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Quando estudava o equivalente na época – final da década de 70 - ao Ensino Fundamental de hoje no Ginásio Primeiro de Maio (GPM), numa aula de religião, a professora, uma freira que não recordo o nome (e tampouco me importa), tratava de um tema bíblico: o batismo de CRISTO.
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Como eu fazia parte daquela turma de alunos menos interessados em religião e mais nas meninas das outras turmas, não levava aquele negócio de aula de religião a sério. Aliás, nunca levei. Mas começamos a falar sobre quem era e quem não era batizado. Num momento a professora pediu atenção a todos, queria fazer uma pergunta: “Quem não era batizado ali na sala?”
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Me preparei entusiasmado e levantei empolgadamente o braço. Olhei para um lado e para o outro. Olhei para frente e para trás. Ninguém mais além de mim havia levantado o braço. Todo mundo me olhou admirado e gozando de só eu não ser batizado.
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A professora se dirigiu a mim e perguntou por que eu não tinha ainda participado da cerimônia de batismo. Eu disse que não sabia. Ela, então, pediu que eu fosse à diretoria. Perguntei por que, se não havia feito nada de errado. Ela, então, disse: "Você não é batizado. Não pode ficar aqui”. Fui à diretoria e lá me perguntaram logo o que estava fazendo ali de novo. Respondi que a professora de Religião havia me encaminhado pelo motivo de não ser batizado. Pois não é que a Diretora me mandou embora e só voltasse na companhia de minha mãe.
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Chegando em casa minha mãe foi logo perguntando o que havia feito de novo na escola para ter chegado tão cedo. Respondi contando o acontecido antes que ela me desse uma sova (o que era bastante comum). Ela ficou sem saber o que dizer. Mas o certo é que tivemos de ir juntos à escola no outro dia.
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Lá chegando minha mãe explicou que havia decido que um dos irmãos dela, tio ANTÔNIO FREITAS, seria meu padrinho. Só que ele morava no Rio de Janeiro, era militar do Exército (hoje está na reserva e morando em Sergipe), e por viajar constantemente não tinha tido ainda a oportunidade de vir a Floriano para a tal cerimônia. Mas que ele viria o mais breve possível. A Diretora assentiu que eu ficasse lá, mas com uma condição: “Não poderia demorar muito”. Minha mãe concordou com a condição e foi embora. Eu fiquei e fui à sala de aula. A gozação continuou até os colegas esquecerem que eu não era batizado.
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No ano seguinte fui estudar em Fortaleza. Lá, ainda bem, não fizeram essa pergunta porque não tínhamos aula de doutrinamento religioso. E quando me tornei adolescente fui ficando cada vez mais cético. No final das contas eu é que não queria mais ser batizado. De tanta vergonha que senti e da raiva que fiquei pela exposição ridícula que aquela freira me fez passar fui me distanciando ainda mais de religião. E esse distanciamento foi alimentado pelo entendimento que fui adquirindo aos poucos dos propósitos das religiões. Me tornei verdadeiramente um cético. Hoje sou agnóstico.
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O GPM é uma escola particular. Estuda lá quem concorda com as diretrizes culturais, econômicas, socais e religiosas. Mas utilizar a religião como meio de exclusão e ridicularização é uma demonstração de intolerância e soberba. Não é à toa que muitos seguidores têm deixado a Igreja Católica. Alguns membros dela estão muito acostumados ao seu poderio e à sua riqueza e, por isso também, agem com muita displicência e certo descaso com seus seguidores.
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Sobre religião penso parecido com THOMAS JEFFERSON (1743—1826) que propôs a privatização das religiões. Cada um que tenha a sua crença deveria fazer seus rituais e suas oferendas no âmbito particular, em sua casa. E ninguém deveria ser obrigado e constrangido a participar de uma religião sem que não queira. “Ser uma pessoa religiosa não deveria ser diferente de um cidadão democrático”, ensina GIANNI VATTIMO (1936).
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Aquela freira com sua atitude obtusa me ensejou ao agnosticismo mesmo sem querer. Hoje sei que esse foi o primeiro passo na direção do meu agnosticismo. Foi aí onde tudo começou.
