Paulo Nogueira - Foto:
DCM.
A parcialidade de alguns membros da Justiça brasileira é de corar qualquer um.
Espera-se que os esquecimentos sejam involuntários. Mas o que os brasileiros querem mesmo é que todos os suspeitos sejam lembrados, investigados, acusados com direito a ampla defesa, julgados e, se condenados, presos. Sem proteção aos companheiros ideológicos, nem de direita e muito menos de esquerda.
Caso contrário a Justiça pode piorar ainda mais a sua imagem diante do país.
Leia texto do jornalista Paulo Nogueira sobre o esquisito pedido de arquivamento sobre suspeitas em relação a Aécio Never do PSDB.
“POR
QUE NÃO VAZOU ANTES O QUE YOUSSEF DISSE DE AÉCIO?
O caráter seletivamente
canalha dos vazamentos da Lava Jato ficou claro ontem com a revelação de que
Aécio tinha sido citado pelo doleiro Youssef.
Não só Aécio, a rigor, mas
a família Neves. Também uma irmã – não nomeada, mas que só pode ser Andrea,
braço direito dele – foi citada.
Youssef vinculou os irmãos
Neves a propinas da célebre Lista de Furnas – uma hidrelétrica estatal que
alegadamente abasteceu copiosamente figurões do PSDB nos tempos em que o
partido estava no poder.
A existência da lista tem sido
objeto de controvérsia. É inegável que as palavras de Youssef, se não bastaram
para Janot recomendar que Aécio fosse investigado, reforçam a hipótese de que a
lista é genuína.
Como ponderou um
jornalista, você pode avaliar a gravidade do caso com a seguinte pergunta: o
que teria ocorrido se o vazamento surgisse na campanha eleitoral?
Bem, é uma pergunta
sobretudo retórica. Todo vazamento que implicava o PT, e por consequência Dilma
e Lula, era recebido com fanfarra nas redações das grandes empresas
jornalísticas.
É difícil acreditar que
alguma delas desse acolhida a qualquer coisa que pudesse atrapalhar Aécio.
Da mesma forma, o intuito
dos responsáveis pelos vazamentos – presumivelmente os policiais federais sob o
comando do juiz Sérgio Moro – era ver Aécio na presidência.
Foi, em suma, um jogo
sujo, no qual a mídia e os vazadores se uniram para interferir nas eleições.
Vistas as coisas em
retrospectiva, é incrível que, beneficiado tanto e de forma tão espúria, Aécio
tenha conseguido perder.
Dilma ganhou contra tudo e
contra todos – e em plena crise econômica. Em situações normais, a economia
define eleições presidenciais.
Tais circunstâncias –
vazamentos criteriosamente escolhidos, ajuda maciça da mídia, economia se
arrastando – expõem a fraqueza miserável da candidatura de Aécio.
Mostram também a perda de
influência e de credibilidade da imprensa.
Aécio, segundo se fala,
escapou da lista de Janot – algo que, se confirmado, minará o prestígio do
procurador-geral na esquerda e, ao mesmo tempo, alimentará a crença de
blindagem inexpugnável dos tucanos.
Mas sua imagem de bom moço
está em frangalhos.
Aécio pode ter escapado de
Janot, mas nada haverá de tirá-lo de outra lista – a dos políticos cínicos,
mentirosos, manipuladores.
Falo dos demagogos, na
lista dos quais Aécio Neves ocupa, com todos os méritos e sobretudo deméritos,
a primeira colocação.”
Postado em 05 mar 2015 / por
: Paulo Nogueira no site Diário do Centro do Mundo (DCM).