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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

GUERRA MÉDICA.



Foto da Internet do corredor polonês feito por médicos brasileiros na chegada dos colegas estrangeiros.



Adolpho Lutz, Carlos Chagas, César Lattes, Oswaldo Cruz, Euryclides Zerbini, Angelita Habr-Gama, Miguel Nicolelis.

Os nomes da medicina brasileira acima deixam qualquer um de nós orgulhoso do trabalho científico que nos legaram.

Adib Jatene, Ivo Pitanguy, Roberto Kalil Filho, David Uip, Dráuzio Varela.

Já os que acabei de citar são exemplos de médicos que se dedicam ao exercício da profissão com alto grau de excelência. Sabemos disso.

Em Floriano temos vários médicos que se dedicam ao exercício da profissão de forma inteligente, capaz, estruturada e, em certo grau, bem instrumentalizada. E eles são referência de excelentes profissionais tanto na capital quanto na nossa região.

O que vejo neles todos que me levam à admiração é o fato de que fazem aquilo que gostam de fazer. E não o fazem apenas pelo status e pela renda que obtêm, mas porque é algo que os tornam felizes pela autorrealização.

Sendo assim, praticam a medicina não pela metade, mas de corpo inteiro. Quem gosta do que faz se entrega completamente. Seja qual for a profissão.

A consequência desse ato é o reconhecimento e a valorização que obtêm da sociedade.

Quem não gosta do que faz não é reconhecido e nem muito menos valorizado. O faz apenas pelo status e pelo salário. Mas nunca estará numa lista como essa que citei acima. Que não é minha, mas elaborada por academias e pelos próprios pares.

Estou falando tudo isso em virtude da guerra que alguns médicos estão travando contra o projeto do governo federal de importar médicos para trabalhar estritamente nos locais onde esses médicos que estão reclamando não querem e não aceitam trabalhar. Seja qual for a justificativa.

Eles têm todo o direito de não querer ir trabalhar nesses lugares miseráveis sem estrutura e sem instrumentos. E também, a meu ver, não podem ser obrigados a ir. É uma questão de escolha.

Mas o que justifica a agressão moral contra os médicos estrangeiros que aceitaram o convite do governo brasileiro para trabalhar especificamente nesses locais?

Não há racionalidade no ato de agressão efetuado inclusive com a formação de um corredor polonês em Fortaleza com xingamentos e expressões racistas a colegas de profissão de outra nacionalidade.

As condições que muitos profissionais médicos exercem a medicina em instituições públicas são lamentáveis. O Brasil todo sabe disso e reclama por melhorias dessas condições e construção de novas unidades para que o atendimento tenha o mínimo de dignidade.

Médicos que trabalham nessas condições reclamam com muita frequência e firmeza da falta até dos instrumentos básicos.

Já os doentes carentes em sua situação de urgência ou emergência não têm paciência para avaliar as circunstâncias e põem a culpa nos médicos pela falta de atendimento nos moldes que deve ser.

Pronto, está aí a situação explosiva que faz desencadear os desentendimentos frequentes entre as partes nas instituições públicas.

As políticas públicas que venham elevar o nível de qualidade nos atendimentos nessas instituições estão sendo providenciadas, o governo federal já as anunciou. Aqui em Floriano será construído um novo hospital, por exemplo. Mas essas políticas demoram a ser implementadas.

As providências que devem ser tomadas para que as condições de trabalho e atendimento sejam melhoradas ainda devem demorar, já que o sucateamento da saúde pública, a meu ver, é uma realidade de décadas.

Não vou levar adiante os motivos ideológicos do desmonte das instituições, pois chegaríamos a uma conclusão que gera discordância, mas que é difícil de ser negada.

Na ausência de serviços públicos de qualidade abre-se um grande mercado para as instituições privadas. E se a saúde pública fosse gratuita e de alta qualidade para todos aniquilaria as pretensões de qualquer investimento privado.

Acredito que não seja apenas incompetência dos seguidos governos federais ao longo de décadas aliado ao desinteresse político pelas necessidades desse público desarticulado.

Dito isso tudo, resta perguntar: se alguns médicos não querem e não aceitam trabalhar nos locais miseráveis e com as condições citadas o que se deve fazer com os doentes pobres e necessitados de atendimento emergencial?

Há uma grande discussão sobre a importação de trabalhadores altamente qualificados para trabalharem no Brasil. Mas é certo que muitas empresas contratam especialistas para procurarem profissionais em vários países do mundo onde são reconhecidos na formação dos profissionais desejados.

Alguns estudiosos dizem que há uma demanda de cerca de 6 milhões de profissionais de outras nacionalidades. Mas essa informação é também objeto de discussão. Leia AQUI.

Engenheiros de várias especialidades, arquitetos, profissionais da área de TI e mais outros são aguardados por aqui. As empresas privadas reclamam da demora na liberação do visto de trabalho para esses profissionais.

Não se conhece nenhuma manifestação agressiva e preconceituosa contra esses outros profissionais quando chegam ao Brasil. Não se sabe de reclamações de conselhos profissionais contra esses trabalhadores.

A guerra travada por alguns médicos tem também caráter ideológico, pois se o governo resolvesse importar outros tipos de profissionais, como os citados acima, teríamos também corredores poloneses para a chegada deles?

Acredito que sim. Mas como os importadores dos trabalhadores qualificados citados acima são as empresas privadas, então esse tipo de protesto perde o sentido ideológico. Não se sustenta e não se efetiva.

Eu defendo os direitos de minha classe profissional. Eu luto pela melhoria das condições de trabalho. Mas sou contra aqueles que não realizam seu trabalho da forma como a sociedade necessita e espera.

Espírito de corpo só é aceitável quando a defesa tem à frente uma causa nobre.

Não defendo profissional sem compromisso com sua atividade profissional, sem respeito pelos outros. Não estou ao lado de quem não trabalha e mesmo assim quer receber salário igual a quem se entrega completamente à profissão.

Acredito que todos nós queremos que a saúde pública do Brasil tenha seus problemas solucionados para que as pessoas que dela necessitam possam ter dignidade no atendimento e na cura de suas urgências e emergências.

Mas quantos de nós estamos dispostos a abrir mão de certos privilégios e interesses para olhar para quem é o principal motivo dessa guerra toda, o atendimento aos pobres?

Certamente os médicos citados no começo do texto não cultivavam ou cultivam espírito de corpo em defesa de quem só pensa em status e salário. 



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