A CEGUEIRA CONGÊNITA.

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O retrato do PSDB e a dificuldade de se entender a popularidade de LULA e como reconhecer a sua inteligência. Leia e entenda essas questões a partir do ponto de vista do Filósofo pragmatista paulistano PAULO GHIRALDELLI JR.

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"PSDB MORIBUNDO
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“Voto não enche barriga” – Vargas. “Barriga cheia enche minha urna” – Lula (hipoteticamente). Essas duas frases mostram bem a diferença entre o estilo Vargas e o estilo Lula.
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Vargas precisou de uma ditadura para se tornar um herói popular. Lula precisou de uma democracia para se tornar um Vargas. Ou quase um Vargas. Pois Lula, em um aspecto, é melhor que Vargas, pois não tem em sua história nenhuma “queda” pelo autoritarismo, a não ser aquela que todos nós brasileiros temos, algo vindo dos restos do passado colonial e escravista. Sim, não é pouco, mas não é o de Vargas.
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Esse é um dado que os menos de 30% que votam em Serra, num claro voto anti-Lula, desconsideram. Essas pessoas não percebem – e não adianta mostrar a elas, estão cegas! – que coisas como o “mensalão” ou essas supostas investigações da vida de familiares de Serra, não são o propriamente “estilo Lula”.
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Não estou dizendo que Lula não sabia do “mensalão”. Lula não sabia da técnica do “mensalão”, mas que ele tinha consciência, sim, que havia um esquema pelo qual o PT (especialmente Delúbio Soares) estava controlando o Congresso, isso ele tinha. Muitos outros que disseram que não sabiam, sabiam! Mas sabiam “por alto”. E sabendo dessa forma, “por alto”, podiam afastar da própria consciência o pecado, isto é, olhavam à noite para o rosto no espelho e diziam: “bem, não comecei isso e não quero saber de detalhes”. Em determinado momento até Zé Dirceu conseguiu dizer isso para ele mesmo, pois há certos crimes que não precisam ser conversados entre o grupo criminoso.
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Todavia, essa idéia de que Lula precisa de elementos anti-democráticos para ganhar eleição, isso é balela. Quanto mais democracia, melhor para Lula. Ele sabe disso. Aliás, ele sempre soube. A oposição perde porque não consegue entender isso. A oposição é elitista demais e, por isso, chega a ser burra.
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Todo dia as TVs – mesmo as mais anti-PT – mostram os números espetaculares de nossa economia, principalmente a elevação do padrão de vida de muitos brasileiros em um tempo curto. O mundo nota isso! Mas, o elitismo do PSDB e de seus eleitores anti-Lula não consegue de modo algum levar isso em consideração. São pessoas tão insensíveis à pobreza e às reais condições do Brasil latino-americano, que ficam achando que Lula comprou os votos de cada um com o “sistema de bolsas”. Não entendem que o PAC funcionou no que tinha de funcionar e que os programas sociais, de fato, de três anos para cá, começaram a fazer efeito não só como populismo, mas como real política social-democrata – aquela política social democrata que o PSDB, que é social democrata no nome, não consegue fazer. Não percebem que isso é fruto da democracia, não notam que isso só foi feito porque Lula tinha de ganhar no voto, e que é assim que funciona a democracia. Não notam que Lula, por saber jogar o jogo da democracia – que ele provou quando se tornou um leão ao reagir ao “mensalão”, percorrendo o Brasil todo novamente –, soube dar aquilo que, no passado, Vargas deu à população. Não entendem como que Vargas conseguiu jogar Lacerda no lixo histórico, aquela condição nojenta de ter de bater na porta de generais para tentar o poder.
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Mesmo o PSDB vendo Alckmin ganhar em São Paulo, exatamente por causa da lembrança do “desenvolvimentismo” de Covas, a cúpula do partido não consegue perceber que Serra e o próprio PSDB nacional não poderiam decolar só com inaugurações de maquetes, pancada em professor na Av. Paulista, baixos salários para o funcionalismo público e, enfim, uma total falta de diálogo com os “de baixo”. Não! Eles teimam em acusar Lula e o PT de anti-democráticos, achando que isso “pega”. Mas isso não adianta, por uma razão simples: Lula não aparece para a população – e agora nem Dilma – como não democráticos. Pois, de fato, Lula não é anti-democrático. Não, ao menos, no sentido pintado pelo PSDB. Ele é um político que só consegue vencer na democracia. Seu discurso contra a ditadura militar era ruim. Aliás, nessa época, Lula perdia todas para Brizola e Montoro em palanque. Até para Ulisses! Lula é bom em campo aberto. E ele sabe disso. Quem não sabe são os conservadores.
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No fundo, o PSDB perde para Lula, mais uma vez, por uma razão super simples: os conservadores de tipo UDN não entendem como é que Lula, sem a vida escolarizada deles, pode ser mais inteligente que eles. Mas o fato é que Lula é mais inteligente que eles. Ou, melhor dizendo: Lula não é cego para a política como eles.
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O PSDB hoje não tem mais os homens que o fundaram. Montoro e Covas já se foram. Além disso, o PSDB nunca foi, realmente, um partido que iria decolar. Só chegou aonde chegou porque abraçou pelas costas Collor e ficou no governo Itamar. Então, pelo Real – um feito solitário de FHC e sua equipe, e não do PSDB –, o PSDB conseguiu chegar à presidência. Mas, terminada essa fase, voltou ao leito que Ulisses Guimarães sempre disse que era o destino dos tucanos: ser um “PMDB acadêmico”, um PMDB conservador e elitista. Aliás, diga-se de passagem, Sarney hoje tem uma visão menos conservadora da política, no PMDB, que o próprio PSDB. Sarney sabe o que Delfin Neto sabe: “Lula é o cara”. E é o cara porque sabe jogar o jogo do momento, o jogo da democracia.
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Vejam só a que ponto chegou o PSDB! Um total isolamento em relação aos eleitores que FHC conquistou para o partido com o Real.
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Marx estava certo quando deixou no ar a tese de que ideologia às vezes cega mais quem aparentemente está no seu comando do que quem deveria ser ludibriado por ela. O véu elitista do PSDB funciona como uma venda nos olhos do próprio PSDB. Serra, de centro esquerda, foi parar no colo da Revista Veja, da direita brava, uma revista que, em seus artigos, espelha a face dos eleitores paulistas mais conservadores da história da República."
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Texto de autoria de: © 2010 PAULO GHIRALDELLI JR.
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Filósofo, escritor e professor da UFRRJ
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09/09/2010

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