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da Internet.
“Somente aquele que é
capaz de estar a sós consigo mesmo, ou aquele que é capaz de ser uma boa
companhia para si mesmo no diálogo do pensamento, será capaz de se tornar um
amigo no mundo comum, pois não estará tão colado em si mesmo a ponto de apenas
impor irrefletidamente a sua doxa [opinião] totalmente surdo à argumentação alheia.
Também o eu é uma espécie de amigo”. (Hannah Arendt).
Interpretando Sócrates, Arendt
leva adiante essa possibilidade da auto convivência como fundamental para que
nós, a sós consigo mesmo, possamos utilizar esse momento para refletirmos sobre
nossa capacidade de julgar, avaliar e de unir o que pensamos ao que somos e
fazemos.
Pois o que nos leva a não
matar é também o fato de não suportarmos a ideia de conviver com quem mata, nos
ensinou Sócrates. Se penso sobre isso e admito que matar não faz de alguém uma
boa pessoa, então o que posso falar para mim mesmo se chego a cogitar que eu
poderia matar alguém simplesmente por ser ou pensar diferente de mim?
Nesse diálogo posso
adiantar para mim mesmo, sem me importar por enquanto com o que os outros vão
dizer é que a imagem que tenho de mim é a imagem que eu gostaria que os outros
a tivessem. “Seja como você gostaria de aparecer para os outros”, nos disse
Sócrates. Então eu não sou um só entre tantos e nem posso ser quem sou sendo
sozinho independente de minha relação com os outros. Necessito dos outros para
ser quem sou e necessito de mim para ser quem eu gostaria de ser. Por isso Arendt afirma que “Também o eu é uma
espécie de amigo”.
Tudo isso que interpretei
acima é para falar dos neofascistas que não pensam e não agem muito diferente de
quem ocupou Arendt para falar de nós, os nazistas. E vou seguir falando a
partir do que disseram Sócrates e Arendt, grosso modo, bem na linguagem dos
neofascistas, pois são ignorantes no sentido de ignorar, não saber, visto que
são, na maioria absoluta, mal escolarizados, se é que realmente foram
alfabetizados.
Se você não é uma boa
pessoa, então não poderá nunca ficar a sós consigo mesmo. Estando só, por algum
momento, você terá de se deparar com o que você é e nesse momento estará
correndo riscos, sérios riscos. Se não teve uma educação para respeitar os
humanos estará sempre disposto a destruir a vida de quem não respeita. Seja
porque discorda de você, seja porque os outros possuem valores divergentes dos
seus.
E se você, sendo o que é (uma
pessoa ruim), mas até o momento não matou ninguém pelos motivos acima e, no
entanto, deixa correr solta dentro de você a vontade de matar possivelmente
poderá matar se tiver diante da possibilidade que possua todas os requisitos
possíveis para tal. E se mesmo assim não o fizer (não vier a matar ninguém)
continuará uma pessoa ruim, péssima, pois continuará pulsando dentro de você o
desejo ofegante de destruir o ser humano que ousa ser diferente de você.
Se você não foi educado
para respeitar os humanos e seus direitos coletivos e individuais, suas
escolhas coletivas e individuais, seus valores e pensamentos você tenderá a matá-lo,
estuprá-lo, sequestrá-lo, roubá-lo e, desse modo, verás quem você é. E se não
conseguir se ver como uma pessoa ruim os outros te verão assim e te denunciarão
para você mesmo.
Diante do seu outro, aquele
que você não quer ver, poderá falar assim: “Ah, mas eu nunca matei ninguém,
nunca estuprei, sequestrei, roubei”. No entanto, só há aí, entre você e quem já
fez tudo isso ou algumas dessas possibilidades, uma sutil diferença. E esta
diferença pode ser medida no nível de violência do outro para você. E não uma
diferença radical no modo de ser e de pensar.
Sendo assim, nunca fique
só diante de um bandido acostumado a não respeitar os humanos e nem a sós
consigo mesmo. Posto que o final poderá ser trágico para você.
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