formando a parte esférica masculino e masculino.
Aquele por quem o fantoche vomita palavras imbecilizantes.
Para confirmar minha hipótese trago para esta interpretação
versos proferidos pelo cantor e compositor baiano Pepeu Gomes quando este
buscou justificar suas preferências sexuais a partir da indeterminação sexual
de Deus: “Se Deus é menina e menino / Sou Masculino e Feminino...” Por que não?
Há um comercial na TV de um disco de um padre em que o mesmo
declara mais ou menos assim: “Deus fez tudo isso”. Ora, “tudo isso” é tudo o
que existe. O Belzebu existe, segundo o sagrado, então Deus o fez também. Se
Deus não possui identificação sexual, como diz Pepeu Gomes, então o Capeta
possui a mesma indefinição a que Renato Russo se refere ao dizer “E eu gosto de
meninos e meninas”.
O que o Capiroto quer é levar mais e mais gente para a
comunidade dele. Nesse caso, procurou a sua parte apartada por Zeus e o
encarregou de manchar a honra alheia de modo vil e sedento. Ambos são metades
da mesma laranja. Laranja!
O Cão mora no inferno. O inferno é o contrário do céu. Se o
céu fica lá em cima como diz o sagrado, então, por exclusão, na linguagem
binária que empreguei aqui na minha hipótese, o inferno fica lá em baixo, na
barisfera. O Demo mora lá. Para lá tendem aqueles que ele mais preza e deseja.
Então é por isso que quando vejo o Fantoche andando percebo
que ele tende para baixo. Ele anda torto com inclinação para baixo. É natural
que seja assim, pois seu corpo está tentando se juntar à sua parte apartada e
que fica lá embaixo, na barisfera, na casa do Senhor do Inferno.
Tomara que na próxima vez que o Fantoche for se ver com o Rabo
de Seta ele fique por lá de vez. E que não demore muito, pois eles têm muito
que conversar e se amar.
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