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Nessa mesma época minha mãe, que teve formação religiosa na Igreja Batista e meu pai na Igreja Católica, só deixava que eu (meu irmão e irmãs) fosse passear nos fins de semana na praça central (local onde quase todo mundo se reunia, se socializava) se eu fosse à missa. Era a minha segunda condição religiosa.
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Para que eu não a enganasse, não assistindo à missa, ela pedia alguns vizinhos que me observassem. Então, depois da missa eu podia me divertir, namorar e encontrar amigos. A religião, sempre a religião como condição para viver.
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Namorei garotas da Igreja Batista. Minha terceira condição era que eu participasse dos cultos. E lá estava eu sentado fazendo todo o ritual religioso para poder namorar aquelas garotas lindas. No final tinha sempre o ritual de levantar o braço aquele que não fazia parte da igreja, mas que estava ali com eles.
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E eu, mais uma vez, tinha de levantar o braço para me mostrar como um estranho. Nesse caso, eu não estava nem aí para religião também, e só pensava em depois dá uns beijos e abraços naquelas meninas lindas. Pelo menos lá eu como não pertencente era visto como alguém que deveria ser incluído. E era saudado por todos numa atitude de boas vindas surpreendente.
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Religião, sempre uma condição para a socialização. A minha utopia é viver num mundo laico em que a socialização não seja condicionada por um argumento metafísico imposto sem diálogo a todos que queiram apenas ser felizes.
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A incoveniência impositiva religiosa se tornou, nos dias atuais, tão séria que alguns intolerantes, inconsequentes, autoritários e sem noção me qualificam com adjetivos que identificam os não crentes como seres bestiais. Foi para isso que esses fundamentalistas frequentaram o catecismo?
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Assim como a freira esses arrogantes sem procedência desejam me excluir da convivência social a partir de argumentos idiotas e irracionais. Prefiro o meu agnosticismo “não-missionário”. Não o imponho a ninguém. Tanto é que as minhas duas filhas acreditam que Deus existe e praticam rituais religiosos.
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Por fim, peço que permitam a um agnóstico desejar boas festas a todos e que brindem àquilo que realmente vale a pena. Um abraço laico.
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Como eu fazia parte daquela turma de alunos menos interessados em religião e mais nas meninas das outras turmas, não levava aquele negócio de aula de religião a sério. Aliás, nunca levei. Mas começamos a falar sobre quem era e quem não era batizado. Num momento a professora pediu atenção a todos, queria fazer uma pergunta: “Quem não era batizado ali na sala?”
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Me preparei entusiasmado e levantei empolgadamente o braço. Olhei para um lado e para o outro. Olhei para frente e para trás. Ninguém mais além de mim havia levantado o braço. Todo mundo me olhou admirado e gozando de só eu não ser batizado.
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A professora se dirigiu a mim e perguntou por que eu não tinha ainda participado da cerimônia de batismo. Eu disse que não sabia. Ela, então, pediu que eu fosse à diretoria. Perguntei por que, se não havia feito nada de errado. Ela, então, disse: "Você não é batizado. Não pode ficar aqui”. Fui à diretoria e lá me perguntaram logo o que estava fazendo ali de novo. Respondi que a professora de Religião havia me encaminhado pelo motivo de não ser batizado. Pois não é que a Diretora me mandou embora e só voltasse na companhia de minha mãe.
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Chegando em casa minha mãe foi logo perguntando o que havia feito de novo na escola para ter chegado tão cedo. Respondi contando o acontecido antes que ela me desse uma sova (o que era bastante comum). Ela ficou sem saber o que dizer. Mas o certo é que tivemos de ir juntos à escola no outro dia.
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Lá chegando minha mãe explicou que havia decido que um dos irmãos dela, tio ANTÔNIO FREITAS, seria meu padrinho. Só que ele morava no Rio de Janeiro, era militar do Exército (hoje está na reserva e morando em Sergipe), e por viajar constantemente não tinha tido ainda a oportunidade de vir a Floriano para a tal cerimônia. Mas que ele viria o mais breve possível. A Diretora assentiu que eu ficasse lá, mas com uma condição: “Não poderia demorar muito”. Minha mãe concordou com a condição e foi embora. Eu fiquei e fui à sala de aula. A gozação continuou até os colegas esquecerem que eu não era batizado.
