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da Internet.
“Não saias de ti, mas
volta para dentro de ti mesmo, a verdade habita no coração do homem”, disse Agostinho
de Hipona (354-430 d.C.). Para esse Filósofo há verdades eternas e sua fonte
não pode ser outra senão Deus. E há verdades originárias das sensações que são variáveis,
mutáveis, inconstantes. As verdades vindas das sensações não são confiáveis.
Viver corretamente, então, é seguir em busca das verdades imutáveis, eternas isso
é o que leva o homem a viver e praticar o bem, segundo ele.
“Para Santo Agostinho, a
finalidade do homem, enquanto ser racional, era a busca da Verdade, que em suas
reflexões foi definida com sendo o Verbo de Deus, portanto, fonte de
felicidade, cujo alcance era meta de perfeição para os homens”, acrescentam
Marcos Roberto Pirateli e José Joaquim Pereira Melo sobre o pensamento de
Agostinho de Hipona.
A Verdade, portanto, vem
de dentro de cada um já que Deus habita o interior ou aquilo que hoje se chama
de subjetividade. Seguindo no caminho indicado pelos pensadores citados, esse ímpeto
pela busca da verdade não decorre propriamente de uma vontade de fugir de um
mal ou para mostrar que é um homem de boa índole, mas porque vem de Deus que
está dentro de cada um. Deus, então, deseja que o humano seja verdadeiro
seguindo esse caminho indicado por Ele.
Aquele que acredita em
Deus e segue o caminho agindo de tal forma que é inerente a si mesmo decide
sempre por aquilo que o tornará um indivíduo cada vez melhor. Ou seja, buscará
sempre a Verdade. É algo próprio do homem que segue os ensinamentos de Deus e
deseja o bem ao outro e a si mesmo.
Quem deseja a morte de
outro seja porque anseia acabar com o mal, pois a fonte desse mal estaria no
outro, seja porque segue o ímpeto que está dentro de si, então, segundo a
tradição religiosa, não possui Deus dentro de si como origem de suas ações. É
uma dedução lógica inferida das premissas postas por Agostinho de Hipona.
Aquele que deseja a morte
do outro não pode argumentar a seu favor que é uma atitude correta ou verdadeira
posto que vem de sua alma, de seu interior, de sua subjetividade e, por isso,
seria algo puro. Segundo Agostinho de Hipona, a verdade que habita dentro
daquele que acredita em Deus é uma verdade originária Dele. E um dos
ensinamentos, ou verdades eternas de Deus, é “não matarás”. Sendo assim, o
desejo de matar o outro por simplesmente agir de forma inadequada ou diferente
daquela do indivíduo que deseja matar, não pode ter vindo de Deus.
Ora, aquele que crer em
Deus e procura agir deixando de lado “a Verdade de seu interior” buscando uma
alternativa, poderá argumentar que está apenas fazendo uso daquilo que
Agostinho de Hipona também defendeu: o Livre Arbítrio. Mas Agostinho diz: “Pela
livre vontade, o ser humano peca. A graça é necessária ao livre-arbítrio da
vontade humana para enfrentar eficazmente a luta contra o mal”. Então, segundo
ele, para decidir pelo bem o indivíduo tem de aceitar a ideia da iluminação da graça
divina. Decidir baseado apenas naquilo que o indivíduo entende que seja ‘o
verdadeiro’, ‘o certo’ não tem suporte em sua própria crença. Seria uma
hipocrisia.
Desejar matar é algo que vem
de dentro do indivíduo. Esse desejo, que em muitos já se manifesta como
vontade, não surge do nada como se pudesse ser antecedido pelo vazio. Nenhum
ser possui o vazio dentro de si, então ele aparece de algo a parti de si mesmo,
de algo que vindo de dentro, só pode fazer parte do indivíduo ou começou a
fazer parte dele a partir de determinada causa. E esta causa, enfim, pode ser o
fato de outro pensar, falar, gostar, andar, ser de modo diferente ou ter
valores opostos ao indivíduo que anseia matar.
Desejo é uma “potência da
alma cujo enigma cabe à razão decifrar inteiramente”, afirma Marilena Chaui
sobre a interpretação dos pensadores modernos em torno do desejo. Pode-se
seguir adiante e separar - em Filosofia - o que é desejo e o que é vontade.
