LOCALIZAÇÃO DE LEITORES


web site estatísticas

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

KASSIO COSTA: CRÔNICA DE UMA CIDADE FICTÍCIA.



Kassio Costa (foto do Facebook) escreveu essa crônica exclusivamente para este blogue enquanto estuda para fazer seu curso superior. Ele foi aluno do curso médio / integrado do IFPI - Floriano. 


"OS FESTEJOS DE SAMUEL FILHO


Se aprepare minha gente
Pra essa história que eu vou contar
Aconteceu em uma cidade
Cujo nome vou disfarçar
Vou chamar de Samuel Filho
Pra ninguém desconfiar

O povo desta cidade
Gosta de uma confusão
Aprontaram nos festejos
De Nossa Senhora de Assunção
Esta santa coitada
Que não se meche, nem nada
Sofreu uma humilhação

Nessa tão querida cidade, como já era de praxe, todos os anos, na mesma data, se comemorava os dias destinados à santa padroeira da cidade: Nossa Senhora de Assunção. A programação era sempre a mesma e se destrinchava durante as festas de uma maneira nada enjoativa para os habitantes dali. Tudo se desenrolava a noite, depois do fim das labutas diárias das pessoas que compunham aquele povoado.  Na igreja ocorriam as devotas orações, logo depois as pessoas se deleitavam nas suas preciosas festas dançantes. Esse ano, no entanto, o corriqueirismo de Samuel Filho foi quebrado em pedaços atômicos.

A quebra da normalidade nos festejos de Nossa Senhora de Assunção se deveu a dois fatores que, para o povo dali, não eram nem um pouco banais: a deterioração da igreja e a chegada do padre novo.

O novo pároco de Samuel Filho era visto pelo povo de lá como uma pessoa arrogante e abusada. O religioso queria fazer tudo à sua maneira, reprimindo os gostos da gente dali. Ao chegar no povoado cismou que a igreja – que ficava um pouco afastada da cidadezinha e em cima de um morro de difícil acesso – não tinha condições físicas para receber os festejos daquele ano. O padre novo resolveu, então, organizar as missas em uma escolinha da comunidade. E a população reclamou...

Esse padre tá ficando doido
O nosso festejo ele quer mudar
Se é pra reformar a igreja
Vamos! Cuidemos de reformar
A nossa gente está sentida
A nossa santa querida
Irá mudar de lugar

Como pode uma coisa dessas
Nos festejos de Assunção?
Mas que padre sem vergonha!
Mas que padre sem noção!
Mudou o costume do povo,
Ele ainda é novo
Mas já quer ter a razão

Como um ditador o padre novo foi colocando ordem na cidade. A contragosto das pessoas e a gosto do diretor da escolinha, que o admirava, mudou o altar da igreja para o pátio da escola. Com a ajuda de duas ou três pessoas deixou a escola pronta para os festejos que começariam no dia seguinte. As crianças que estudavam naquele local tiveram que conviver com aquele altar em meio ao espaço de recreação.

No dia seguinte, ao chegar na escola para rever os preparativos das missas, o padre novo se assustou. Estava tudo no seu devido lugar, exceto a imagem da santa. A estatueta que representava Nossa Senhora de Assunção desapareceu.

A notícia se espalhou logo pela cidade inteira. A pergunta era a mesma para todos os seguimentos daquela sociedade: onde está a imagem de Nossa Senhora de Assunção? Buscas foram feitas por toda a cidade. Ninguém tinha encontrado a santa. À tarde, um morador, que chegou ao padre novo e falou ofegantemente, disse que tinha encontrado a santa. Ela estava na igreja. No mesmo local onde sempre esteve. A cidade se apavorou e considerou tal fato um milagre. Para eles, Nossa Senhora de Assunção queria que as missas do festejos ocorressem na igreja.

Valei-me Nossa Senhora
Jesus Cristo Fií de Maria
Essa santa some de noite
E aparece de dia?
Um milagre isso é?
Valei-me São Tomé
Ou será que é magia?


Certamente é um milagre
Na igreja ela apareceu
Essa santa não é doida
Ela quer a igreja como eu
Festejo tem que ser lá em cima
Como já é nossa sina
Como a cidade mereceu

        Samuel Filho ficou muito agitada. Já era mesmo de costume o fato de as notícias correrem bem rápido lá. E pelo visto, quanto mais cabeluda fosse a notícia mais rápido ela corria. Em menos de duas horas toda a cidade já sabia e comentava o ocorrido. Estavam todos reunidos na igreja. Era um “zum zum zum” ensurdecedor.

Os habitantes da cidade perguntavam veementemente ao padre novo: isso foi milagre? As missas ainda vão ocorrer na escola? As missas não têm que vir pra igreja? O padre, agoniado que estava, passou a responder com arrogância.

Como que de repente surgiu o Zé Pé Inchado – Zé Pé Inchado era conhecido pela cidade como o maior bêbado de lá. Quando não estava trabalhando ou dormindo estava em um bar. Zé trabalhava na capina. A cidade dizia que ele é movido à álcool. Só trabalhava bêbado. Boa parte do dinheiro que ganhava capinando gastava com cachaça – Zé Pé Inchado se adentrou na roda de pessoas que se aglomeravam na frente da igreja. Apontou o dedo pra um senhor e falou bem alto: Foi ele! Foi ele! Eu vi! Eu tava bebendo de madrugada e vi ele pegar a santa e trazer pra cá. A cidade ficou, então, dividida. Uns acreditavam em Zé, outros não...

Eu sabia, eu sabia
Me diga como pode?
Essa santa não tem pernas
Essas pernas tem bigode
Que história sem rimar
Eu prefiro acreditar
Numa vaca mamando num bode

No milagre dessa santa
Eu sei que acredito
Eu não quero acreditar
É nesse bêbado maldito
Essa peste num viu nada
Bebeu na madrugada
Veja que milagre bonito!

E você, caro leitor?
Em que quer acreditar?
Em uma santa que fez milagre,
Ou em um bêbado a contrariar?
E pra terminar esses versos
Vou falar emersos
Que é para isso rimar."



Nenhum comentário: