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quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

RAQUEL X EU.

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Pedi a minha amiga RAQUEL para dá uma analisada na minha postagem "Minhas condições religiosas". Além de amiga é Psicóloga, mora e trabalha nos E.U.A. Ela me respondeu por emeio e agora me autorizou a transformá-lo em postagem aqui no Blogue. Acima uma foto dela visitando o Hawaii. A seguir a resposta dela e, embaixo, um comentário meu.
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Dear Jair,
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Fui ao seu blog e li seu texto “Minhas Condições Religiosas”.
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Então, em minha opinião, como já te escrevi outro dia, nem sempre o que é lógico é verdadeiro. Vou te relatar um pouco da minha própria experiência. Outro dia, acho que no mês passado, estava eu a ouvir a “ideologia”, a proposta da Igreja Batista. Menino quem acredita naquilo acredita em qualquer coisa, como Lobo Mau, Papai Noel, Fada Madrinha, etc. Então qualquer um de nós que faz reflexões, que se desnuda e faz auto-crítica não poderá nunca seguir essas instituições religiosas que ai se encontram, mesmo na nossa cabecinha imatura da infância nos parece que as coisas não são bem assim.
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Não subestimo a importância das vivencias da infância na formação de sintomas da vida adulta. Mas não gosto de superestimá-las, como tem feito algumas das correntes mais importantes da psicologia contemporânea. A importância da infância na formação de nossas estruturas psíquicas é obvia. O que não concordo é com a forma dedutiva de como muitos raciocinam sobre o tema. Como por exemplo, um homem muito carente que busca qualquer tipo de vínculo afetivo se descobre que esse homem não teve mãe e ”Boom“! É “lógico” que ele não teve amor suficiente na infância. Correlaciona-se os dois fatos como “lógico” e assim verdadeiro. Pode ser “lógico”, mas como disse antes nem tudo que é lógico é verdadeiro. Não desprezo a possibilidade de certas experiências dolorosas terem forte influência sobre a formação da personalidade de alguns. Isso em virtude de terem sido expostas as dores muito graves ou por terem um espírito muito delicado como os que se tornam tímidos ou gagos em virtude das agressividades dos pais, ou pessoas que se tornam obsessivas por não terem tido espaço para expressar suas raivas e etc. Penso não ser correto generalizarmos esse tipo de reflexão só porque nos parece “lógico”.
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Voltando a minha própria experiência, quando cursava o ginasial, que depois virou primeiro grau maior e hoje não sei como se chama, mas com certeza você sabe, eu não era batizada e estudava em colégio de freiras. Meu pai ateu, minha madrasta aquela católica não-praticante, pois bem, claro que as freiras cobravam isso quase que diariamente para que eu me batizasse e coisa e tal, me informaram certa vez que após o batismo eu ficaria sem pecado algum, e eu disse: “Eita Irmã, então vou pecar bem muito antes disso”. Claro que tive um castigo por essa afirmação. As colegas me viam como “doidinha” e isso não me afetou muito, mas tive as minhas punições e fui excluída algumas vezes de certas coisas na escola por esse fato. Anos depois quando minha irmã mais velha, Ruth, casou-se com um francês de família católica foi preciso ter o tal batistério. Meu pai aproveitou e mandou batizar a todos, caso alguém futuramente fosse casar na Igreja Católica. Eu até hoje não tenho ideia onde se encontra meu batistério, pois fomos todos batizados em casa, estava eu com 14 para 15 anos de idade. Resumindo, no meu caso teve importância quase zero em minha vida, não chega a zero por eu achar os fatos relacionados a ser pagã na época tolos, e hoje mais ainda.
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Penso eu que, se o que ocorreu com você não tivesse ocorrido, você hoje teria as mesmas opiniões em relação a Deus, Igrejas, Religiões, Cultos, Seitas, etc. É difícil pensar diferente, ser diferente, saber diferente. É difícil ser maduro, é difícil quando passamos parte de nosso tempo refletindo sobre as coisas, nós mesmo, os outros, e assim vai, e sermos aceitos. É um preço que pagamos por questionar e por querer saber. Tudo tem um preço, as pessoas nos olham diferente pelo o fato de sermos diferentes mesmo. Doloroso algumas vezes, mas penso que vale a pena.