Vontade seria, por conseguinte, a racionalização dos desejos. Os desejos estariam
no nível do apetite, instinto, emoções.
O neofascista deseja matar
e vocifera nas rodas de “amigos” (cúmplices) e nas redes sociais da Internet.
Mas até aí isso representa a externação de um impulso cujo objetivo é o
extermínio daquele que o neofascista julga errado, criminoso ou diferente.
Mesmo que desejar não seja o mesmo que matar, pois está apenas no âmbito do
desejo, está fazendo incitação ao crime. O que é um crime.
A seguir acrescento uma
informação didática sobre como diferenciar uma ação planejada de uma ação
efetiva. São dois tipos de ações propostas pelo autor: uma ação de nível
simbólico, planejado e a outra no nível físico, prático.
“Expressar desejos e
esperanças ou anunciar uma ação planejada podem ser formas de ação, na medida
em que tenham o propósito de atingir um determinado objetivo. Mas não devem ser
confundidas com as ações a que se referem; não são idênticas as ações que
anunciam, recomendam ou rejeitam. Ação é algo real. O que conta é o
comportamento total do homem e não sua conversa sobre ações planejadas, mas não
realizadas”, assim explica o economista Ludwig von Mises (1881-1973). Por outro
lado utilizar o discurso como forma de incitamento ao crime é crime, está no
Código de Processo Penal, Art. 286.
Até aqui temos duas
interpretações sobre como agem os humanos e mais precisamente o neofascista. A
primeira vinda de Agostinho de Hipona que coloca Deus no interior do homem e
como causa de suas ações verdadeiras e corretas, e a segunda vinda de
pensadores modernos que diferem desejo de vontade. Uma explicação pautada na fé
e a outra na razão.
Mas vamos além. Vou ousar pelo
viés da Psicologia.
Os humanos existem a
partir de uma teia de relações. Existem, portanto, uma infinidade delas. Nos
deteremos em duas que são as relações estruturais (imanentes, biológicas) e as
funcionais (aderentes, contextuais, culturais), no modo de dizer da psicóloga
Vera Felicidade de Almeida Campos (1942).
Sentir necessidade de
comida é o que leva o indivíduo a procurar alimento. É, portanto, orgânico, faz
parte das estruturas biológicas. É pré-requisito para a existência da vida
humana também. Agora, selecionar que tipo de alimento é o mais adequado nutricional,
econômica e culturalmente é funcional, aderente.
De modo análogo, o desejo
de viver é uma necessidade imanente visto que o indivíduo responsável tem que
se preservar para poder proteger a família e manter a existência dela e, assim,
perpetuar-se através de descendentes (aspecto genético). Se o indivíduo se vê
sob ameaça de ser morto por outro, nada mais elementar que diante de tal
situação extrema ele mate o agressor.
Por outro lado, é uma
relação apenas funcional quando ele coloca esse ímpeto como algo que pode ser realizado
por uma causa meramente ideológica. Está no âmbito da decisão do indivíduo,
portanto é racional, colocar essa possibilidade como factível. Agindo desse
jeito ele poderá matar ou não alguém com quem não concorda ou que, segundo ele,
tenha cometido um crime. No entanto, ele pode escolher rebater aquilo com o que
não concorda de várias outras formas que não seja pela via da violência física.
Ninguém, eticamente,
condenará o indivíduo que matou para defender-se. Pelo contrário, haverá
manifestações de amparo até mesmo daqueles que tenham fundamentos humanistas. Poderão
lamentar a situação que tenha levado um ser humano à morte. Mas essa situação limítrofe
é compreensível, sim. No entanto, matar por questões de divergência de ideias,
comportamentos, preferências, escolhas, valores é um ato desprezível, grotesco,
do tipo do indivíduo semi-humano, quase humano.
Quando não há justiça para
satisfazer minimamente a expectativa de todos cria-se as condições para que a
busca por ela seja feita para além daquilo que organizamos e normatizamos como
a justiça ideal. Ou seja, como o modo próprio de ser da justiça. Então o
indivíduo sem uma formação moral firme faz da busca por justiça algo que o leva
a agir criminosamente. Buscar por justiça, ter sede de justiça e, então, fazer
justiça a qualquer preço passa a ser aquilo o que move o indivíduo.
