Tela "Premonição da Guerra civil" de Salvador Dalí.
O neofascista tem uma
imagem de si que nunca foi real. Uma imagem fruto do seu conservadorismo
radical que pede o retorno dessa autoimagem diante daquilo que ele imagina ser
a negação de si, quer dizer, daquilo que é diferente de si.
Desse modo, quer retomar a
imagem que ele acredita ser a solução para toda a violência existente, pois é
nela que há a solução dos problemas. Ele não sabe, mas a sua autoimagem foi
construída como consequência de influências conceituais e decepções das ações
governamentais que deveriam garantir a sua segurança. Ele se tornou violento e
pretende resolver tudo através da violência, simbólica ou física.
Dizendo de outro jeito, o
neofascista criou uma imagem de si como sendo o referencial para tudo e para
todos. Essa imagem nunca foi concreta, mas ele acredita que qualquer coisa que
seja diferente daquilo que ele gostaria que fosse deve violentamente ser
destruída e posta em seu lugar a sua autoimagem criada. E ela não é outra coisa
senão a intolerância ao que é diferente e a pregação da violência.
Pelo fato de ter uma
autoimagem (self) irreal, apenas projetada, criada, o leva a viver, nas
palavras de Karel Kosik, num mundo de pseudoconcreticidade que é o mundo “claro-escuro
de verdade e engano”, um mundo de falsa realidade. E vivendo assim o
neofascista vive como num delírio.
Sem ter consciência de
quem ele é e por se imaginar sendo a idealização perfeita dos humanos, então o
neofascista revela essencialmente ser um ignorante, um sujeito que ignora, que não
sabe. E não é descabido dizer que ele é burro mesmo, posto que foi mal
alfabetizado e acredita que o mundo deve ser o reflexo daquilo o que ele é, ou
imagina ser. E esse mundo é descrito por estereótipos e certezas do senso
comum.
Suas convicções são
pautadas pela elite econômica e social que deseja e necessita tê-lo, o
neofascista, como soldado nessa guerra de valores e certezas. Por isso
inculca-lhe estereótipos e preconceitos para que saia por aí defendendo um
mundo imaginado, idealizado como sendo o mundo real, mas não é seu mundo e não
é o mundo ideal. Tendo em mãos tais preconceitos repete-os violentamente.
Um dos motivos que leva a
elite a elaborar preconceitos para colocar na boca do neofascista pobre ou
classe média, pois ele é, como eu já disse, mal escolarizado, é a fomentação da
desagregação de classe. A elite necessita ter o neofascista como
“quinta-coluna” para fazer o trabalho desagregador no seio da classe social a
que ele pertence. É muito comum que o neofascista não saiba a que classe
pertence. E pela porta da alienação entram ideias estranhas a seu mundo.
Estando alienado ele aceita a ideia que a sociedade é uma só e todos somos
iguais social e economicamente.
Ele, o neofascista, não
sabe que cada classe social tem suas necessidades, interesses e objetivos
específicos. Como os contingentes de pobre e de classe média são numericamente
muito superiores à elite, então lhe resta - para continuar comandando a
sociedade - que os grupos sociais subalternos (pobre e classe média) nunca, ou
quase nunca, estejam unidos. Pois na democracia burguesa é mortal para a elite
e suas pretensões dominadoras que os subalternos estejam unidos em torno das
necessidades, interesses e objetivos comuns entre eles.
No entanto, o neofascista,
que é um sujeito, por via de regra, como já disse, mal escolarizado nunca
perceberá todo esse emaranhado de complexidades. Para ele o mundo deve
continuar sendo como sempre foi, ou seja, do jeito que lhes disseram que é. Os
valores que ele assume, os preconceitos que vocifera quase nunca têm a ver com
a situação na qual vive inserido, com a sua realidade. Ele é um cego
desagregador e violento. Teve a sua animalidade aflorada para endurecer tudo o
que há de sensível nos humanos, inclusive o poder e o dever de cuidar dos seus.
Desse modo, o neofascista
não tem dúvida em desejar a morte para os seus. Não é muito raro que ele mesmo
venha a executar.
