Frei
Vicente Cardone no púlpito fazendo aquilo que mais gostava de fazer: servir aos
outros através da reliosidade. (Foto do Portal Floriano News)
“(...) Os acontecimentos
públicos são parte da textura de nossas vidas. Eles não são apenas marcos em
nossas vidas privadas, mas aquilo que formou nossas vidas, tanto privadas como
públicas.” (Eric Hobsbawm). Creio que posso acrescentar que mesmo que o
indivíduo não tenha consciência das relações entre os fatos do passado e os
atuais e que esse mesmo indivíduo não creia que está vivendo numa época
devedora das contribuições, criações, revelações, invenções, registros pessoais
e coletivos anteriormente existentes ele não percebe que direta ou
indiretamente vivenciou e é devedor de tudo o que já aconteceu.
Ele vive num momento histórico
resultante de todas as contribuições anteriores e por isso faz sentido dizer
que vive. Isto que eu disse aí é decorrente de um comentário inconsequente de um
religioso sobre a morte do Frei Vicente Cardone (88 anos) ocorrida hoje pela
manhã.
“Ele só é importante para
os católicos”, foi o comentário que ouvi. Acrescento mais uma citação, dessa vez
de um político, Mão Santa: “A ignorância é audaciosa”.
Tentando se por diferente
e afastado do mundo em que viveu Frei Vicente, o religioso audacioso a que me
refiro e motivo desse comentário, não compreende que vive numa cidade que foi
fortemente construída pela força, competência, religiosidade, solidariedade,
inteligência do Frei Vicente.
A cultura e a
religiosidade da cidade de Floriano não pode ser estudada, compreendida e
explicada sem a contribuição indelével do Frei Vicente. Sem a sua contribuição contextual
explicativa e sua própria existência laboral não podem ser ignoradas na
compreensão da história recente de nossa cidade pelo fato, nada isolado, de que
o Frei Vicente fez o que suas forças lhe permitiram fazer para que a nossa
história, bem ou mal, seja o que ela é.
Se estamos vivendo na
continuidade orgânica dessa história, então, Frei Vicente não é importante só
para os católicos. Ele é importante para todos nós, pois somos filhos dessa
história construída, também, por ele. Queiramos ou não, faleceu um dos homens
mais importantes da história de nossa cidade. Temos que reconhecer isso. É
apenas um dever consciente de reconhecimento de quem somos.
Todos nós somos o que ele
é (foi). Basta existir de tal forma que essa existência contribua para a
textura de nossa história fazendo pouco ou muito por ela.
P.S.: Certa vez o
radialista Ribamar dos Santos me convidou para fazer uma participação em seu
programa lá na Rádio Santa Clara, que era dirigida pelo Frei Vicente. Como eu
faço oposição ao ex-prefeito de Floriano, minha participação crítica foi motivo
de insatisfação por parte do antidemocrático ex-prefeito. A Rádio recebia
alguma verba publicitária da prefeitura e o Frei foi advertido pelos enviados
do ex-prefeito sobre o desejo do mesmo de que eu saísse do programa. Num sábado
cheguei bem cedo, pois minha participação era restrita a apenas esse dia da
semana, e o Frei Vicente nos chamou para uma breve reunião onde ele relatou a
situação. Como era homem destemido, ao final ele disse, “Pode descer o cacete”,
com aquele sotaque de italiano. Foi demais. Esse homem conquistou a minha
admiração naquela hora. Pena que depois tivemos de sair e fomos fazer o
programa em outra Rádio.
2 comentários:
Amigo Jair,
Concordo com você. Frei Vicente foi um extraordinário ser humano e sua contribuição para Floriano e para todos que foram influenciados pelo seu trabalho e pela sua bondade nunca foi restrita aos católicos. Será sempre uma importante referência de vida para todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo.
Renilton
Legal saber que era um homem destemido. Não o conhecia pessoalmente, mas faço votos que seu caráter reto se torne um exemplo a ser seguido.
Cordial abraço
Chico Mário
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