A falta de justiça é a
causa do desejo de fazer justiça com as próprias mãos. Sem racionalizar esse
desejo, tornando-o uma vontade, o indivíduo age cegamente. Se existisse justiça
aos moldes do que está na lei, ou seja, da maneira que se diz que deveria ser,
o indivíduo não pautaria a sua ação no desejo cego por justiça pelas próprias
mãos. Quando ele está satisfeito com a justiça e ela funciona adequada e
corretamente não faz sentido essa busca cega. Aliás, ela deixaria de existir.
Chegamos ao estágio atual
de civilidade a partir do momento que fizemos um “contrato social”. Tudo foi
sendo construído aos poucos. Segundo filósofos da antiguidade e da modernidade,
estes chamados de contratualistas, quando vivíamos no estágio que ficou conhecido
como “estado de natureza” o homem enfrentava as suas dificuldades e problemas
utilizando-se, normalmente, de seu aparato físico para impor os seus desejos.
Era o reino da pura
imanência, dos desejos, da realização individual independente dos desejos dos
outros e através da força bruta. Quanto maior a força, maior a predominância
dos desejos. Quanto mais fraco o indivíduo menos desejos e necessidades podiam
ser realizados.
É claro que o “estado de
natureza” é uma hipótese levantada para se entender como passamos a viver do
modo como vivíamos ao modo como vivemos, quer dizer, pautados em leis. Os
filósofos postularam que vivíamos desagregados e desorganizados e que a partir
de um determinado momento buscamos a vida gregária. Portanto, as ideias de civilidade,
justiça, lei, bem e mal não existiam no estado de natureza. Segundo, Thomas
Hobbes (1588-1679), predominava, nesse estágio, a “guerra de todos contra
todos”.
Nessa linha de raciocínio,
quando percebemos a necessidade de viver de forma gregária, unida, para nos
proteger das ameaças vindas de outros grupos ou animais; para nos proteger das
intempéries nos aquecendo ou para afugentar os perigos com o fogo; para
encontrar comida com mais facilidade e em quantidade; para, enfim, saciarmos
nossos desejos imanentes; resolvemos, então, nos agrupar. A partir daí
percebemos que vivendo juntos necessitávamos criar normas de convivência. Assim
criamos mecanismos para dividirmos as tarefas entre os membros do grupo. Depois
vimos que tínhamos que ter alguém para comandar o processo e por aí vai até
chegarmos onde estamos.
Quando fizemos tudo isso,
grosso modo, é claro, criamos o “contrato social”. Abrimos mão de alguns dos
nossos desejos e vontades para que outros, fazendo a mesma coisa, pudessem
também ter suas oportunidades. Desse modo, não podemos deixar de perceber que
melhorando as condições de existência melhoramos a nós mesmos, uma consequência
óbvia. Saímos das cavernas e vivemos hoje em cidades com condições muito melhores
ao que tinham na Idade Média, por exemplo.
Somos seres melhores
porque fomos capazes de criar mecanismos de organização social, econômica e
cultural cada vez mais adequados. A lei é um desses mecanismos. Se não respeitarmos
a lei estaremos deixando de lado o ser que somos e buscando o retorno à época da
subespécie que fomos quando ainda não tínhamos criado a lei para guiar as
nossas ações.
Um exemplo bem didático
que posso citar para caracterizar, grosso modo, o “contrato social” em
contraposição ao “estado de natureza” são as filas. Se hoje todos quisessem
realizar os seus desejos e as suas vontades utilizando a ferramenta do mais
forte e fossem ao balcão ao mesmo tempo, então haveria uma balbúrdia. Os mais
fortes seriam beneficiados, pois usariam da força, a sua ferramenta imanente,
para chegar lá primeiro.
No entanto vimos que
necessitávamos cuidar melhor daqueles que possuem menos força e criamos nova
regra: a ética da fila. Quem chega primeiro deve ser atendido primeiro sem
necessidade do uso da força física.
Com o passar do tempo criamos
outra lei para possibilitar aos grupos com menor vigor o direito de serem
beneficiados. Então ficou consignado que “as pessoas portadoras de deficiência,
os idosos com idade igual ou superior a 60 anos, as gestantes, as lactantes e
as pessoas acompanhadas por crianças de colo terão atendimento prioritário, nos
termos dessa lei”.