Neofascista é aquele
incapaz de perceber que seus pré-conceitos se tornaram preconceitos e que só
servem a objetivos alheios aos seus, pois todos eles foram elaborados como
conceitos pela elite.
Quanto mais integrantes
dos grupos sociais subalternos estiverem presos ou mortos menos direitos terão
a reivindicar. E quando os subalternos tiverem seus direitos negados, por
estarem presos, mais direitos sobram para a elite usá-los ao seu prazer e
objetivos. Se quiser entender de outro modo é só substituir direitos por
dinheiro que se chegará ao prazer e objetivos.
Diferente dos subalternos,
a elite já tem todos os seus direitos primários garantidos e satisfeitos.
Quantos mais jovens e
crianças subalternas morrerem ou forem presos tanto melhor. “Onde já se viu
pobre ocupar profissões, empregos e salários destinados aos ricos?”
Alguns filósofos dizem que
vemos e avaliamos o mundo com nossos olhos educados pela nossa cultura. Os
nossos olhos não nos mostram o mundo como ele é, como se fosse um espelho.
Segundo Richard Rorty “somos nós que falamos e não o mundo”. Sendo assim, o
mundo é aquilo que conseguimos dizer dele. Não há a possibilidade de
descrevê-lo exatamente como ele é.
Neste aspecto o
neofascista se trai duas vezes. Uma porque imagina que o mundo que ele idealiza
deve ser resgatado do meio dessa confusão de modificações e atualizações
progressivas dos nossos valores, o mundo deve ser conservado, daí o neofascista
ser um conservador. Duas porque nossa educação está falhando ao transmitir às
novas gerações a cultura. Dessa falha resulta o olhar torto como o neofascista
ver o mundo. Por isso eu disse acima que vemos o mundo com os olhos de nossa
cultura e temos gente vendo esse mundo de maneira torta.
Se há criminalidade
devemos buscar conhecer suas verdadeiras causas e fugir das receitas prontas,
dos estereótipos e dos preconceitos do neofascista. Pois isso tudo não nos
levará às soluções corretas de nossos problemas. Ficaremos eternamente no
âmbito da tentativa e do erro em busca das sonhadas soluções. Vamos fazendo uma
coisa, depois outra e mais outra. Diminui-se primeiro a menoridade penal, para
resolver o problema da violência e depois vamos ver se dá certo.
Por fim, por que eu disse
que os estereótipos e preconceitos do neofascista são conceitos elaborados pela
elite? Porque é aquilo que vai beneficiar a elite e prejudicar os subalternos.
O neofascista bebeu tanto
desse veneno que ficou cego pelo ódio que carrega no peito e nunca vai perceber
isso tudo. E talvez nunca venha, ele próprio, pelo menos iniciar uma caminhada
levantando hipóteses, como fiz aqui, em busca de se conhecer e conhecer o
mundo. E não é por acaso que ele se tornou um sujeito árido, tosco, desumano,
pois perdeu uma das principais características que nos torna humanos: a
sensibilidade que devemos ter para cuidar dos nossos.
P.S. (1): Em outro texto
tratarei de buscar hipóteses para me posicionar frente aos atos hediondos de
alguns adolescentes praticados contra os humanos, visto que esses tipos
violentos sejam frutos, também, dessa onda neofascista. Talvez até filhos dela.
E esses criminosos estão pondo a nossa cidade em polvorosa. Pois a partir do
que eu disse, hipoteticamente, há dois tipos de sujeitos violentos: 1 o
violento que diz que busca a solução da violência se utilizando de violência e
2 o que é violento e a pratica como forma de conseguir o que quer infringindo
dor aos humanos. Nos dois casos sobra dores para todos os lados.
P.S. (2): Recentemente a
Polícia Militar aqui em Floriano encontrou nos pertences de um adolescente
criminoso uma carta de seu pai dizendo-lhe como e o que fazer para roubar e
assaltar. O pai desse adolescente está na penitenciária. Ou seja, filho de
violento praticando violência. Será coincidência ou a exceção não é a regra?