LOCALIZAÇÃO DE LEITORES


web site estatísticas

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

ANIMAIS SEMIDEUSES.




Quando soldados turcos derrubaram ontem um avião da Rússia que teria invadido o espaço aéreo da Turquia, um dos dois pilotos russos foi morto ainda no ar quando pairava em seu paraquedas por “soldados” da milícia turcomana Alwiya al-Ashar que lutam para derrubar o presidente da Síria, Bashar al-Assad. Essa milícia é uma espécie de Estado Islâmico quando se trata de direitos humanos e de morrer pela religião. Ou seja, são uns bárbaros.

No vídeo, “soldados” da milícia Alwiya al-Ashar apontam metralhadoras capazes de derrubar aviões na direção dos dois pilotos russos que se ejetaram do avião abatido pelas forças turcas. Nesse momento eles pairavam sobre uma região da Síria que está sob domínio dos milicianos. Um dos pilotos russos é assassinado ainda no ar. O vídeo termina com o corpo do piloto russo morto no chão e os milicianos gritando Allahu Akbar que significa “Deus é grande”. O outro piloto que também pairava em seu paraquedas conseguiu se safar e foi resgatado mais tarde pelo Exército sírio comandado por Bashar al-Assad.  

O que me interessa aqui é a questão ética envolta no ato bárbaro de matar alguém, mesmo numa guerra, sem condições de se defender.  Isto é crime de guerra e seus autores terão de ser punidos severamente. Nas convenções de Haia e Genebra que trataram sobre crimes e as condutas numa guerra, normatizaram os procedimentos e deram um aval minimamente ético numa situação que passa a existir quando parte significativa da ética já não existe mais: a guerra.  

A banalização do mal, de fala Hannah Arendt, ocupa outro espaço na mente daqueles que praticam tais atos, a meu ver. Pois quando o mal se banaliza a ponto de levar aqueles que cumprem ordens a praticarem atos bárbaros, como os soldados de Hitler, a convicção reside na compreensão de que estão cumprindo ordens, e não pensam, não discutem, não refletem sobre o que fazem, e não podem deixar de fazê-lo porque têm a responsabilidade de fazer a burocracia funcionar mesmo que ela seja uma máquina de matar inimigos. O que lhes foi ordenado será feito porque visam o cumprimento do dever e a aspiração às promoções e crescimento corporativo. Ou seja, não se sentem como praticantes do mal.

Já os fundamentalistas escondem as suas razões no lado mais escuro da mente porque pensam, refletem e discutem sobre a melhor maneira de fazer o que fazem. Não é que sejam burros, é que são conscientemente pré-determinados a fazer aquilo que têm de fazer metodicamente. Ou seja, eles sabem o mal que fazem e desejam fazê-lo cada vez mais sem banalizá-lo. E a recompensa é o paraíso supranatural. A promoção a que almejam não é dada por seu líder religioso, seu Califa. Mas por Deus.  Assim creem.

Quando o sujeito está num meio em que as regras o levam a agir violentamente, deveria agir mediado por sua moral que o poria conscientemente como capaz de decidir refletidamente sobre a melhor maneira de agir. É a saída apontada por alguns pensadores atuais.


“Não matamos vítimas indefesas... e jamais deixamos um companheiro desprotegido! Jamais! Mesmo em guerra, ainda somos homens... não animais!”, disseram Robert Kanigher e Joe Kubert. 

Os “soldados” da milícia fundamentalista islâmica síria já nos deixaram no campo solitário dos homens e foram para o campo dos animais. O nosso campo está cada dia mais se tornando menos povoado e menos sensível com a nossa condição de humanos. Eles são animais que querem ser deuses sem passar pelo caminho da humanização. 



Um comentário:

Maria disse...

Excelente texto, Jair. reflexões como essas precisamos sempre.