Você quer reconhecer um
néscio em política? É aquele que pensa e diz que a ação governamental depende da
vontade exclusiva do político, daquele que exerce o poder.
Ele, o néscio, não entende
que cada modelo de sociedade, ao longo da história, criou um sistema político,
econômico, cultura e militar para atender às necessidades, interesses e
objetivos do grupo que ascendeu o poder. Em cada época tal grupo construiu um
conjunto de instituições para defender a perpetuação de si no poder.
Caso não fosse assim,
ainda hoje estaríamos vivendo num tipo de sociedade como os gregos políticos a
organizaram, a aristocracia. E então bastaria apenas substituir o homem
político por outro e, assim, teríamos a sociedade que gostaríamos. Bastando
para isso que o homem que exercesse o poder fizesse exatamente aquilo o que tem
de fazer procurando sempre atender às necessidades, interesses e objetivos de
TODOS os grupos sociais.
Mas nunca foi assim. E não
é assim atualmente. Essa noção tosca de que um governante não realiza todas as
ações necessárias para os outros grupos da sociedade por que não quer ou é
incompetente é apenas uma demonstração de desinformação e deformação
intelectual.
Um governante que por
acaso é originário de um grupo social para o qual o modelo de sociedade não foi
criado, pouco pode fazer em termos de ação pública para os grupos que mais
precisam de ações públicas quando está no poder. Um governante, quase sempre, é
apenas um gerente do modelo econômico e político. Pouco se consegue alterar do
modelo original. E quando se muda alguma coisa é para atualizar e adequar o
modelo às novas exigências temporais. Apenas aspectos superficiais são possíveis de
modificações. No mais, muda-se alguma coisa irrisória com a finalidade de que
tudo continue como está.
Basta estudar um pouco de
nossa história recente para constatar que aqueles governantes que tentaram
transformar aspectos essenciais do modelo social, político e econômico burguês
foram retirados do poder. Ou seja, não exerceram a função original de gerente.
Desejaram se tornar diretores. Então, nessas horas, os donos da sociedade
saíram de suas camas e fizeram a ordem social retornar ao seu eixo.
Getúlio Vargas e João Goulart
foram gerentes trabalhistas. Quando suas ações governamentais se voltaram para
atender às exigências dos trabalhadores, foram apeados do poder. Lula quase foi
apeado do poder por iniciar uma nova era de direitos trabalhistas. Dilma, que
deu continuidade ao governo trabalhista, esteve no limite da demissão porque
não queria colocar em prática o real modelo burguês. Teve de voltar atrás e
nomeou um ministro da Fazenda de confiança dos donos da sociedade e o discurso
de demissão da gerente sumiu das bocas tanto da elite como dos seus
representantes políticos.
Mas eles, os burgueses,
donos da sociedade capitalista, para quem esse modelo existe e por quem foi
construído, estão de olho na gerente. Qualquer coisa eles derrubam, demitem e
colocam alguém de confiança.
Isso tudo que eu disse, grosso
modo, pode ser dito de forma mais elaborada e detalhada, porém alguns
intelectuais possuidores de curso superior não iriam entender porra nenhuma e
continuariam a ser néscio em política como sempre foram.
O pior de tudo é que eles
se acham o máximo, mesmo sem saber de merda nenhuma, sem nunca ter prestado atenção
corretamente às aulas de História e nunca ter lido um livro de Filosofia
Política. Quando não encontram em alguém o seu reflexo, como disse “um antigo
compositor baiano”, ‘acham feio o que não é espelho’. Ou seja, se alguém não
lhe segue, então os não seguidores passam a ser detratados.
Mas, como disse o
ex-político Mão Santa, “a ignorância é audaciosa”. Não sabem que são ignorantes
e, por isso, são ignorantes duas vezes: 1º porque ignoram, não sabem de um
determinado tema. 2º porque ignoram que são ignorantes, não sabem que não sabem
do tema. E, assim, arregimentam um conjunto disparatado de crenças superficiais
e saem por aí pregando a ignorância com a convicção da verdade. E se alguém apontar
a sua ignorância este é tido por pretensioso, arrogante. Mas o que ocorreu foi apenas o desvelamento da ignorância de um néscio que acha que está sempre
certo. Mesmo que tenha faltado às aulas de História para conversar merda com
outros néscios no pátio da escola.
Um comentário:
E ae chefia, voltando à ativa não é?! Bom saber...
Rapaz, acho esse lance da ignorância interessante. Me fez lembrar uma fala do ator Dan Stulbach (aquele que está no CQC no lugar do Marcelo Taz). Ele disse que "A ignorância é feliz por natureza e a tomada de consciencia não (...) [por isso] o brasileiro anda meio triste" (http://revistatrip.uol.com.br/revista/243/paginas-negras/dan-stulbach-relembra-carreira-e-fala-sobre-politica-e-redes-sociais-a-troca-de-ideias-anda-muito-dificil.html).
Mas como se sabe, não é de interesse dos "caras" fazer com que o povo pense. Seria o mesmo que dar um tiro no pé.
Abcs,
Chico Mário Feitosa
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