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terça-feira, 19 de março de 2013

SONHADOR DELIRANTE, OU VALE TUDO?



Texto agora corrigido e atualizado.


Situações que exigem exame sobre a decisão a ser tomada são necessárias para se saber que princípios éticos a pessoa possui ou está utilizando para orientar as suas decisões. Desse modo, em situações assim, o sujeito se depara com aquilo o que é moralmente. Mas também sobre aquilo o que quer para os outros. Além de se saber, é claro, que os seres humanos são naturalmente egoístas e, às vezes, desejam sobrepor os interesses individuais, ou de grupos, sobre os dos demais.

Não sou seguidor contumaz da moral de Kant (1724-1804), mas lembrei do seu livro dedicado “À paz perpétua” quando ele diz que devemos fazer um acordo entre a moral e a política. A moral sendo um dever, segundo ele, não pode ser dissociada da prática política, pois assim haveria “um conflito entre a política [e] a moral”.

Kant defende que ambas devem “estar inteiramente unidas”, caso contrário, se se defende a ação separada da teoria cair-se-ia numa “teoria das máximas de escolher os meios mais aptos para suas intenções, avaliadas segundo a vantagem, isto é, negar absolutamente que haja uma moral”.

Não é incomum a defesa de que a vida moral deve ser dissociada da prática política e que quem assim não age é um sonhador delirante, um ser abstraído da dura realidade concreta. Na verdade, quem pensa desse modo faz apenas a defesa da ação dissociada e não de um conceito universalmente aceito da prática política.

Quem defende a dissociação tem a intenção de agir dissociadamente porque ao avaliar as consequências enxerga a maior probabilidade e possibilidade de sobrepor seus interesses individuais, ou de seu grupo, sobre os interesses da maioria. Penso que isso não é mais do que uma justificativa para agir de acordo com os valores morais que lhe permitem ir além do moralmente aceitável.

Dizendo-se maquiavélicos os defensores da dissociação repetem um mantra que não cabe seriamente na boca de Maquiavel. Assim sendo, dizem que a dissociação foi defendida pelo pensador italiano e posto em favor do desenrolar prático das ações políticas. Está na hora de voltarem ao florentino para entender o que ele disse.

Acredito que antes do político ético precede-o o homem ético. O homem nasce e no percurso de sua vida rumo à prática política é ensinado a agir moral e eticamente. Então, como dissociar tudo aquilo que foi internalizado na hora de se decidir que atitude tomar quando se exige a demonstração dos valores que orientam as ações?

Ou o sujeito não internalizou as normas, os costumes morais, e assim, segundo Kohlberg, vive no estágio moral pré-convencional (no nível da heteronomia), ou ele é deliberada e propositadamente um agente imoral agindo politicamente. Portanto, está aí uma das explicações para tanta roubalheira na política a partir do exercício de cargos públicos.

Está aí uma demonstração de que uma situação extrema demonstra muito mais sobre o caráter do sujeito, ou agente político, do que propriamente pode suscitar (como desejam os imorais) uma reformulação das teorias morais sobre a política. Não são as teorias políticas que estão dissociadas da realidade concreta e dura em que se vive, mas é apenas um ladrão que inventou de agir politicamente.

O passado recente de nossa política está eivado de exemplos de sujeitos assim. Sujeitos pobres que se tornaram, de uma hora para outra, milionários. E não me convencem aqueles que os defendem dizendo que política é assim mesmo. Que na política vale tudo. Se isto fosse verdade teríamos de juntar, como sugere Kant, a teoria à prática e dizer que na vida, também, vale tudo. Seria, assim, a construção definitiva do paraíso oficial dos malfeitores. 

Será que é assim mesmo? Vale tudo para tudo?   



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