José Paraguassú e Cícero da Silva (esq / dir) são
os idealizadores e executores do projeto cultural que tem a Prefeitura Municipal
de Floriano como patrocinadora.
Este ano a nossa cidade teve a
oportunidade de vivenciar e respirar cultura. Essa dimensão humana foi relegada
ao descaso nas mãos do ex-prefeito, o pior e mais incompetente da história da
cidade. Mas já estamos livres daquela chaga contaminadora.
Em 2014 viveremos novos ares na
cultura. O atual prefeito, Gilberto Junior, realizará mais ações efetivas em
outras áreas. Floriano já está se transformando numa cidade muito diferente do
caos em que se encontrava inserida.
Desejo boas festas a todos os
leitores do meu blogue. E que 2014 seja um ano novo cheio de esperanças.
O projeto cultural Florart, idealizado por José Paraguassú,
Cícero da Silva e Chico Mário, tem como objetivo básico possibilitar aos
florianenses uma chance de expressar através da arte todo o seu potencial inteligente
e criador do belo.
Na sexta-feira passada, 27.12.2013., aconteceu a última
edição deste ano, a VI. Foi no clube ARJOB no bairro Sambaíba. Seus executores
José Paraguassú e Cícero da Silva encerraram o ano de forma magistral, com
muita arte e beleza.
A beleza vai além de ornamentar a vida. Ela, a beleza, como
defendem os românticos, é uma forma de expressão dos sentimentos, das paixões. Isso
nos torna humanos. Essa comunicação é vital para nós porque precisamos
compartilhar a nossa felicidade, dor, paixão. Caso contrário enlouqueciríamos.
Para eles, os românticos, a vida seria um eterno fluxo de dor
e sofrimento. Viver, então, é o enfrentamento desse fluxo continuamente e para
suportá-lo é necessário valer-se da expressão do belo através da arte.
Sou alinhado à postura que afirma que a arte não é apenas uma
forma de fuga da vida (fluxo de dor e sofrimento) ou um ornamento que a
embeleza momentaneamente para poder ser suportada. Vejo a arte como algo mais
do que só isso. Mas vejo que se faz necessário também defini-la como uma forma
de expressão racional e inteligente dos sentimentos.
Feita e propagada dessa forma adquire um caráter de afirmação
da vida como algo que necessita ser compreendido consciente e verdadeiramente
para poder ajudar o homem a ser feliz. Mas essa felicidade não é decorrente
simplesmente da alegria fugaz que momentos breves de beleza proporcionada pela
arte podem trazer ao ser humano.
A felicidade vem, também, de uma forma consciente da
existência e da busca eterna da melhor forma de se viver. Como somos seres
racionais, então, usar a razão e a inteligência como critérios fundamentais
para essa busca do melhor modo de viver é uma atitude minimamente humana.
Elaborar e expressar os sentimentos com o suporte da
inteligência desenvolvida racionalmente é o meio mais humano de buscar a
felicidade sem fugir da vida.
A arte assim seria não uma forma de suportar a vida, mas uma
forma de vivê-la autenticamente. Pois, ressaltando, somos seres racionais,
inteligentes e para sermos entendidos como tais temos de experienciar e
expressar essas características originais através da criação e expressão da
arte.
Se o ser humano arrisca a busca da felicidade através da
expressão da arte sem elaboração inteligente se apresentará como um ser sem
autenticidade, como um ser não-verdadeiro e cairá na armadilha de encarar a
arte como uma droga momentânea que é usada como algo que lhe traga momentos de
alívio das dores da vida.
Desse modo, viver é se empanturrar continuamente de uma forma
de expressão da arte que não mostra o ser humano como possuidor de
inteligência, mas um ser petrificado, paralizado, emburrecido, embrutecido e,
portanto, não-verdadeiro porque não utiliza a inteligência como forma de elaboração
e apreciação da arte.
Aquele ser humano não-verdadeiro que se arrisca por esse
(des)caminho se vê como um ser que necessita validar a sua escolha que não é
feita a partir de critérios de valores estéticos, mas de um sentimento de
solidão perante aqueles que buscam expressar a arte com inteligência e beleza,
e, assim, formam um grande grupo à parte para dar-lhe o ar de bem-estar.
Ou seja, quem não busca ser autêntico, como ser humano, busca
um atalho para viver. E busca junto aos demais, iguais a ele, formar um grupo
significativo para não ser visto como diferente e, portanto, em situação de
falta de autenticidade. Ele busca no grupo anular a sua inautenticidade dando
ares de superioridade.
Fui a todas as edições do Florart e em algumas delas percebi um
ar angustiado em pessoas, poucas desavisadas do propósito do projeto cultural,
que reclamaram da ausência de “intérpretes” de seu estilo de música preferida.
O ar angustiado se forma no rosto de quem não se encontra no
grupo que lhe dá a falsa validação de autenticidade, revelando a sua falta de
verdade e sua falsa busca da felicidade através de atalhos.
O grupo que lhe faria não ser visto individualmente da forma
que é não existia ali e isso lhe causava a sensação de inautenticidade.
Por não querer se ver e nem ser visto como tal foge ao
encontro do grupo berrando tresloucadamente o seu estilo musical. E de tal
forma que ninguém duvide que aquilo é que é a arte verdadeira.
Essa fuga é um modo de não pensar naquilo que ele é
verdadeiramente. Pois aquilo que é verdadeiramente lhe dói em vista do
confronto inescapável com sua miséria embrutecida.
O grupo não lhe deixa enxergar-se como um bruto porque ali a
imagem que um projeta no outro é inautêntica. Todos são brutos, inautênticos, mas
passam um ar de superioridade porque são em maior número, mas não em qualidade.
Para vivenciar essa expressão do embrutecimento humano na sua
forma mais chocante basta passar pelo cais do porto lá na beira rio para ouvir
a palermice ser gritada de forma concorrente. Lá, cada um quer ser mais bruto
que o outro e precisa gritar mais alto, através de seus instrumentos de
propagação da sua brutalidade, que é o mais “feliz”.
Sou um entusiasta do Florart não porque seja objetivo do
programa cultural fazer a crítica que acabei de fazer.
Não!
A crítica é exclusivamente minha.
Gosto do Florart porque lá a gente pode se sentir e se ver
como seres humanos capazes de nos tornamos “versões melhores de nós mesmos” em
busca da autenticidade. Para isso comparamo-nos com os melhores e buscamos
criar cada vez melhor a nossa forma de expressar sentimentos e paixões com a
convicção de que assim estamos sendo seres humanos.