Nessa situação, o
indivíduo que está à minha frente, na fila, terá a oportunidade de ter seus
desejos e vontades respeitados por mim já que concordei que ele fosse atendido
primeiro. O que vem depois de mim teve de abrir mão de sua vontade de ser logo
atendido para que eu pudesse ter meus desejos e vontades realizados.
Todos tivemos de abrir mão
de parte dos desejos e vontades para que todos possam ter, em parte, as suas
necessidades realizadas. Fizemos esse contrato social para poder estabelecer a
melhor maneira de conviver. Mas nem sempre temos as leis e regras respeitadas
e, nesse caso, reclamamos. No entanto, essa reclamação deve se dar dentro do
contrato social e não tentar fazer o que quer o neofascista que é quebrar essa
rotina estabelecida por todos nós para ele colocar no lugar a rotina que ele
imagina ser a ideal.
Por fim, revela-se um apavorante
mau-caráter o indivíduo que diz em público que anseia ou apoia a matança de
pessoas, mesmo que criminosas. Quero distância de tipos assim por possuírem
dentro de si como instinto inerente, o desejo e a vontade de matar.
Quem garante que essa
vontade seja controlada e orientada apenas na direção dos criminosos? Se a
vontade de matar faz parte do modo de pensar e de ser dele, então não acredite
e nem tenha garantia dada por ele mesmo, que nunca pensará em lhe matar, posto
que a ânsia é cega e poderá ir na sua direção até por um motivo fútil: falta de
2 reais na hora de pagar uma conta de bar, olhar para a mulher do outro, por
estar usando um brinco, por não querer continuar bebendo com ele...
O afã é latente, está lá
pulsando e apenas por algum tempo está submisso, mas pode subitamente
manifestar-se, dependendo do autocontrole do indivíduo, e ir em sua direção. Portanto
não seja amigo ou tenha relações com quem declaradamente almeja matar seja lá
quem for como justificativa justiceira. Você poderá ser uma vitima desse tipo
que é o neofascista.
O desejo de matar, para o
neofascista, não resulta unicamente da aspiração por justiça, mas da pretensão
de impor ao outro aquilo que ele gostaria, é por esse viés que ele é
autoritário, pois nem as coisas e nem as pessoas reais são como ele deseja.
Como não tem bons argumentos para convencer, então quer se impor pela força, pela
violência.
Ele não crer na justiça e
reclama de suas falhas colocando nelas a culpa de sua ânsia de matar. Desse
jeito ele tenta confundir as pessoas. Se ele gostasse e acreditasse realmente
na justiça entraria numa luta junto aos outros para que a ela fosse justa e
ampla, não sairia por aí degradando a instituição e agindo como justiceiro.
Concluindo, deixo uma advertência:
exclua o neofascista de suas relações e o denuncie para que outros possam também
isolá-lo. O neofascista tem a pulsão de matar viva dentro dele, as pulsões,
nesse sentido, formam a identidade do indivíduo. Se ele declara publicamente
seu desejo de matar é porque é um criminoso em potencial talvez pior do que os
bandidos que ele deseja eliminar.
P.
S. 1: Se algum deles disser que eu não tenho autoridade para falar de seu comportamento
me utilizando de pressupostos religiosos porque sou agnóstico isso só revelará
mais uma faceta dele, a burrice. Para mostrar publicamente o quanto é um cara
legal ele se utiliza da religião. Ora, eu me utilizei desse pressuposto justamente
para desnudá-lo. Em suas investidas sociais, tais como ir à igreja, tenta
convencer que é de boa índole. A minha intenção é desmascarar esse tipo
acanalhado que verdadeiramente não é um seguidor da “religião do amor”, mas
apenas um farsante burro.
P. S. 2: Segundo pesquisa
de julho de 2015 da CNT em parceria com o MDA mostra o grau de confiança do
brasileiro na instituição Justiça: 10,5% confiam sempre e 24,8% não confiam
nunca.
P. S. 3: Para ver pesquisa
completa acesse clicando AQUI.
P. S.4: Não creio que
existam neofascistas inteligentes, pois esse dois termos são mutuamente excludentes.
Nenhum neofascista é inteligente e nenhum ser inteligente é neofascista. Por
isso escrevi coloquialmente, já que só assim ele irá entender. A linguagem
ordinária é cheia de imagens porque, essencialmente, o neofascista não é capaz
de abstrações. Por essa razão é que “desenhei” a sua alma.
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