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No ano seguinte fui estudar em Fortaleza. Lá, ainda bem, não fizeram essa pergunta porque não tínhamos aula de doutrinamento religioso. E quando me tornei adolescente fui ficando cada vez mais cético. No final das contas eu é que não queria mais ser batizado. De tanta vergonha que senti e da raiva que fiquei pela exposição ridícula que aquela freira me fez passar fui me distanciando ainda mais de religião. E esse distanciamento foi alimentado pelo entendimento que fui adquirindo aos poucos dos propósitos das religiões. Me tornei verdadeiramente um cético. Hoje sou agnóstico.
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O GPM é uma escola particular. Estuda lá quem concorda com as diretrizes culturais, econômicas, socais e religiosas. Mas utilizar a religião como meio de exclusão e ridicularização é uma demonstração de intolerância e soberba. Não é à toa que muitos seguidores têm deixado a Igreja Católica. Alguns membros dela estão muito acostumados ao seu poderio e à sua riqueza e, por isso também, agem com muita displicência e certo descaso com seus seguidores.
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Sobre religião penso parecido com THOMAS JEFFERSON (1743—1826) que propôs a privatização das religiões. Cada um que tenha a sua crença deveria fazer seus rituais e suas oferendas no âmbito particular, em sua casa. E ninguém deveria ser obrigado e constrangido a participar de uma religião sem que não queira. “Ser uma pessoa religiosa não deveria ser diferente de um cidadão democrático”, ensina GIANNI VATTIMO (1936).
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Aquela freira com sua atitude obtusa me ensejou ao agnosticismo mesmo sem querer. Hoje sei que esse foi o primeiro passo na direção do meu agnosticismo. Foi aí onde tudo começou.
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Nessa mesma época minha mãe, que teve formação religiosa na Igreja Batista e meu pai na Igreja Católica, só deixava que eu (meu irmão e irmãs) fosse passear nos fins de semana na praça central (local onde quase todo mundo se reunia, se socializava) se eu fosse à missa. Era a minha segunda condição religiosa.
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Para que eu não a enganasse, não assistindo à missa, ela pedia alguns vizinhos que me observassem. Então, depois da missa eu podia me divertir, namorar e encontrar amigos. A religião, sempre a religião como condição para viver.
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Namorei garotas da Igreja Batista. Minha terceira condição era que eu participasse dos cultos. E lá estava eu sentado fazendo todo o ritual religioso para poder namorar aquelas garotas lindas. No final tinha sempre o ritual de levantar o braço aquele que não fazia parte da igreja, mas que estava ali com eles.
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E eu, mais uma vez, tinha de levantar o braço para me mostrar como um estranho. Nesse caso, eu não estava nem aí para religião também, e só pensava em depois dá uns beijos e abraços naquelas meninas lindas. Pelo menos lá eu como não pertencente era visto como alguém que deveria ser incluído. E era saudado por todos numa atitude de boas vindas surpreendente.
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Religião, sempre uma condição para a socialização. A minha utopia é viver num mundo laico em que a socialização não seja condicionada por um argumento metafísico imposto sem diálogo a todos que queiram apenas ser felizes.
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A incoveniência impositiva religiosa se tornou, nos dias atuais, tão séria que alguns intolerantes, inconsequentes, autoritários e sem noção me qualificam com adjetivos que identificam os não crentes como seres bestiais. Foi para isso que esses fundamentalistas frequentaram o catecismo?
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Assim como a freira esses arrogantes sem procedência desejam me excluir da convivência social a partir de argumentos idiotas e irracionais. Prefiro o meu agnosticismo “não-missionário”. Não o imponho a ninguém. Tanto é que as minhas duas filhas acreditam que Deus existe e praticam rituais religiosos.
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Por fim, peço que permitam a um agnóstico desejar boas festas a todos e que brindem àquilo que realmente vale a pena. Um abraço laico.
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P.S.: Era para ter feito esta postagem ontem. Tentei até, mas o Blogger da Blogspot estava impossível de ser acessado. Não tem problema, agora está aí. Divirtam-se. E a foto que ilustra esta postagem verdadeiramente não é de meu batismo (que nunca houve).
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