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Bom, meu querido amigo, espero ter respondido. Vou agora para os braços de Morfeu. Amanhã cedo o dever me chamará.
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Bjsss
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RAQUEL ARAUJO, Dip LC.
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Querida RAQUEL.
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Eu não quis fazer uma descrição mecânica entre causa e efeito. Até porque não sou afeito a esse tipo de raciocínio. Mas você está certa em apontar, na sua descrição, o meu erro. Da forma como escrevi, o que se entende é isso mesmo que você disse, portanto não me expressei adequadamente.
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O que quis dizer, e agora vou tentar de um modo menos obscuro (ou dedutivo-mecânico), é que vivendo num ambiente onde a coerção religiosa é perversa e próxima do inescapável a gente quase não consegue se desvencilhar de também ser religioso. Ainda bem que nascemos no século XX e vivemos num tempo em que cada vez mais pessoas tem tido a liberdade de não serem religiosas.
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Mas pelo seu e o meu exemplos percebemos claramente a imposição da religião e seus preceitos éticos como condição para a socialização ainda permeando algumas mentes tardiamente medievais. Desse modo eu quis dizer não que houve uma relação mecânica da atitude da professora com a minha escolha pelo agnosticismo. Mas certamente aquilo, de alguma forma, me incitou a caminhar noutra direção que não a da religião. Mesmo que de forma inconsciente. Ou não propositada.
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Como eu disse no texto, aquela relação de imposição soberba que deseja uma submissão cega não me causou boa impressão da religião. Aliás, nunca gostei desse tipo de relação. Abri mão de servir ao Exército exatamente por isso. Abri mão de muitas outras coisas porque não aceitava a minha sujeição a ditames autoritários. E, em algumas situações, como não pude mudar tudo sozinho terminei deixando-as para trás. Acredito muito mais que ganhei com isso. Aí entra em cena mais um componente dessa complexa questão: não me queira ter como cordeiro, eu nunca serei um. Assim, a questão do autoritarismo desperta em mim rejeição plena, total. Acredito no diálogo para a efetivação da hierarquia, não no autoritarismo. Por isso bato forte nesse assunto.
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Então, aquele episódio, dentre tantos outros, tais como: liberdade para não ser carola, conviver com colegas não-religiosos, descrença nas promessas religiosas, amadurecimento intelectual, leitura diversas..., como disse no texto, foi onde tudo começou. Não houve uma determinação do tipo causa-efeito mecânica, como já disse, mas um primeiro passo, que eu poderia não ter dado se a relação não contivesse aquele elemento repulsivo da imposição autoritária. Mas que tivesse me convencido com argumentos racionais. Não sei ao certo. Talvez, mesmo, a religião seja a papoula vermelha de Morfeu. E certamente isso teria me feito continuar dormindo nos braços dele até hoje. Ainda bem que acordei.
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Enfim, agradeço porque a sua descrição me levou a esta redescrição do fato. Outro dia assistindo a um DVD do GERALDO AZEVEDO (lembra?), ele disse que gosta de parceiros musicais que digam coisas que ele não foi capaz de pensar sozinho. E desse jeito acrescenta alguma coisa na obra musical dele. Algumas pessoas dizem que converso pouco, ou que tenho poucos amigos. É verdade. Mas esses poucos são como você que me espantam com sacadas que me fazem pensar. Outro dia conversei com um amigo (EVERARDO LUZ, professor da UFPI - CAFS - Floriano) que, havia alguns meses não nos víamos, me falou de coisas que compensaram o tempo que passou e por outros tantos meses que possam vir.
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Por isso, querida amiga, gosta de você. Gosto de dialogar com você. E me corrija sempre, eu necessito disso.
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Um ósculo e um abraço laico.
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JAIR.
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Quando eu começar a minha viagem, acompanhado de VIRGÍLIO, pelo Inferno e pelo Purgatório, certamente encontrarei muitos daqueles que julgam a minha posição em relação à religião como sendo coisa do demônio, e outras coisas ridículas mais. Quando lá nos encontrarmos seguirei os conselhos de VIRGÍLIO para que não tenha pena desses coitados. Vou seguir em frente e cada um deles que usa a religião para condenar e excluir os outros estarão enterrados de cabeça para baixo. E lá ficarão porque usaram a "religião do perdão e da amizade" para transformar os diferentes em demônios.
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